Por
Jânsen
Leiros Jr.
"Se me cassarem, levo metade do Senado comigo."
Trecho da fala de Delcídio
do Amaral, quanto ao processo de cassação de seu mandato no Senado
Quem nunca assistiu a filmes de ação,
onde personagens acuados diante de perigos iminentes, ameaça seus eventuais
agressores com ares de quem nada tem a perder? Posso até morrer, mas vou levar muitos comigo, grita demonstrando inquestionável
disposição. Ele tenta induzi-los a desistir da agressão, pois aconteça o que acontecer,
não será sem custo para seus opositores, que ele será finalizado. Quem nunca viu cenas assim? Às vezes cola.
Pois bem, essa cena se repetiu pelos
palcos do poder, não com atores consagrados, diretores ou cenários de um mundo
de faz de conta, ainda que o faz de conta
não seja uma ideia tão distante do mundo dos políticos e governantes desse país,
não importando partido, ideologia ou mesmo berço
político.
Correndo risco de ser cassado, o
senador Delcídio do Amaral (PT-MS) deu a entender que, caso seu processo chegue
a termo e ele venha a perder seu mandato, teria informações relevantes para levar junto em processos semelhantes,
grande parte dos integrantes do Senado Federal.
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Ora, uma declaração dessa, em qualquer
país sério, onde suas instituições
são saudáveis no que se refere aos critérios de conduta e probidade, por si só
seria considerada, não apenas como uma confissão pública de culpa, uma vez que
o processo se refere a "falta de decoro parlamentar", como também provocaria
processos de investigação de todos os demais senadores. Ensejaria, no mínimo, licenciamento
de seus cargos, até que todas as veladas acusações fossem apuradas.
Já as outras tantas excelências, ainda
nesse hipotético país sério, se dignas
fossem em suas condutas, diante de tal afronta se fariam necessária e voluntariamente
auditadas, para que todas e quaisquer dúvidas que pudessem pairar sobre seus mandatos,
se tornassem publicamente esclarecidas, afirmando-se assim, a seriedade de suas
funções, e a probidade de suas intenções ao ocuparem os cargos que hora desenvolvem,
bem como a população das regiões que por eles se fazem representar.
Hipóteses e utopias, claro. Na dureza
da realidade moral que macula nossa nação, jamais veremos atitudes como essa. Na
prática e na defesa casuísta de todos os seus interesses pessoais, diante de declarada
ameaça aos cargos a que se apegam para a manutenção de suas conveniências, suas
excelências, invocando a manutenção de um estado
de direito, sairão em socorro de seus próprios favorecimentos, salvando Delcídio,
por necessidade e vício de conduta. E tudo seguirá como dantes, nesse já tão prostituído
Quartel de Abrantes.
Trocam-se os atores. Atualizam-se as falas. Mas o cenário e o espetáculo são
sempre os mesmos. Até quando?