segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Às vezes cola


Por Jânsen Leiros Jr.


"Se me cassarem, levo metade do Senado comigo."
Trecho da fala de Delcídio do Amaral, quanto ao processo de cassação de seu mandato no Senado

Quem nunca assistiu a filmes de ação, onde personagens acuados diante de perigos iminentes, ameaça seus eventuais agressores com ares de quem nada tem a perder? Posso até morrer, mas vou levar muitos comigo, grita demonstrando inquestionável disposição. Ele tenta induzi-los a desistir da agressão, pois aconteça o que acontecer, não será sem custo para seus opositores, que ele será finalizado. Quem nunca viu cenas assim? Às vezes cola.

Pois bem, essa cena se repetiu pelos palcos do poder, não com atores consagrados, diretores ou cenários de um mundo de faz de conta, ainda que o faz de conta não seja uma ideia tão distante do mundo dos políticos e governantes desse país, não importando partido, ideologia ou mesmo berço político.

Correndo risco de ser cassado, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) deu a entender que, caso seu processo chegue a termo e ele venha a perder seu mandato, teria informações relevantes para levar junto em processos semelhantes, grande parte dos integrantes do Senado Federal.

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Ora, uma declaração dessa, em qualquer país sério, onde suas instituições são saudáveis no que se refere aos critérios de conduta e probidade, por si só seria considerada, não apenas como uma confissão pública de culpa, uma vez que o processo se refere a "falta de decoro parlamentar", como também provocaria processos de investigação de todos os demais senadores. Ensejaria, no mínimo, licenciamento de seus cargos, até que todas as veladas acusações fossem apuradas.

Já as outras tantas excelências, ainda nesse hipotético país sério, se dignas fossem em suas condutas, diante de tal afronta se fariam necessária e voluntariamente auditadas, para que todas e quaisquer dúvidas que pudessem pairar sobre seus mandatos, se tornassem publicamente esclarecidas, afirmando-se assim, a seriedade de suas funções, e a probidade de suas intenções ao ocuparem os cargos que hora desenvolvem, bem como a população das regiões que por eles se fazem representar.

Hipóteses e utopias, claro. Na dureza da realidade moral que macula nossa nação, jamais veremos atitudes como essa. Na prática e na defesa casuísta de todos os seus interesses pessoais, diante de declarada ameaça aos cargos a que se apegam para a manutenção de suas conveniências, suas excelências, invocando a manutenção de um estado de direito, sairão em socorro de seus próprios favorecimentos, salvando Delcídio, por necessidade e vício de conduta. E tudo seguirá como dantes, nesse já tão prostituído Quartel de Abrantes. 

Trocam-se os atores. Atualizam-se as falas. Mas o cenário e o espetáculo são sempre os mesmos. Até quando?