domingo, 24 de março de 2019

Velha política, terríveis práticas


Por Jânsen Leiros Jr.

Quando Jesus disse que não se coloca remendo novo em tecido velho, muitos não entenderam do que falava exatamente. A aplicação se pretende entender pelo viés teológico, num contexto religioso imediato e próximo. O conceito aludido, contudo, bem se aplica a circunstâncias diversas no cotidiano humano, sempre que uma condição existente reage contra tendências de mudança de seu status quo. Trocando em miúdos, sempre que novas ideias ou modelos são apresentados a um determinado grupo, seja ele de que natureza for, há profunda resistência de seus integrantes, pois o novo sempre ameaça o conforto e as conveniências de todos os envolvidos nesse grupo.

Lembro bem que ao longo do processo eleitoral de 2018, inúmeras vezes defendemos uma total e plena renovação do congresso, pois seria necessário ao novo governo, fosse ele qual fosse, tratar com um parlamento menos comprometido com o comportamento vicioso de tornar o chefe do Executivo, refém de seus votos e de suas decisões; o exercício flagrante de uma velha política de conveniências e favorecimentos. O conhecido e absurdamente aceito modelo do toma lá dá cá. O que estamos assistindo já nesse primeiro episódio de tratamento entre Executivo e Legislativo, é exatamente o confronto entre o remendo novo e o tecido velho.

O que o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) chama de necessidade de “assumir a articulação política”, para aprovação da Reforma da Previdência, nada mais é do que a grita midiática que revela o que esperam os deputados, inclusive da base aliada: o loteamento de cargos no governo e verbas para as ações políticas de suas excelências junto às suas bases eleitorais, em troca de seus mui precisos, ilibados e resolutos votos, em favor do projeto do governo. Do contrário, como fica veladamente declarado, o presidente Jair Bolsonaro bem poderá ficar isolado politicamente, sendo-lhe impossível conduzir o país no necessário processo de recuperação da economia. Alguém aí imaginava que seria diferente?

O que se torna cada vez mais flagrante à medida que os primeiros movimentos do governo avançam, é que temos uma evidente separação entre os que torcem pela recuperação do país, os que torcem pelo fracasso do governo Jair Bolsonaro, ainda que isso traga prejuízos à nação, mas que atenda às próprias pretensões políticas, e ainda dos que já demonstram estar determinados e empenhados no esvaziamento de qualquer possibilidade de sucesso do atual governo. Compõem esse último grupo setores da grande mídia, parlamentares e partidos, e formadores de opinião, para os quais eventuais danos à nação não passam de efeitos colaterais aceitáveis, na luta pela imposição de suas ideologias. Atitudes bem republicanas e democráticas, diga-se de passagem.

Que seja! Se tais chamadas crises servirem para evidenciar passo a passo quem efetivamente trabalha para a melhoria e recuperação do país, que venham todas as que forem necessárias. Porque é melhor saber contra quem se batalha, do que caminhar junto e entrincheirar-se com os inimigos não declarados; falamos de inimigos da nação e não do governo Bolsonaro. Sim, porque quem age para manter o velho tecido esgarçado e roto, de uma política que viabilizou a sangria dos cofres públicos em favor de interesses pessoais e conveniências partidárias, não pode ser entendido como alguém que se importa com o país e com o futuro de sua gente.

O que se precisa entender de uma vez por todas, é que o voto dado a Bolsonaro por seus eleitores, não visava colocar o Jair na presidência por seus impressionantes dotes políticos. O que se pretendeu foi dar um basta à máquina de corrupção e de locupletação pessoal, a partir dos recursos públicos e das necessidades da população. Porque não se pode fechar os olhos. A tragédia nacional em setores como saúde, educação e segurança, começa no desvio das verbas que impede qualquer investimento ou manutenção de seus funcionamentos. Acha que não? Então comece a destinar o dinheiro que utiliza para pagar o plano de saúde e a mensalidade da escola dos filhos, para outras finalidades, e será possível entender claramente o que acontece em escala nacional. A corrupção é um câncer que está longe de ser debelado em nosso país.

Precisamos manter a vigilância. Não queremos mais o velho tecido, a velha política, a barganha. O país precisa de mudanças. Não importa se os partidos se acostumaram a essas práticas. Não as queremos mais. Nós, eleitores e cidadãos não as queremos mais. O poder legislativo precisa se ocupar em legislar para o bem-estar do povo. Não cabe se descolarem dos anseios da nação, como se da nação não participassem, ou a seu serviço não estivessem. Ou seriam nossos votos uma procuração em branco, para agirem livremente, ainda que para nosso próprio prejuízo?