terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Gritos e pichações - táticas de guerrilha

 Por Jânsen Leiros Jr. 
" Tentar desqualificar um oponente ideológico é o primeiro sintoma da perda do argumento e da convicção do que se defende”.
http://pensadorialimpo.blogspot.com/

Em sua coluna no jornal O Globo de 17/12/2018[1], o respeitado Demétrio Magnoli, por quem tenho razoável admiração, fez colocações claramente forçadas, na intenção de colar no juiz e futuro ministro da Justiça Sérgio Moro, o rótulo de quem se prestará a um papel de capanga de Bolsonaro no novo governo. Uma tentativa flagrante de desqualificar o ocupante do cargo, ao mesmo tempo que reduzir a importância da pasta na estrutura do Estado.

Sob o título Moro, a lei e a desordem, o colunista afirma que Ele pode assumir ministério de cabeça erguida, desde que reconheça natureza política da nova função. Na prática, Magnoli parece fazer eco à grita dos que estão apavorados com a possibilidade de terem seus malfeitos revelados, como fraturas expostas purulentas e não tratadas, porque camufladas sob o aparelhamento a que foi submetido o Estado brasileiro. A maneira como encadeia as ideias em seu artigo, dá a entender que prepara a sustentação filosófica para uma vitimização em massa, dos que temem ser alcançados pela justiça.

Primeiro, ainda que não literalmente, ele dá a entender que há uma sub-reptícia ambição política do futuro ministro, ao aceitar deixar suas funções como juiz federal de primeira instância no Paraná, e assumir a pasta da Justiça. Isso porque afirma que tanto o cargo quanto a tarefa a ser exercida por seu ocupante é eminentemente política, uma vez que atende aos interesses de governo do presidente da república. Ora, ele nem estaria errado, não se tratasse de Sérgio Moro e Jair Bolsonaro. E por que os coloco como diferenciais no argumento? Porque desde o princípio, o presidente eleito destacou que seu viés de escolha para os ministérios seria de competência técnica, e não em função de loteamento político a partidos e aliados. Sérgio Moro no Ministério da Justiça é quase que uma escolha óbvia, não apenas por notória qualificação, mas também por emblemática demonstração das pretensões do futuro governo.

“Da declaração de Moro infere-se o projeto de transformar a Lava-Jato em programa de governo, o que implicaria politizá-la”. Não, a Lava Jato não será um programa de governo, mas o combate à corrupção é, e sempre foi, um declarado programa de governo do presidente eleito, e um dos principais pilares de sua campanha. A colocação do colunista reduz assim a operação a uma ferramenta política de Bolsonaro, inferindo que, a partir de agora, tudo o que a Lava Jato vier a revelar, bem como todos os seus desdobramentos, perderão a isenção e necessária imparcialidade, tornando suspeitos todos os seus movimentos.

Mas o que o então juiz Sérgio Moro quis dizer em sua declaração de que estaria indo “consolidar os avanços da Lava Jato em Brasília”, é que, como ministro da Justiça, trabalhará para que Polícia Federal e demais órgãos ligados ao combate ao crime e à segurança pública, estejam livres das pressões daqueles que tentam fazer do Estado uma máquina a serviço de interesses pessoais ou políticos, quer sejam próprios ou de aliados. Ou alguém tem dúvida das dificuldades encontradas por PF e MPF no desenvolvimento de suas funções e operações, quando essas alcançam ou pretendem alcançar, figuras ou figurões do cenário nacional?

Não são só declarações. Moro pretende estreitar a integração entre a Polícia Federal (PF), o Ministério Público (MP) e o Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) para investigar a origem dos recursos depositados no exterior e repatriados em programas de incentivos dos governos Temer e Dilma. O futuro ministro esboça um desenho no qual sua pasta supervisionaria investigações criminais, indicando prioridades à PF, ao MP e ao Coaf. Desse monstro, só pode nascer um Estado policial: a lei a serviço da desordem.” Ora, investigar aquilo que sabidamente esconde ações ilícitas caracteriza Estado policial? Ou seria desde sempre dever de origem de um ministério, que se pretende, seja o órgão garantidor da justiça e dos interesses da nação brasileira. É óbvio que o intuito aqui, mais uma vez, é preparar conceitualmente o cenário, para mais à frente, quando das inevitáveis descobertas de desvios e de tudo o mais que vier a ser revelado, possam dizer que não passa de mero revanchismo político do futuro governo. A velha máxima de tentar desqualificar o opositor.

Moro, contudo, quer destruir o muro que isola o sistema judicial da influência do governo”. Outra grande máxima: Acuse-os do que você faz. Quem por quatorze anos, e por quantos mais não se sabe, exerceu e ainda exercerá toda sorte de influência no sistema judicial foi o PT e seus aliados. Com indicações convenientes e estratégias políticas conjuntas, os partidos então no governo, arbitraram as diretrizes das decisões judiciais, apenas tendo como desfavoráveis, aquelas em cujo clamor nacional e o peso das vaidades pessoais, falaram mais alto no foro íntimo de alguns dos agentes do processo. Na prática, mais uma fala que tenta antecipar ideologicamente a falácia futura, quando as decisões dos tribunais eventualmente condenar esse ou aquele envolvido. A justiça está a serviço de um governo revanchista, dirão a plenos pulmões.

Ou seja, o que temos nesse artigo publicado no O Globo, que sugiro que seja lido na íntegra, é uma verdadeira conceituação e um pretenso embasamento filosófico, para tentar desqualificar, desde já, tudo o que a continuidade da operação Lava Jato vier a revelar, quer a partir do que já tem investigado, quer no seu aprofundamento quando da desobstrução dos corredores por onde tramitam interesses e conchavos políticos lesivos à nação.

No fim, o que passaremos a ver com certa frequência na mídia formal e nas redes sociais, é uma batalha por nossas mentes e corações. Mais exatamente uma guerrilha, em que os derrotados nas urnas picharão os muros de nossos entendimentos com palavras de ordem, que também gritarão aos quatro cantos. Tentarão conduzir nossas consciências a contextos em que a manipulação ideológica se torna mais fácil, tentando angariar efetivo para a desejada resistência; a prática da divisão – eles e nós. Essa gente não quer um país passado a limpo, nem uma nação coesa e unida, ainda que diversa. Eles querem a manutenção da obscuridade e de tudo que mantenha um ambiente sombrio e dividido. Eles adoram muros. Porque trabalham no escuro e no secreto, já que suas verdadeiras intenções e obras seriam expostas à Luz.