sábado, 23 de abril de 2016

Declarações de arrepiar me deram medo de errar


Por Jânsen Leiros Jr.


Temer diz que não é amigo de Dilma e que não quer parecer conspirador.
“Nós não somos amigos porque ela não se considerava minha amiga”, declarou o vice.

Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/brasil/temer-diz-que-nao-amigo-de-dilma-que-nao-quer-parecer-conspirador-19144319.html#ixzz46hyIOjsu


Penso que minha posição de desconforto e indignação com o atual governo do PT não é segredo para ninguém. Por diversas razões que já declarei aqui, considero o governo Dilma, da metade do seu primeiro mandato até hoje, um dos mais desastrosos e desorientado comando que esse país já teve. A economia completamente afetada e a fragilidade política especialmente nesse segundo mandato, me fizeram tender, ainda que não muito convicto, a formar conceito favorável ao impeachment da presidente. Mas confesso que as declarações de ontem do vice-presidente Michel Temer me causaram arrepios e me deixaram muitas pulgas atrás da orelha.

Não é segredo para ninguém, que o PMDB se mantém na base aliada do governo do PT desde o primeiro mandato do então presidente Lula. E também não é segredo para ninguém, que Michel Temer há muito ocupa posição de comando e forte liderança dentro de seu partido, participando, inevitavelmente de todas as suas decisões e influenciando as escolhas e as diretrizes do partido. E sendo assim, e estando tão amplamente envolvido em indicações para ocupantes a cargos de diversos escalões do governo, tanto quanto a ministérios, como pode agora o vice-presidente querer se descolar da figura de governante, como se não tivesse qualquer responsabilidade sobre a situação em que se encontra o país, e ao mesmo tempo, surgir como uma espécie de conciliador dos interesses da nação?

Diante das declarações acima, foi inevitável pensar que talvez estejamos mesmo assistindo a uma engenhosa trama de conspiração, que visa impedir que tantos sejam alcançados pela justiça, nos diversos e promissores desdobramentos da operação Lava Jato. Não estaríamos nós todos, não obstante a legitimidade de nosso descontentamento com esse governo, servindo inocentemente de massa de manobra para esses crápulas que buscam fugir dos braços da lei e das ações do juiz Sérgio Moro? Confesso que isso passou a me incomodar muito nas últimas 48 horas.

Qualquer cidadão mais atento, e talvez mesmo o desatento, já ouviu dizer que Michel Temer teve seu nome citado em diversos depoimentos e em de delações premiadas no âmbito da operação Lava Jato. Assim como ele, diversas outras excelências, como Eduardo Cunha e Aécio Neves, entre outros, sendo o PP e não o PT, o partido com o maior número de políticos envolvidos nas apurações de corrupção e desvio de dinheiro público. Ora, por que será que a adesão dos citados ao processo de impeachment ocorreu com tanta presa após o PMDB desembarcar da base aliada do governo? Será que em todas essas manobras há indícios de casuísmo, ou eu é que estou vendo coisas? Não sei, mas ainda sinto arrepios.

Começo a temer que terminemos por legitimar a paralisação das investigações da operação da Lava Jato. Porque se algum mérito esse governo Dilma tem, foi o de efetivamente não interferir, ou pelo menos não conseguir interferir ou atrapalhar as investigações da PF e as ações do Procurador Geral da República. Mas o que esperar quando o governo for assumido por uma turma completamente implicada nas investigações, desde o eventual Presidente da República, até seu principais aliados políticos, facilitadores e sustentadores do... golpe?! Jamais pensei que acabaria dizendo uma coisa dessas, mesmo que por hipóteses.

Porque se a intenção com o impeachment é varrer do governo e do cenário político um partido que se demonstrou incompetente e corrupto, o que justificaria entregar esse mesmo governo e comando, a um grupo de políticos tão mais implicados e apontados como participantes da mesma corrupção? Não parece suspeito que haja tanta e repentina adesão a todo esse processo, exatamente dos que são citados nas delações premiadas? Qual a intenção de retirar do poder a presidente Dilma? Garantir de alguma forma a paralisação das investigações e salvar a própria pele?

Eu não sei quem é essa pessoa, ou eu nunca estive com essa pessoa, e agora nós não somos amigos. Tudo frase típica de quem tenta se descolar de alguém com quem esteve atado por interesses, quaisquer que sejam eles. Ao pretender parecer independente e não envolvido com absolutamente nenhum dos feitos desse governo, além de uma grande falácia, Michel Temer demonstra seu efetivo espírito de traição, aos laços que até bom pouco tempo lhe garantiram na posição de segundo mandatário da nação. Segundo ele sem qualquer envolvimento com a presidência, e por isso talvez não houvesse qualquer indicado do PMDB nos ministérios e nos primeiros e segundos escalões do governo. Só que não, como dizem meus filhos.

Portanto, creio que o impeachment seja inevitável. Mas começo a considerar que, se vamos sair do lodo, estamos prestes a meter os pés na lama. Que Deus tenha misericórdia desse país, e não permita que o tempo de expurgo da corrupção não esteja perto de morrer antes de efetivamente começar. Será muito ruim me arrepender de ter pretendido a coisa certa.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Um simples sinistro de Perda Total


Por Jânsen Leiros Jr.


Eu fui PT
Empunhei bandeira, colei adesivos.
Fiz campanha, fui a comícios, usei broches que eu mesmo comprei.
Sei de cor o jingles das campanhas de Lula
Me irritei com as seguidas derrotas
Gritei fora Collor, fora FHC e até fora Globo
Chamei o plano real de golpe
Falei que o “bolsa escola” era forma do governo comprar voto dos mais pobres.

Eu fui PT por que tinha que ser
Eu sou trabalhador, e não democrata, nem liberal, nem comunista
Então o partido do Trabalhador era o lugar do cara que teve que trabalhar pra pagar a faculdade, e sabia que teria que continuar trabalhando duro pra comprar sua casa, pra pagar seu carro, pagar suas viagens.

Eu fui PT por ideologia e não fisiologia.
Não ganhei um centavo, não viajei de graça, não estudei de graça, e nem acho graça nas coisas de graça.
Eu nunca achei golpe o pedido de impeachment de Collor, nem os diversos pedidos manejados contra Itamar ou FHC.
A constituição atribuiu a representantes eleitos pelo povo a função de processar e julgar o presidente, e eu acho isso extremamente democrático.

Eu fui PT
E no ano de 2002 enviei cartões de Natal aos meus queridos amigos com a frase:
“A Esperança venceu o medo!” Eu estava trabalhando na madrugada daquele natal!

Eu fui PT,
E se as redes sociais existissem naquela época, eu compartilharia textos não de Jean Wyllys, ou Jandira, por que eu li Hélio Bicudo, Cristovam Buarque, Fernando Gabeira, eles não são mais PT

Fui PT até quando deu pra ser. Até o dia que o “T”de trabalhador foi substituído pelo “T”de trapaça, de trambique. Por que não de Traição.

O partido dos trabalhadores se agarrou ao poder, e abraçou Renan, Sarney, Collor e até o Maluf, criou fantasias e contou mentiras, soltou a mão de pessoas honestas e sérias, e foi aí que deixei de ser PT.

Eu deixei de ser PT, e me surpreendo com você
Que contesta o fato de Cunha ser o condutor do impeachment
Mas jamais contestou o fato dele ser um dos elos da aliança entre o governo e o PMDB

Eu deixei de ser PT, e me decepciono com você
Que acusa Temer de ser golpista e bandido,
Mas jamais contestou o fato dele ser, desde o primeiro mandato, o vice presidente escolhido por Dilma

Eu deixei de ser PT, e me assusto com você
Que ao ouvir uma gravação não comenta o conteúdo, simplesmente afirma que escuta foi ilegal.
Que diante de uma delação pautada em provas, limita-se a falar em vazamento seletivo.
Que de frente a evidências de fraude, corrupção e tantos crimes, ataca a imprensa, a polícia e o Juiz.

Eu deixei de ser PT, e me envergonho de você
Que aplaude políticos processados, julgados e condenados que entram de punho erguidos na cadeia como se fossem vencedores e não ladrões
Que afirma que o mensalão não existiu, que não há escândalo da Petrobras, que não é dono do sítio, nem do apartamento.... Que nunca soube de nada.
Que afirma que não há crime em uma prática absolutamente ilícita só por que ela já foi feita por outros.

Eu deixei de ser PT, e me incomodo com você
Que vai as manifestações da CUT cheias de balões, camisetas vermelhas, e enormes palcos, tendas e militantes pagos, tudo custeado com dinheiro obrigatoriamente sacado dos salários de trabalhadores todos os anos com o nome de imposto sindical.

Eu deixei de ser PT, e não entendo você
Que fala em defesa da democracia, e afirma que pode ser golpe uma decisão de um congresso eleito pelo povo.
Que fala em voto livre, mas aceita a compra parlamentares com cargos e dinheiro

Eu deixei de ser partido, continuo trabalhador... e você?
por Márcio Augusto Costa; 16/04/2016; Brasília DF


Quando em rodas de amigos insisto que o maior algoz do PT foi o próprio partido, seus defensores de plantão me criticam e quase me queimam em praça pública; logicamente falo dos extremistas. Tem gente muito boa ainda no PT. Mas como defendo ardorosamente, a crítica é um direito inalienável de todo ser humano. E da mesma maneira que gosto de garantir o direito a crítica de tudo que escrevo e digo, também me dou o direito de dizer abertamente o que penso, tanto quanto me reservo ainda mais o direito de criticar a conduta de um partido político que, antes de mais nada, como entidade pública, está mesmo a mercê de toda e qualquer crítica e comentário, qualquer que seja seu teor e natureza. Não há entidade pública acima do bem e do mal. Não é sacrilégio algum criticar o PT, o PSDB, o PCdoB ou qualquer outro partido político. Grande ou mesmo os chamados nanicos.

E ao utilizar o texto acima como base desse comentário, o faço por estar muito próximo de meu pensamento muito particular sobre a anatomia da derrocada desse partido no âmbito federal, que já foi depositário das esperanças mais legítimas e dos sonhos mais genuínos da classe trabalhadora, dos menos favorecidos, das minorias, e de todas as classes que o tinham como fiel defensor de seus interesses mais básicos.

Estou convencido de que tal descida ladeira abaixo iniciou-se na perda de seus princípios básicos e de seus expoentes efetivamente pensantes, no que diz respeito a pertinência e legalidade de suas lutas. Assim trocou-se a honestidade pela conveniência, e a consistência da virtude, pelo pragmatismo de resultado. Não deve ter sido sem motivos, que de lá saíram Hélio Bicudo, Plínio de Arruda Sampaio, e tantos outros fundadores, que tinham a romântica mas legítima pretensão de criarem uma sociedade mais justa e igualitária. Nem entro aqui no mérito de suas convicções político-sociais e econômicas, pois para defendê-las é que se constituem partidos diversos.

É óbvio que oportunistas de plantão se promovem e se promoverão às custas dessa triste realidade. E tentarão e até conseguirão tomar de assalto o poder e o governo que lhes foi confiado pelo voto desde o primeiro governo do Lula. Mas fazer o quê? Pois se por um lado falta até agora um argumento mais enfático para um impedimento da presidente Dilma, sobram oportunidades e brechas deixadas pelos passos aloprados de seu quadro político, que se perdeu na ambição de saquear os cofres públicos e tudo o mais que viram pela frente. Agiram como gafanhotos que devoram uma lavoura prestes a ser colhida.

Não, eu não fui petista. Diferentemente do autor do texto acima, a única vez em que votei no PT, foi no segundo turno contra o Collor, quando este foi eleito. De lá pra cá, nunca mais votei no PT; falo para presidente. Mas sinceramente, vi com muita simpatia a vitória de Lula quando de seu primeiro mandato. Eu pensava que não poderia ser tão ruim assim, como efetivamente não foi, um governo presidido por alguém que convivera de perto com as dificuldades mais reais e prementes do povo brasileiro. E quem em sã consciência pode negar que o primeiro governo do Lula foi um tempo de bons ventos para o Brasil. nem discuto aqui condições econômicas ou políticas, pois não é esse o mote desse comentário.

É impossível não reconhecer alguns importantes ganhos sociais adquiridos nesses tempos petistas. A própria autoestima da população estava diferente e havia alegria flagrante no eleitorado que se sentia satisfeito de perpetuar no poder, aqueles que entendiam estar lutando por suas vidas e suas necessidades. Mas o encanto acabou. E os repetidamente apregoados cinquenta e quatro milhões de votos de confiança, se foram penúria abaixo, à medida que os programas sociais não conseguem ser honrados, os repasses para estados e municípios não conseguem ser realizados, e os programas de incentivo à educação deixam milhares de mensalidades em aberto e outros tantos milhares de boletos chegando nas casas de quem dependia do apoio amplamente vaticinado como conquista. Conquistas essas arrancadas pelos próprios doadores. Simplesmente não há recursos para honrar tais compromissos. Por que será??

A sensação que fica, e eu digo sensação porque longe de poder ser verdade absoluta, é que os protagonistas de toda essa farra e desmandos, tinham como impulso último, uma vingança coletiva contra uma sociedade que lá atrás, não teve forças para defendê-los, nem com eles lutarem com armas contra a direita e contra a ditadura. Porque tenho dificuldade de aceitar que apenas ganâncias os tenha motivado. Até para ela, a ganância, há limites de comportamento. Mas o sentimento de vingança é insaciável. E o desejo de criar prejuízo como paga por um remorso não tem fim.

O Partido dos Trabalhadores precisará se reinventar. Passar-se a limpo. Se ele for maior que seus componentes, ele saberá dar fim a essa era triste da perseguição aos interesses de alguns, em detrimento do bem de todos. Do contrário morrerá na história, ou será tão igual quanto esses partidos de conveniências aos quais tanto critica, ou àqueles que hoje, oportunistas e convenientes, são por seu próprio quadro chamados de golpistas.

Acredito, portanto, que pesa sobre o PT mais do que os fatos insofismáveis a que assistimos em todo o processo político e judicial recente. Para quem minimamente conhece o funcionamento de ações comerciais, sabe que as descobertas da Lava Jato não têm nada de fantasiosas. O que pesa mais sobre o PT, é a decepção dos mais de cinquenta e quatro milhões de brasileiros, que se flagraram lutando honestamente por uma causa, que talvez jamais tenha existido nas intenções sinceras de suas lideranças. Porque nunca antes na história desse país, tantos decepcionaram tão profundamente a tanta gente.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Em "homenagem a Deus", tantos delitos...

Por Jânsen Leiros Jr.

Minha filha me encaminhou essa imagem pelo facebook, e confesso que não consegui me desvencilhar da sensação incômoda de que havia muito mais por trás de sua simplicidade, do que minha vã filosofia pode perceber num primeiro momento. E mais, tendo essa imagem invadido minha tela enquanto ainda respirava atônito os ares da votação do prosseguimento do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, logo intui que havia enorme relação entre o patético teatro armado ali, e a inquietante frase contida na imagem.

Quando digo teatro armado, não me refiro à pertinência do evento dentro do processo, nem estou julgando a pertinência ou legitimidade do impeachment. Não farei desse texto fórum para isso, ainda que não deixarei de comentá-lo. Mas o que me preocupa pontualmente e me motiva aqui, foi a patética e lamentável demonstração de oportunismo, falsidade e manipulação, por parte de tantos de suas excelências, ao declararem histrionicamente em nome de Deus, em nome de Jesus, em nome dos evangélicos, e até em nome da paz em Jerusalém ou em nome da nação de Israel. Um verdadeiro show de horrores, que me pesava no coração a cada instante, e me fazia lamentar tristemente os rumos do cristianismo em nosso país.

Antes de mais nada é preciso deixar claro que nada tenho contra um político tornar-se evangélico, ou qualquer evangélico tornar-se político. Se a vocação existe e os motivos forem genuínos, penso que nada há que lhe impeça o empreendimento. E em princípio, considero até oportuno que homens transformados pelo Espírito de Deus e cheios da comunhão com o Pai estejam em condições de liderança da nação, o que em tese pode promover uma sociedade mais justa e um estado mais acolhedor e preocupado com o cidadão; principalmente e prioritariamente os mais pobres. Infelizmente, porém, não é o que acontece, nem é ao que assistimos.

É bom que eu afirme também minha total e convicta opção por um estado laico. E antes que evangeliquistas de plantão tentem vociferar em contrários, deixem-me também explicar que minha opção segue estritamente motivos práticos e de total conveniência, inclusive aos evangélicos. Primeiro porque a Constituição do país assim determina. E segundo, porque um estado laico é a mais segura condição de que nossos direitos a culto e o exercício de nossa fé evangélica, serão insofismavelmente respeitados, assim como nos cabe, pelo mesmo rigor da lei, e em nosso caso pelo rigor da ética, respeitar as convicções religiosas ou não, e a devoção de terceiros. Sim, o mesmo seguro que nos garantirá continuada liberdade religiosa e de adoração a Deus e ao seu Cristo, também e incondicionalmente, deve e precisa garantir a todos os demais cidadãos, o direito a crer e a não crer no que quer que seja. O estado laico, portanto, protege ateus, hereges, religiosos de outras convicções e fé, e até mesmo os evangélicos.

O que vemos, porém, é um desfile de atos desproporcionais e totalmente inoportunos, onde a crença se torna escudo e cobertor das mais variadas e deploráveis atitudes, camuflando conveniências pessoais e interesses escusos, que se travestem em luta pela moral e os bons costumes, pela família, e por Deus. É importante salientar que Deus não precisa de quem o defenda. Ninguém precisa se considerar guardião de sua vontade e lei, pois sua lei e vontade se vivem no coração e individualmente, e não por força de uma legislação imposta e oportunista, que decrete atitudes hipócritas como lei.

Há quem pense que a existência de uma autodenominada bancada evangélica, defenderá os interesses dos evangélicos, e funcionará como uma espécie de defesa das leis de Deus, misturando para mal testemunho, casuísmo e doutrina. Ora, será que se a participação política, ou a existência hegemônica de um poder evangélico garantisse a existência de um mundo melhor, o próprio Messias não teria se manifestado como rei político e nacional, agindo com o poder da força e da lei? não foi assim mesmo que pensaram os judeus que aguardavam a restauração do reino a Israel? Se esse fosse o caminho, o próprio Jesus o teria utilizado, tenho certeza. Tal caminho, porém, não produz qualquer transformação, senão gestos frívolos de fachada, produzidos por adestramento. É na liberdade que se aperfeiçoa o amor.

No fundo, portanto, a evocação da crença nada mais é do que a tentativa de manipular aqueles que têm algum respeito pela crença evocada, criando uma espécie de sentimento de interesse comum, que pretensamente legitimará projetos pessoais para locupletação de poucos. Estamos vivendo tempos difíceis, em que a fútil imagem de algo bom, é laureada e festejada, no lugar do que é efetivamente probo porém desprezado. As aparências são melhores que as essências, o que contraria por completo a ética do Sermão do Monte, apenas como exemplo de que a formalidade do aparente, não legitima uma mentira encoberta.

A verdade é que estamos depreciando o nome de evangélico. Assisti isso atônito durante a votação na Câmara. Confesso que quando lia textos falando mal da bancada evangélica, me tomava um sentimento de solidariedade, pensando tratar-se de mais uma implicância sem fundamento qualquer, da parte dos desafetos da fé evangélica. Mas ao assistir ao vivo e a cores as mais absurdas patetices ao palanque, não tive mais qualquer dúvida de que estamos assistindo a uma autodepreciação do nome evangélico. Houve quem profetizasse raivosamente contra a Rede Globo, num surto de ódio e segregação de princípios, como quem se coloca acima do bem e do mal. O nobre deputado espumava e lançava perdigotos, enquanto maldizia a emissora, sem considerar, sequer, as milhares de famílias que dali dependem para sobreviver, sem contar os inúmeros irmãos na fé que suam aquela camisa e lá trabalham com orgulho e dedicação a Deus. Ora, em que somos melhores de quem quer que seja? A mania que todos temos de nos acharmos um pouco messias. E ainda disse tudo em nome do Senhor Jesus. E eu tremi de zelo e temi por todos nós.

A contragosto, apenas porque de onde menos se esperava, a mais equilibrada das intervenções no tocante ao tema desse texto, veio exatamente do deputado Patrus Ananias, pasmem, do PT. Ele iniciou dizendo de sua estranheza e incômodo, com a maneira destemida e inapropriada com que tantos estavam usando o nome de Deus em vão. Seria a mula chamando advertindo Balaão? Me parece perfeita essa comparação, pois houve mesmo quem se dissesse, com seu voto, estar homenageando os mais de "cinquenta milhões de evangélicos desse país". Não discuto os números e nem vem ao caso. Mas eu pergunto: Se somos tantos comparativamente aos poucos milhões do final da década de oitenta, por que então o país não está melhor? Sim, porque lembro bem que em nossas campanhas de evangelização nacional, criamos que quanto maior fôssemos em número, melhor seria nossa sociedade. O que então deu errado? Ou o evangelho não é capaz de melhorar uma sociedade, ou nosso cristianismo não passa de um estilo de vida segregador e formador de uma tribo que se orgulha de seus poderes e da capacidade que tem de arregimentar e manipular massas.


Ora, não é legislando que se vive o evangelho. Se assim fosse não existiria a graça e as leis bastariam para uma sociedade melhor e justa. Devemos ser cartas vivas. Nós devemos ser as tábuas da lei, reflexos inequívocos de Jesus, cheios do Espírito Santo, sendo referência e influenciando a sociedade por uma novidade de vida, e não por costumes tribais impostos a fórceps ao poder da lei ou das manipulações políticas. É mais demorado? Sim, mas é pra sempre. E começa aqui, em mim. E aí em você. Depois mais ali em algum outro, e depois, e depois. Pequenos começos, que nem é mais tão pequeno assim. Mas que precisa ser, acima de tudo, legítimo e consequente.