Por Jânsen Leiros Jr.
Quando Jesus disse que não se coloca
remendo novo em tecido velho, muitos não entenderam do que falava exatamente. A
aplicação se pretende entender pelo viés teológico, num contexto religioso
imediato e próximo. O conceito aludido, contudo, bem se aplica a circunstâncias
diversas no cotidiano humano, sempre que uma condição existente reage contra
tendências de mudança de seu status quo.
Trocando em miúdos, sempre que novas ideias ou modelos são apresentados a um
determinado grupo, seja ele de que natureza for, há profunda resistência de
seus integrantes, pois o novo sempre ameaça
o conforto e as conveniências de todos os envolvidos nesse grupo.
Lembro bem que ao longo do processo
eleitoral de 2018, inúmeras vezes defendemos uma total e plena renovação do congresso,
pois seria necessário ao novo governo, fosse ele qual fosse, tratar com um
parlamento menos comprometido com o comportamento vicioso de tornar o chefe do
Executivo, refém de seus votos e de suas decisões; o exercício flagrante de uma
velha política de conveniências e favorecimentos. O conhecido e absurdamente
aceito modelo do toma lá dá cá. O que
estamos assistindo já nesse primeiro episódio de tratamento entre Executivo e
Legislativo, é exatamente o confronto entre o remendo novo e o tecido velho.
O que o presidente da Câmara dos
Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) chama de necessidade de “assumir a articulação
política”, para aprovação da Reforma da Previdência, nada mais é do que a grita
midiática que revela o que esperam os deputados, inclusive da base aliada: o
loteamento de cargos no governo e verbas para as ações políticas de suas
excelências junto às suas bases eleitorais, em troca de seus mui precisos, ilibados e resolutos
votos, em favor do projeto do governo. Do contrário, como fica veladamente
declarado, o presidente Jair Bolsonaro bem poderá ficar isolado politicamente,
sendo-lhe impossível conduzir o país no necessário processo de recuperação da
economia. Alguém aí imaginava que seria diferente?
O que se torna cada vez mais flagrante à
medida que os primeiros movimentos do governo avançam, é que temos uma evidente
separação entre os que torcem pela recuperação do país, os que torcem pelo
fracasso do governo Jair Bolsonaro, ainda que isso traga prejuízos à nação, mas
que atenda às próprias pretensões políticas, e ainda dos que já demonstram
estar determinados e empenhados no esvaziamento de qualquer possibilidade de
sucesso do atual governo. Compõem esse último grupo setores da grande mídia,
parlamentares e partidos, e formadores de opinião, para os quais eventuais
danos à nação não passam de efeitos colaterais aceitáveis, na luta pela
imposição de suas ideologias. Atitudes bem republicanas e democráticas, diga-se
de passagem.
Que seja! Se tais chamadas crises servirem para evidenciar passo a
passo quem efetivamente trabalha para a melhoria e recuperação do país, que
venham todas as que forem necessárias. Porque é melhor saber contra quem se
batalha, do que caminhar junto e entrincheirar-se com os inimigos não
declarados; falamos de inimigos da nação e não do governo Bolsonaro. Sim,
porque quem age para manter o velho tecido esgarçado e roto, de uma política
que viabilizou a sangria dos cofres públicos em favor de interesses pessoais e
conveniências partidárias, não pode ser entendido como alguém que se importa
com o país e com o futuro de sua gente.
O que se precisa entender de uma vez por
todas, é que o voto dado a Bolsonaro por seus eleitores, não visava colocar o
Jair na presidência por seus impressionantes dotes políticos. O que se
pretendeu foi dar um basta à máquina de corrupção e de locupletação pessoal, a
partir dos recursos públicos e das necessidades da população. Porque não se
pode fechar os olhos. A tragédia nacional em setores como saúde, educação e
segurança, começa no desvio das verbas que impede qualquer investimento ou
manutenção de seus funcionamentos. Acha que não? Então comece a destinar o
dinheiro que utiliza para pagar o plano de saúde e a mensalidade da escola dos
filhos, para outras finalidades, e será possível entender claramente o que
acontece em escala nacional. A corrupção é um câncer que está longe de ser
debelado em nosso país.
Precisamos manter a vigilância. Não
queremos mais o velho tecido, a velha política, a barganha. O país precisa de
mudanças. Não importa se os partidos se acostumaram a essas práticas. Não as
queremos mais. Nós, eleitores e cidadãos não as queremos mais. O poder
legislativo precisa se ocupar em legislar para o bem-estar do povo. Não cabe se
descolarem dos anseios da nação, como se da nação não participassem, ou a seu
serviço não estivessem. Ou seriam nossos votos uma procuração em branco, para
agirem livremente, ainda que para nosso próprio prejuízo?