terça-feira, 30 de agosto de 2016

Faltou falar-lhes; falha nossa


Por Jânsen Leiros Jr.


Alguém que está morrendo ou indo embora de vez... não desperdiça a despedida com assuntos triviais... e as palavras daquele que se vai expressam o que está mais forte no seu coração; o que tem mais significado é mais importante para ele.
Extraido do livro Ide e fazei discípulos – Abe Huber e Ivanildo Gomes – MDA Publicações.



Remindo o tempo; porquanto os dias são maus.
Efésios 5:16



2 Perseverai em oração, velando nela com ação de graças; 3 Orando também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou também preso; 4 Para que o manifeste, como me convém falar. 5 Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. 6 A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.
Colossenses 4:2-6


A manhã dessa segunda-feira foi de espanto e comoção. Fomos despertados com a terrível notícia de que uma família inteira, casal e dois filhos, morreram em um cenário de horrenda tragédia. Segundo análise preliminar da polícia e publicado no site do G1 logo pela manhã[1], o pai teria consumado as mortes, inclusive a sua, tornando ainda mais dramática, a cena que podia ser vista pelos vizinhos do condomínio onde moravam.

Uma carta supostamente deixada pelo pai das crianças, parece apontar para as razões que levaram aquele lar a um desfecho tão aterrorizante; o desespero de um pai de família diante de um possível revés profissional, com consequências imponderáveis. A perda do padrão de vida, e o eventual fracasso em contraste com o que acreditava ser sucesso, deve ter levado esse pai de família a temer pelo futuro dele e dos seus. E diante do pânico parece só ter encontrado uma solução. A morte de todos.

As razões podem ser outras e logo a polícia desvendará as causas reais da tragédia. Mas tais razões nem mesmo nos interessarão muito aqui nesse texto. Porque ainda que não possamos desmerecer os fatos, e nem mesmo banalizar tais perdas, o que nos deixou incrivelmente tocados, foi o quanto pode haver de pessoas ao nosso redor, desesperadas e sem quaisquer perspectivas, diante das circunstâncias sócio econômicas que atravessa nosso país.

Lembro de ter lido há alguns anos, que nos EUA, na profunda crise que atravessou aquele país na década de vinte, muitos foram os suicídios de empresários e homens de negócio, que acreditavam ter chegado ao mais fundo do poço em que se viam mergulhados, sem divisar qualquer possibilidade de volta. Diante de tal desespero davam cabo da própria vida.

Pensem. O que temos de comum nesses dois casos? A desesperança. A falta de um conforto trazido pelo descanso de se viver firmado numa Rocha que não pode ser abalada. Faltou a convicção dos que caminham certos do que lhes espera logo ali, os quais andam por fé e não por vista. Faltou falar-lhes de Cristo. Que falha!

Ora, ...naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo[2]. Paulo faz uma ligação direta entre a esperança e Deus. Ou seja, ele entende que sem Deus não há esperança. Logo, podemos concluir que a falta de esperança obviamente decorre de uma vida sem Deus, sem exercício de fé, sem entrega, e que, portanto, é uma vida que não desfruta do descanso e da confiança no cuidado e na providência divina.

Entre os diversos comentários que li sobre o caso ao longo do dia, li estupefato alguns posts de quem friamente partilhava suas crueldades religiosas com frases como viu o que dá não viver pra Jesus? Ou ainda, esse é o fim dos que não acreditam em Deus. Esse tipo de religioso crê que tamanho farisaísmo o livra da responsabilidade ou do sangue dessa gente[3]. Pois não foi sem razão que Paulo diz na Carta aos Romanos como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?[4] E eu pergunto, onde estão os que não pregam?

O mundo agoniza. Os dias são maus diz Paulo em Efésios. O mundo jaz no maligno[5], e nós, o que fazemos? É preciso remir o tempo. Viver com sentido de urgência. Pregar com sentido de urgência, como se vivêssemos os últimos dias. A igreja primitiva fazia assim pois aguardava a volta de Jesus para imediatamente já. Mas nós o aguardamos para depois da morte, e para depois de conquistarmos tudo com o que sonhamos. Queremos a volta de Jesus, desde que isso não atrapalhe nossos planos.

Precisamos remir o tempo. Pregar a palavra a tempo e fora de tempo, redarguindo, repreendendo, exortando, com toda a longanimidade e doutrina[6]. Ide por todo mundo. Ide até os confins da terra, mas ide também no vizinho, no colega de trabalho. Ide no porteiro do prédio e no motorista do ônibus. Ide por todo o mundo, ide em todo mundo.

Se as nações estão em trevas, onde está a luz? Se perderam o sabor, quem lhes pode salgar[7]? Ou vivemos um evangelho de verdade, com pregação e testemunho contundente e constante, ou a desesperança grassará por muitas outras famílias, matará muitos outros corações, e continuará nos deixando com a desconfortável sensação de que poderíamos ter evitado a tragédia, caso seguíssemos com empenho e dedicação, a carreira que nos está proposta[8].


[1] "O que se sabe é que a mulher da vítima estava com cortes no pescoço, morta na cama. Os dois filhos e o homem estavam caídos no vão da piscina. As informações iniciais obtidas no local do crime apontam uma suspeita inicial de que ele teria matado a mulher com golpes de faca, jogado as duas crianças e depois se jogado. Mas não descartamos outras linhas", explicou o delegado.
[2] Efésios 2:12
[3] Ezequiel 3:17-20
[4] Romanos 10:14
[5] 1 João 5:19
[6] 2 Timóteo 4:2
[7] Mateus 5:13
[8] Hebreus 12:1

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Corpos deficientes e corações perfeitos; a fé que se vê


Por Jânsen Leiros Jr.


"O que transforma uma pessoa comum em herói é a superação; física ou espiritual. Herói sobre si mesmo para alegria de muitos."
JLjr


Passada a euforia de recebermos em nossa cidade os principais e mais laureados atletas do mundo, aguardamos o início das Paralimpíadas, evento esportivo que reúne outros tantos atletas, também de diversos países, que competem em inúmeras categorias adaptadas para suas variadas deficiências.

Confesso que, em princípio, não imaginava que tal evento pudesse ganhar tanto brilho e público quanto ganharam as Olimpíadas. Afinal disputar audiência e público com Michael Phelps, Usain Bolt e Simone Biles, entre outros, não é tarefa fácil para ninguém. Mas começo a perceber, feliz da vida, que posso estar redondamente enganado. Num país em que seu povo se orgulha de não desistir nunca, a superação é sem sombra de dúvida a mais alegre e motivadora conquista. Ela nos diz diariamente que é possível.

Independentemente dos resultados que cada atleta conquistar na categoria em que disputa, sua participação já é, por si só, uma imensa demonstração de garra e determinação. É a vitória sobre a auto piedade e sobre o sentimento de incapacidade de dar a volta por cima e vivenciar novas possibilidades. É a declaração clara de que não se aceitou ser vencido pelas circunstâncias.

Ora, esses seres humanos, que bem poderiam ser chamados de super-humanos, nos lançam em rosto que nossas fragilidades e coitadices não passam de afetações menores e plenamente superáveis, uma vez que não deficientes fisicamente, poderíamos nos empenhar em cuidar de nossas realidades e circunstâncias, como realmente são em sua maioria; finitas e solucionáveis, e não perenes e insolúveis.

Devemos assistirmos a essas exibições de superação do aparentemente impossível, como a realização plena de uma fé prática; o exercício extremo da convicção de que é possível ainda que improvável. Afinal, estamos acostumados a vivenciar o cuidado de Deus que transforma o caos em ordem. 

Que esses superatletas nos falem com seus feitos, e que suas mensagens nos inspirem em confiança e coragem, com louvor e adoração a Deus.

sábado, 20 de agosto de 2016

Enfim o fim da espera


Por Jânsen Leiros Jr.


Brilhou o ouro! Nos pênaltis, Brasil vence Alemanha e conquista medalha inédita. Após empate em 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação, seleção olímpica conta com defesa de Weverton e 100% de aproveitamento nas cobranças para vencer.
G1 – 20/08/2016.


Enfim o tão sonhado e esperado Ouro Olímpico no Futebol. O título que faltava à seleção do país do futebol. Um contrassenso que insistia em nos fazer sentir fracassados no esporte em que somos os maiores campeões mundiais. Ou será que esse sentimento é que era uma enorme incoerência, já que um único título a menos numa parede repleta de conquistas, não deveria nos fazer tanta falta assim. Ou deveria? Não importa também; somos campeões olímpicos e o mundo vai ter que nos aturar. Continuamos a ser o país do futebol, mas também sendo o da Canoagem, da Vela, do Box, do Tiro, do Vôlei de Praia e Vôlei de Quadra, e de tantos outros esportes em que brilhamos, ainda que sem apoio, patrocínio ou atenção de qualquer instituição.

Mas a Rio 2016 não trouxe somente essas conquistas, quer sejam douradas, prateadas ou bronzeadas. Há outras conquistas e grandes feitos, que ficarão como legado desses Jogos Olímpicos, e não estamos falando de ginásios, estádios e das obras e soluções de transporte público realizadas para essa finalidade. A apenas um dia do encerramento do maior evento esportivo do planeta, o maior legado deixado para a cidade do Rio e para o Brasil, foi a recuperação da autoestima de um povo que, até bem pouco tempo, envergonhava-se das condições sócio econômicas e políticas que vinha vivendo.

Uai, mas alguma coisa mudou? Houve inclusão social, melhoria da qualidade de vida dos mais necessitados, aumento da oferta de empregos, aumento do PIB nacional, ou redução dos casos de políticos corruptos e empresários corruptores? Não, claro que não. Nossas condições sociais, econômicas e políticas não mudaram nesses quase dezoito dias de evento. Mas uma coisa mudou e mudou flagrantemente. Recuperamos o orgulho de ser carioca, e o prazer de ser brasileiro.

Em virtude de tudo que vínhamos vivenciando nos meses que antecederam aos Jogos, o próprio evento foi cercado de pessimismo incontestável. Todos nós críamos que passaríamos uma vergonha mundial, com problemas que ocorreriam desde a organização do evento, até o péssimo estado de acabamento das instalações disponíveis aos atletas e comissões técnicas. E a poucos dias da abertura, já com na chegada das delegações, incidentes como o ocorrido com a delegação da Austrália serviu-nos de prenúncio de um grande fracasso do evento. Para quase todos nós, anunciava-se um grande fiasco.

Bastou, porém, que a cerimônia de abertura fosse considerada um sucesso pela mídia mundo afora, para todos os maus presságios fossem abandonados, sendo trocados por um orgulhoso sentimento de que sabemos fazer festa como ninguém. E não é mesmo que a cerimônia de abertura foi um espetáculo de criatividade e realização? A partir de então, a má vontade com o evento foi trocada por uma simpatia incansável com tudo que se referia ou se sofria em função da Rio 2016. Sim, porque nós cariocas, que tivemos a cidade virada de cabeça para baixo, causando-nos diversos transtornos em nossa rotina, aturamos quase tudo com bom humor e paciência. Afinal, estávamos com visitas em casa. Segurança reforçada, e um excelente sincronismo apresentado pelo comitê responsável pela realização dos jogos, minimizaram o desconforto ao nível do aceitável. E, quase no final, podemos dizer que tudo acabou bem. Muito bem!

E aí está o que entendo ser um dos nossos maiores legados do evento; agora sabemos que sabemos fazer. E não estamos falando de festas ou cerimônias. Estamos falando de tudo o que envolveu a realização dos Jogos. Brasileiro quando quer faz, está mais que provado. Quando quer se esforça e luta. Se perde, perde lutando. Se se empenha, vence. E por mais improvável que seja, pode chegar ao lugar mais alto do pódium. Nosso quadro de medalhas está repleto de exemplos disso; empenho, determinação e superação.

Mas não falo só de medalhas. A segurança pública nesses dias não foi exemplar? O cuidado do cidadão em manter a cidade limpa, de ser atencioso com turistas, de respeitar faixas exclusivas... Não correu tudo bem? E por que então não funcionam assim fora do evento, uma vez que o mesmo povo que realizou e vivenciou os dezoito dias dos Jogos, é o mesmo que vive os 365 dias do ano, numa cidade caótica e insegura? Nós sabemos fazer; quando queremos. Nossa autoestima esteve tão em alta, que sequer aceitamos a mentira mal contada pelo nadador norte-americano sobre assalto; aqui não! Mais do que rechaçarmos a mentira sobre um fato, não aceitamos ser vítimas de nossa própria fama de cidade perigosa. Afinal, de certa forma sabíamos que não seria possível tal acontecimento. Não durante as Olimpíadas do Rio.

E não bastasse acender a chama de nosso orgulho carioca e também brasileiro, com o fogo da pira olímpica, mais essa agora; campeões olímpicos no futebol, o título que nos faltava, coroando nosso esforço de realizadores dessa festa esportiva monumental. Coroando e apontando para nossa capacidade de fazer, desde que queiramos. Talvez nos faltasse isso, querer. Querer requer fazer. Tirar do papel, dar vida ao sonho. Querer requer empenho em tornar real aquilo que se pretende. Quisemos, e se quisemos podemos querer outras inúmeras vezes. Bastará querermos.

Acredito que a partir de agora, precisaremos discordar com veemência toda vez que frases derrotistas forem pronunciadas perto de nós, como aqui é Brasil, esse pais não tem jeito, tudo no Brasil acaba em samba (ou em pizza), entre outras, sempre passando a ideia de que nosso país não tem jeito. Porque vimos que tem. Vimos que sabemos e conhecemos o caminho. Sabemos como. O que nos falta como nação é vontade. Vontade de fazer diferente, vontade de fazer melhor, empenho para realizar além. Parece que tínhamos medo do sucesso. Mas agora não mais. Realizamos um evento extremamente bem-sucedido.

Não espero que a mudança de atitude venha dos políticos. Eles jamais mudarão o que lhes convém. Não espero tão pouco de governantes. Estão preocupados demais com privilégios e vantagens que lhes garantam perenidade no controle do dinheiro público. Mas espero que a mudança comece em cada cidadão, em cada profissional e em cada empresário. A sociedade precisará questionar-se sobre o por que não é o que fomos por esse tempo. Podemos ter melhores transporte, melhores condições de saúde. Podemos viver com mais segurança e termos uma cidade mais agradável. Sabemos e podemos lutar por essas coisas. Sobretudo sabemos como realizar coisas assim tão grandiosas. 

Não precisamos mais achar que nadamos, nadamos e morremos na praia. Não precisamos mais achar que determinadas conquistas não foram feitas para nós. Somos Ouro, somos olímpicos. Soubemos fazer direito. Não precisamos mais ser o patinho feio. Saberemos ser campeões. Que Deus abençoe nossa cidade do Rio de Janeiro. Que Deus abençoe o Brasil.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Série Grãos de Mostarda; Quem teme, foge


"Há muita gente pensando de si mesma muito mais do que é. Muito mais correto, muito mais capaz e até muito mais santo ou resistente ao mal. Quem se conhece na verdade de suas carências, sabe que está longe de ser pleno de suas possibilidades. E assim não se coloca à prova naquilo que seria grande risco para sua alma. Quem sobriamente se oferta a um teste de resistência, naquilo que não pode suportar?

Por isso, teme a Deus e aparta-se do mal. Fuja, corra, saia de perto e evite. A ideia é mesmo não se colocar à prova, achando-se capaz de resistir. Uma coisa é surgir a tentação, outra coisa é procurar pela sedução. Afinal, promete o sábio, isso pode nos manter puros e sem mácula; saúde para a carne, revigorando em nós aquilo que nos sustenta a estrutura; refrigério para os ossos. Quem teme ao Senhor não se dá a seduzir. Não se oferece à tentação. Não testa Deus.

E por que não?..."

Jânsen Leiros Júnior

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Série Grãos de Mostarda; Regando sempre


"Generosidade parece tema recorrente na Bíblia. Dar com alegria e não reter o que se tem ou se produz, se repetem e se alternam com roupagens diferentes, mas com a mesma essência e pertinência. A generosidade, porém, não é uma atitude fundamental, mas consequente; é uma tradução efetiva do que acontece antes na alma. É, na verdade, um exercício de fé.

Porque reter é pretender-se a garantias de estoque e provisão, que apenas provocam uma falsa sensação de segurança. Jesus alerta ao tolo: louco hoje te pedirão a tua alma, e o que tens guardado para quem será? Ora, se Deus nos usa como canal de bênçãos, a única forma de seguir sendo cheios é deixar as portas desse canal abertas; para entrar precisa antes sair, assim como para encher mais é preciso esvaziar primeiro. E isso é para tudo.

E por que não?..."

Jânsen Leiros Júnior