Por Jânsen Leiros Jr.
Temer diz que
não é amigo de Dilma e que não quer parecer conspirador.
“Nós não somos
amigos porque ela não se considerava minha amiga”, declarou o vice.
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http://extra.globo.com/noticias/brasil/temer-diz-que-nao-amigo-de-dilma-que-nao-quer-parecer-conspirador-19144319.html#ixzz46hyIOjsu
Penso que minha posição de desconforto
e indignação com o atual governo do PT não é segredo para ninguém. Por diversas
razões que já declarei aqui, considero o governo Dilma, da metade do seu
primeiro mandato até hoje, um dos mais desastrosos e desorientado comando que
esse país já teve. A economia completamente afetada e a fragilidade política especialmente
nesse segundo mandato, me fizeram tender, ainda que não muito convicto, a
formar conceito favorável ao impeachment da presidente. Mas confesso que as
declarações de ontem do vice-presidente Michel Temer me causaram arrepios e me
deixaram muitas pulgas atrás da orelha.
Não é segredo para ninguém, que o PMDB
se mantém na base aliada do governo do PT desde o primeiro mandato do então
presidente Lula. E também não é segredo para ninguém, que Michel Temer há muito
ocupa posição de comando e forte liderança dentro de seu partido, participando,
inevitavelmente de todas as suas decisões e influenciando as escolhas e as
diretrizes do partido. E sendo assim, e estando tão amplamente envolvido em
indicações para ocupantes a cargos de diversos escalões do governo, tanto
quanto a ministérios, como pode agora o vice-presidente querer se descolar da
figura de governante, como se não tivesse qualquer responsabilidade sobre a
situação em que se encontra o país, e ao mesmo tempo, surgir como uma espécie
de conciliador dos interesses da nação?
Diante das declarações acima, foi
inevitável pensar que talvez estejamos mesmo assistindo a uma engenhosa trama
de conspiração, que visa impedir que tantos sejam alcançados pela justiça, nos
diversos e promissores desdobramentos da operação Lava Jato. Não estaríamos nós
todos, não obstante a legitimidade de nosso descontentamento com esse governo,
servindo inocentemente de massa de manobra para esses crápulas que buscam fugir
dos braços da lei e das ações do juiz Sérgio Moro? Confesso que isso passou a
me incomodar muito nas últimas 48 horas.
Qualquer cidadão mais atento, e talvez
mesmo o desatento, já ouviu dizer que Michel Temer teve seu nome citado em
diversos depoimentos e em de delações premiadas no âmbito da operação Lava
Jato. Assim como ele, diversas outras excelências,
como Eduardo Cunha e Aécio Neves, entre outros, sendo o PP e não o PT, o partido
com o maior número de políticos envolvidos nas apurações de corrupção e desvio
de dinheiro público. Ora, por que será que a adesão dos citados ao processo de
impeachment ocorreu com tanta presa após o PMDB desembarcar da base aliada do governo? Será que em todas essas
manobras há indícios de casuísmo, ou eu é que estou vendo coisas? Não sei, mas ainda
sinto arrepios.
Começo a temer que terminemos por
legitimar a paralisação das investigações da operação da Lava Jato. Porque se
algum mérito esse governo Dilma tem, foi o de efetivamente não interferir, ou
pelo menos não conseguir interferir ou atrapalhar as investigações da PF e as
ações do Procurador Geral da República. Mas o que esperar quando o governo for
assumido por uma turma completamente implicada nas investigações, desde o
eventual Presidente da República, até seu principais aliados políticos,
facilitadores e sustentadores do... golpe?! Jamais pensei que acabaria dizendo
uma coisa dessas, mesmo que por hipóteses.
Porque se a intenção com o impeachment
é varrer do governo e do cenário político um partido que se demonstrou
incompetente e corrupto, o que justificaria entregar esse mesmo governo e
comando, a um grupo de políticos tão mais implicados e apontados como
participantes da mesma corrupção? Não parece suspeito que haja tanta e repentina
adesão a todo esse processo, exatamente dos que são citados nas delações
premiadas? Qual a intenção de retirar do poder a presidente Dilma? Garantir de
alguma forma a paralisação das investigações e salvar a própria pele?
Eu
não sei quem é essa pessoa, ou eu nunca estive com essa pessoa, e agora nós não somos amigos. Tudo frase típica de quem tenta se descolar
de alguém com quem esteve atado por interesses, quaisquer que sejam eles. Ao
pretender parecer independente e não envolvido com absolutamente nenhum dos
feitos desse governo, além de uma grande falácia, Michel Temer demonstra seu
efetivo espírito de traição, aos
laços que até bom pouco tempo lhe garantiram na posição de segundo mandatário
da nação. Segundo ele sem qualquer
envolvimento com a presidência, e por isso talvez não houvesse qualquer indicado do PMDB nos ministérios e nos
primeiros e segundos escalões do governo. Só que não, como dizem meus filhos.
Portanto, creio que o impeachment seja
inevitável. Mas começo a considerar que, se vamos sair do lodo, estamos prestes
a meter os pés na lama. Que Deus tenha misericórdia desse país, e não permita
que o tempo de expurgo da corrupção não esteja perto de morrer antes de efetivamente
começar. Será muito ruim me arrepender de ter pretendido a coisa certa.