Por Jânsen Leiros Jr.
Eu fui PT
Empunhei
bandeira, colei adesivos.
Fiz campanha,
fui a comícios, usei broches que eu mesmo comprei.
Sei de cor o jingles
das campanhas de Lula
Me irritei com
as seguidas derrotas
Gritei fora
Collor, fora FHC e até fora Globo
Chamei o plano
real de golpe
Falei que o
“bolsa escola” era forma do governo comprar voto dos mais pobres.
Eu fui PT por
que tinha que ser
Eu sou
trabalhador, e não democrata, nem liberal, nem comunista
Então o partido
do Trabalhador era o lugar do cara que teve que trabalhar pra pagar a
faculdade, e sabia que teria que continuar trabalhando duro pra comprar sua
casa, pra pagar seu carro, pagar suas viagens.
Eu fui PT por
ideologia e não fisiologia.
Não ganhei um
centavo, não viajei de graça, não estudei de graça, e nem acho graça nas coisas
de graça.
Eu nunca achei
golpe o pedido de impeachment de Collor, nem os diversos pedidos manejados
contra Itamar ou FHC.
A constituição
atribuiu a representantes eleitos pelo povo a função de processar e julgar o
presidente, e eu acho isso extremamente democrático.
Eu fui PT
E no ano de
2002 enviei cartões de Natal aos meus queridos amigos com a frase:
“A Esperança
venceu o medo!” Eu estava trabalhando na madrugada daquele natal!
Eu fui PT,
E se as redes
sociais existissem naquela época, eu compartilharia textos não de Jean Wyllys,
ou Jandira, por que eu li Hélio Bicudo, Cristovam Buarque, Fernando Gabeira,
eles não são mais PT
Fui PT até
quando deu pra ser. Até o dia que o “T”de trabalhador foi substituído pelo
“T”de trapaça, de trambique. Por que não de Traição.
O partido dos
trabalhadores se agarrou ao poder, e abraçou Renan, Sarney, Collor e até o Maluf,
criou fantasias e contou mentiras, soltou a mão de pessoas honestas e sérias, e
foi aí que deixei de ser PT.
Eu deixei de
ser PT, e me surpreendo com você
Que contesta o
fato de Cunha ser o condutor do impeachment
Mas jamais
contestou o fato dele ser um dos elos da aliança entre o governo e o PMDB
Eu deixei de
ser PT, e me decepciono com você
Que acusa Temer
de ser golpista e bandido,
Mas jamais
contestou o fato dele ser, desde o primeiro mandato, o vice presidente
escolhido por Dilma
Eu deixei de ser
PT, e me assusto com você
Que ao ouvir
uma gravação não comenta o conteúdo, simplesmente afirma que escuta foi ilegal.
Que diante de
uma delação pautada em provas, limita-se a falar em vazamento seletivo.
Que de frente a
evidências de fraude, corrupção e tantos crimes, ataca a imprensa, a polícia e
o Juiz.
Eu deixei de
ser PT, e me envergonho de você
Que aplaude
políticos processados, julgados e condenados que entram de punho erguidos na
cadeia como se fossem vencedores e não ladrões
Que afirma que
o mensalão não existiu, que não há escândalo da Petrobras, que não é dono do
sítio, nem do apartamento.... Que nunca soube de nada.
Que afirma que
não há crime em uma prática absolutamente ilícita só por que ela já foi feita
por outros.
Que vai as
manifestações da CUT cheias de balões, camisetas vermelhas, e enormes palcos,
tendas e militantes pagos, tudo custeado com dinheiro obrigatoriamente sacado
dos salários de trabalhadores todos os anos com o nome de imposto sindical.
Eu deixei de
ser PT, e não entendo você
Que fala em
defesa da democracia, e afirma que pode ser golpe uma decisão de um congresso
eleito pelo povo.
Que fala em
voto livre, mas aceita a compra parlamentares com cargos e dinheiro
Eu deixei de
ser partido, continuo trabalhador... e você?
por Márcio
Augusto Costa; 16/04/2016; Brasília DF
Quando em rodas de amigos insisto que
o maior algoz do PT foi o próprio partido, seus defensores de plantão me
criticam e quase me queimam em praça pública; logicamente falo dos extremistas.
Tem gente muito boa ainda no PT. Mas como defendo ardorosamente, a crítica é um
direito inalienável de todo ser humano. E da mesma maneira que gosto de
garantir o direito a crítica de tudo que escrevo e digo, também me dou o
direito de dizer abertamente o que penso, tanto quanto me reservo ainda mais o
direito de criticar a conduta de um partido político que, antes de mais nada,
como entidade pública, está mesmo a mercê de toda e qualquer crítica e comentário,
qualquer que seja seu teor e natureza. Não há entidade pública acima do bem e
do mal. Não é sacrilégio algum criticar o PT, o PSDB, o PCdoB ou qualquer outro
partido político. Grande ou mesmo os chamados nanicos.
E ao utilizar o texto acima como base
desse comentário, o faço por estar muito próximo de meu pensamento muito particular
sobre a anatomia da derrocada desse partido no âmbito federal, que já foi
depositário das esperanças mais legítimas e dos sonhos mais genuínos da classe
trabalhadora, dos menos favorecidos, das minorias, e de todas as classes que o
tinham como fiel defensor de seus interesses mais básicos.
Estou convencido de que tal descida
ladeira abaixo iniciou-se na perda de seus princípios básicos e de seus
expoentes efetivamente pensantes, no que diz respeito a pertinência e
legalidade de suas lutas. Assim trocou-se a honestidade pela conveniência, e a
consistência da virtude, pelo pragmatismo de resultado. Não deve ter sido sem
motivos, que de lá saíram Hélio Bicudo, Plínio de Arruda Sampaio, e tantos
outros fundadores, que tinham a romântica mas legítima pretensão de criarem uma
sociedade mais justa e igualitária. Nem entro aqui no mérito de suas convicções
político-sociais e econômicas, pois para defendê-las é que se constituem
partidos diversos.
É óbvio que oportunistas de plantão se
promovem e se promoverão às custas dessa triste realidade. E tentarão e até
conseguirão tomar de assalto o poder e o governo que lhes foi confiado pelo
voto desde o primeiro governo do Lula. Mas fazer o quê? Pois se por um lado
falta até agora um argumento mais enfático para um impedimento da presidente
Dilma, sobram oportunidades e brechas deixadas pelos passos aloprados de seu quadro político, que se
perdeu na ambição de saquear os cofres públicos e tudo o mais que viram pela
frente. Agiram como gafanhotos que devoram uma lavoura prestes a ser colhida.
Não, eu não fui petista.
Diferentemente do autor do texto acima, a única vez em que votei no PT, foi no
segundo turno contra o Collor, quando este foi eleito. De lá pra cá, nunca mais
votei no PT; falo para presidente. Mas sinceramente, vi com muita simpatia a
vitória de Lula quando de seu primeiro mandato. Eu pensava que não poderia ser
tão ruim assim, como efetivamente não foi, um governo presidido por alguém que
convivera de perto com as dificuldades mais reais e prementes do povo brasileiro.
E quem em sã consciência pode negar que o primeiro governo do Lula foi um tempo
de bons ventos para o Brasil. nem discuto aqui condições econômicas ou políticas,
pois não é esse o mote desse comentário.
É impossível não reconhecer alguns
importantes ganhos sociais adquiridos nesses tempos petistas. A própria
autoestima da população estava diferente e havia alegria flagrante no
eleitorado que se sentia satisfeito de perpetuar no poder, aqueles que
entendiam estar lutando por suas vidas e suas necessidades. Mas o encanto acabou.
E os repetidamente apregoados cinquenta e quatro milhões de votos de confiança,
se foram penúria abaixo, à medida que os programas sociais não conseguem ser
honrados, os repasses para estados e municípios não conseguem ser realizados, e
os programas de incentivo à educação deixam milhares de mensalidades em aberto
e outros tantos milhares de boletos chegando nas casas de quem dependia do
apoio amplamente vaticinado como conquista. Conquistas essas arrancadas pelos
próprios doadores. Simplesmente não há recursos para honrar tais compromissos.
Por que será??
A sensação que fica, e eu digo
sensação porque longe de poder ser verdade absoluta, é que os protagonistas de
toda essa farra e desmandos, tinham como impulso último, uma vingança coletiva
contra uma sociedade que lá atrás, não teve forças para defendê-los, nem com
eles lutarem com armas contra a direita e contra a ditadura. Porque tenho
dificuldade de aceitar que apenas ganâncias os tenha motivado. Até para ela, a
ganância, há limites de comportamento. Mas o sentimento de vingança é
insaciável. E o desejo de criar prejuízo como paga por um remorso não tem fim.
O Partido dos Trabalhadores precisará
se reinventar. Passar-se a limpo. Se ele for maior que seus componentes, ele
saberá dar fim a essa era triste da perseguição aos interesses de alguns, em
detrimento do bem de todos. Do contrário morrerá na história, ou será tão igual
quanto esses partidos de conveniências aos quais tanto critica, ou àqueles que
hoje, oportunistas e convenientes, são por seu próprio quadro chamados de
golpistas.
Acredito, portanto, que pesa sobre o
PT mais do que os fatos insofismáveis a que assistimos em todo o processo
político e judicial recente. Para quem minimamente conhece o funcionamento de
ações comerciais, sabe que as descobertas da Lava Jato não têm nada de fantasiosas.
O que pesa mais sobre o PT, é a decepção dos mais de cinquenta e quatro milhões
de brasileiros, que se flagraram lutando honestamente por uma causa, que talvez
jamais tenha existido nas intenções sinceras de suas lideranças. Porque nunca antes na história desse país,
tantos decepcionaram tão profundamente a tanta gente.
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