sexta-feira, 22 de abril de 2016

Um simples sinistro de Perda Total


Por Jânsen Leiros Jr.


Eu fui PT
Empunhei bandeira, colei adesivos.
Fiz campanha, fui a comícios, usei broches que eu mesmo comprei.
Sei de cor o jingles das campanhas de Lula
Me irritei com as seguidas derrotas
Gritei fora Collor, fora FHC e até fora Globo
Chamei o plano real de golpe
Falei que o “bolsa escola” era forma do governo comprar voto dos mais pobres.

Eu fui PT por que tinha que ser
Eu sou trabalhador, e não democrata, nem liberal, nem comunista
Então o partido do Trabalhador era o lugar do cara que teve que trabalhar pra pagar a faculdade, e sabia que teria que continuar trabalhando duro pra comprar sua casa, pra pagar seu carro, pagar suas viagens.

Eu fui PT por ideologia e não fisiologia.
Não ganhei um centavo, não viajei de graça, não estudei de graça, e nem acho graça nas coisas de graça.
Eu nunca achei golpe o pedido de impeachment de Collor, nem os diversos pedidos manejados contra Itamar ou FHC.
A constituição atribuiu a representantes eleitos pelo povo a função de processar e julgar o presidente, e eu acho isso extremamente democrático.

Eu fui PT
E no ano de 2002 enviei cartões de Natal aos meus queridos amigos com a frase:
“A Esperança venceu o medo!” Eu estava trabalhando na madrugada daquele natal!

Eu fui PT,
E se as redes sociais existissem naquela época, eu compartilharia textos não de Jean Wyllys, ou Jandira, por que eu li Hélio Bicudo, Cristovam Buarque, Fernando Gabeira, eles não são mais PT

Fui PT até quando deu pra ser. Até o dia que o “T”de trabalhador foi substituído pelo “T”de trapaça, de trambique. Por que não de Traição.

O partido dos trabalhadores se agarrou ao poder, e abraçou Renan, Sarney, Collor e até o Maluf, criou fantasias e contou mentiras, soltou a mão de pessoas honestas e sérias, e foi aí que deixei de ser PT.

Eu deixei de ser PT, e me surpreendo com você
Que contesta o fato de Cunha ser o condutor do impeachment
Mas jamais contestou o fato dele ser um dos elos da aliança entre o governo e o PMDB

Eu deixei de ser PT, e me decepciono com você
Que acusa Temer de ser golpista e bandido,
Mas jamais contestou o fato dele ser, desde o primeiro mandato, o vice presidente escolhido por Dilma

Eu deixei de ser PT, e me assusto com você
Que ao ouvir uma gravação não comenta o conteúdo, simplesmente afirma que escuta foi ilegal.
Que diante de uma delação pautada em provas, limita-se a falar em vazamento seletivo.
Que de frente a evidências de fraude, corrupção e tantos crimes, ataca a imprensa, a polícia e o Juiz.

Eu deixei de ser PT, e me envergonho de você
Que aplaude políticos processados, julgados e condenados que entram de punho erguidos na cadeia como se fossem vencedores e não ladrões
Que afirma que o mensalão não existiu, que não há escândalo da Petrobras, que não é dono do sítio, nem do apartamento.... Que nunca soube de nada.
Que afirma que não há crime em uma prática absolutamente ilícita só por que ela já foi feita por outros.

Eu deixei de ser PT, e me incomodo com você
Que vai as manifestações da CUT cheias de balões, camisetas vermelhas, e enormes palcos, tendas e militantes pagos, tudo custeado com dinheiro obrigatoriamente sacado dos salários de trabalhadores todos os anos com o nome de imposto sindical.

Eu deixei de ser PT, e não entendo você
Que fala em defesa da democracia, e afirma que pode ser golpe uma decisão de um congresso eleito pelo povo.
Que fala em voto livre, mas aceita a compra parlamentares com cargos e dinheiro

Eu deixei de ser partido, continuo trabalhador... e você?
por Márcio Augusto Costa; 16/04/2016; Brasília DF


Quando em rodas de amigos insisto que o maior algoz do PT foi o próprio partido, seus defensores de plantão me criticam e quase me queimam em praça pública; logicamente falo dos extremistas. Tem gente muito boa ainda no PT. Mas como defendo ardorosamente, a crítica é um direito inalienável de todo ser humano. E da mesma maneira que gosto de garantir o direito a crítica de tudo que escrevo e digo, também me dou o direito de dizer abertamente o que penso, tanto quanto me reservo ainda mais o direito de criticar a conduta de um partido político que, antes de mais nada, como entidade pública, está mesmo a mercê de toda e qualquer crítica e comentário, qualquer que seja seu teor e natureza. Não há entidade pública acima do bem e do mal. Não é sacrilégio algum criticar o PT, o PSDB, o PCdoB ou qualquer outro partido político. Grande ou mesmo os chamados nanicos.

E ao utilizar o texto acima como base desse comentário, o faço por estar muito próximo de meu pensamento muito particular sobre a anatomia da derrocada desse partido no âmbito federal, que já foi depositário das esperanças mais legítimas e dos sonhos mais genuínos da classe trabalhadora, dos menos favorecidos, das minorias, e de todas as classes que o tinham como fiel defensor de seus interesses mais básicos.

Estou convencido de que tal descida ladeira abaixo iniciou-se na perda de seus princípios básicos e de seus expoentes efetivamente pensantes, no que diz respeito a pertinência e legalidade de suas lutas. Assim trocou-se a honestidade pela conveniência, e a consistência da virtude, pelo pragmatismo de resultado. Não deve ter sido sem motivos, que de lá saíram Hélio Bicudo, Plínio de Arruda Sampaio, e tantos outros fundadores, que tinham a romântica mas legítima pretensão de criarem uma sociedade mais justa e igualitária. Nem entro aqui no mérito de suas convicções político-sociais e econômicas, pois para defendê-las é que se constituem partidos diversos.

É óbvio que oportunistas de plantão se promovem e se promoverão às custas dessa triste realidade. E tentarão e até conseguirão tomar de assalto o poder e o governo que lhes foi confiado pelo voto desde o primeiro governo do Lula. Mas fazer o quê? Pois se por um lado falta até agora um argumento mais enfático para um impedimento da presidente Dilma, sobram oportunidades e brechas deixadas pelos passos aloprados de seu quadro político, que se perdeu na ambição de saquear os cofres públicos e tudo o mais que viram pela frente. Agiram como gafanhotos que devoram uma lavoura prestes a ser colhida.

Não, eu não fui petista. Diferentemente do autor do texto acima, a única vez em que votei no PT, foi no segundo turno contra o Collor, quando este foi eleito. De lá pra cá, nunca mais votei no PT; falo para presidente. Mas sinceramente, vi com muita simpatia a vitória de Lula quando de seu primeiro mandato. Eu pensava que não poderia ser tão ruim assim, como efetivamente não foi, um governo presidido por alguém que convivera de perto com as dificuldades mais reais e prementes do povo brasileiro. E quem em sã consciência pode negar que o primeiro governo do Lula foi um tempo de bons ventos para o Brasil. nem discuto aqui condições econômicas ou políticas, pois não é esse o mote desse comentário.

É impossível não reconhecer alguns importantes ganhos sociais adquiridos nesses tempos petistas. A própria autoestima da população estava diferente e havia alegria flagrante no eleitorado que se sentia satisfeito de perpetuar no poder, aqueles que entendiam estar lutando por suas vidas e suas necessidades. Mas o encanto acabou. E os repetidamente apregoados cinquenta e quatro milhões de votos de confiança, se foram penúria abaixo, à medida que os programas sociais não conseguem ser honrados, os repasses para estados e municípios não conseguem ser realizados, e os programas de incentivo à educação deixam milhares de mensalidades em aberto e outros tantos milhares de boletos chegando nas casas de quem dependia do apoio amplamente vaticinado como conquista. Conquistas essas arrancadas pelos próprios doadores. Simplesmente não há recursos para honrar tais compromissos. Por que será??

A sensação que fica, e eu digo sensação porque longe de poder ser verdade absoluta, é que os protagonistas de toda essa farra e desmandos, tinham como impulso último, uma vingança coletiva contra uma sociedade que lá atrás, não teve forças para defendê-los, nem com eles lutarem com armas contra a direita e contra a ditadura. Porque tenho dificuldade de aceitar que apenas ganâncias os tenha motivado. Até para ela, a ganância, há limites de comportamento. Mas o sentimento de vingança é insaciável. E o desejo de criar prejuízo como paga por um remorso não tem fim.

O Partido dos Trabalhadores precisará se reinventar. Passar-se a limpo. Se ele for maior que seus componentes, ele saberá dar fim a essa era triste da perseguição aos interesses de alguns, em detrimento do bem de todos. Do contrário morrerá na história, ou será tão igual quanto esses partidos de conveniências aos quais tanto critica, ou àqueles que hoje, oportunistas e convenientes, são por seu próprio quadro chamados de golpistas.

Acredito, portanto, que pesa sobre o PT mais do que os fatos insofismáveis a que assistimos em todo o processo político e judicial recente. Para quem minimamente conhece o funcionamento de ações comerciais, sabe que as descobertas da Lava Jato não têm nada de fantasiosas. O que pesa mais sobre o PT, é a decepção dos mais de cinquenta e quatro milhões de brasileiros, que se flagraram lutando honestamente por uma causa, que talvez jamais tenha existido nas intenções sinceras de suas lideranças. Porque nunca antes na história desse país, tantos decepcionaram tão profundamente a tanta gente.

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