Por
Jânsen Leiros Jr.
As
manobras realizadas no Congresso Federal para adiar a votação dos textos que
definem a prisão após condenação em segunda instância, flagram mais uma vez a
lógica com que atuam alguns parlamentares, no que se refere a tudo aquilo que
não lhes interessa, ou mesmo é diametralmente contrário aos seus particulares
interesses.
Quando
se pergunta, ainda que inocentemente, a quem interessa os adiamentos e as
protelações para solução das questões, a resposta é inevitavelmente direta:
àqueles a quem as soluções não interessam, claro. E logo vem a segunda pergunta
bem menos inocente: Por quê?
Considerando
que legisladores e magistrados deveriam, por definição e até por “vício de
função”, esforçarem-se favoravelmente a tudo que promovesse a justiça e sua
precisa e imediata aplicação, como entender atitude contrária ou minimamente
procrastinadora, quando a urgência se faz, se não tanto pelo ritos processuais
dos regimentos internos, ao menos em atenção ao clamor nacional por justiça?
O
tempo. Sim, ele mesmo. O tempo é o aliado conveniente e oportuno de quem não
deseja a solução. Ele pode ser a desculpa oportuna para todos os infortúnios,
conforme a narrativa casuísta dos interessados. “Ainda há tempo”, “perdemos o
tempo” e o “prazo acabou”, são apenas exemplos do discurso que se pode assumir,
sem que haja necessariamente uma responsabilização direta pelo desfecho e
decepção. É assim que caminha o nosso parlamento, na liderança de quem não tem
interesse algum pela solução do caso em questão. Mas resta outra pergunta: Por quê?
A
quem interessa a protelação da aplicação da pena, senão ao condenado? A quem
interessa a manutenção da liberdade do condenado, senão aos que podem ser
envolvidos ou prejudicados por sua prisão? A quem importa sua impunidade, senão
aos que podem ser implicados em eventuais delações? E por fim, a quem interessa
a liberdade a despeito da condenação, senão aos que estão na fila dos tribunais
e que podem se beneficiar em futuro próximo, da frouxidão da justiça e da
impunidade sistêmica legitimada?
E
antes que alguém saia em defesa dos eventualmente dos pobres injustiçados, peço
que apontem algum deles que tenha tido condições de bancar os intermináveis
recursos em instâncias superiores, valendo-se delas, até que provada a sua
inocência.
Se
num passado não muito distante houve quem recebesse a alcunha de “engavetador
geral da república” por conta de eventuais denúncias e acusações não
oferecidas, agora temos os “proteladores incondicionais da pena”, para os quais
as ampulhetas do tempo regem sonhos e pesadelos, na espera dos arquivamentos e
dos prazos prescritos.
Na
esteira dessa impunidade institucionalizada e legalizada, vivem, se alimentam e
se reproduzem, corruptos e corruptores, planejando negociatas, maracutaias e
malversação do dinheiro público. Armam seus esquemas na certeza de que nada os
poderá deter, já que eventual prisão, acusação e até condenação, não passarão
de um contratempo de fácil solução. Um dano colateral bastante compensador,
comparando-se aos montantes subtraídos do erário, com o prazo ínfimo de
reclusão temporária; se houver. Se muito, são apenas uma dose extra de emoção
para quem vive para além dos limites da honestidade.
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