sábado, 26 de março de 2016

Nem esquerda, nem direita. Com toda convicção


Por Jânsen Leiros Jr.


"Aprendi com Juan Luis Segundo[1] que teólogo não tomar posição em situações críticas na sociedade, para não correr risco de errar, é um erro maior."

Jung Mo Sung[2] - em seu twitter


"Concordo plenamente", respondi de pronto ao ler. E não me arrependo do que respondi, embora, confesso, não refleti nem um segundo sequer antes de escrever e enviar meu comentário. Não podemos mesmo fugir dessa responsabilidade de firmar posição, temendo que as incertezas quanto ao rumo dos fatos e das circunstâncias, nos forcem em futuro próximo ou mesmo em longo prazo, a rever posições e argumentos, defesas ou ataques, que tenhamos feito no calor do cenário em que estejamos atualmente envolvidos. É preciso coragem e posicionamento.

Afirmo isso e reafirmo, embora tenha sido, por alguns, acusado de não ter declarado abertamente a minha posição relativamente aos acontecimentos que têm causado esse turbilhão no cenário nacional brasileiro. "Você está em cima do muro", disseram, entendendo que diante das circunstâncias que estão provocando crescentes e insuportáveis incertezas na política e na economia, não tenha sido claro quanto ao lado a que me alinhei. Ora, o meu lado é tão inquestionável, tão óbvio a quem me lê regularmente... O meu lado é o do fim da corrupção, e o da recuperação econômica do país o mais rápida e consistentemente possível.

Lamento muito que isso deva frustrar os mais acirrados militantes e os apaixonados partidários de plantão. Mas não me verão jamais vestindo camisas de nenhum dos lados, por um motivo muito simples e firme. Em ambos os lados que por hora se polarizam, não há qualquer sombra de coerência no espectro mais amplo de suas aspirações. Ou seja, se não me ouvirão gritar "fora Dilma", tão pouco levantarei a voz para dizer "não vai ter golpe". E acreditem-me, isso não é ficar indeciso ou em cima do muro. É antes uma posição muito firme e convicta, de quem não concorda com qualquer atitude alienada, que fuja da responsabilidade cidadã de participar e contribuir nesse momento tão crítico do país.

Quem me acompanha por aqui, sabe que desde antes das eleições de 2014, venho me posicionando com clareza sobre os movimentos, tanto da situação quanto da oposição, repudiando veementemente todas as suas falas incoerentes e puramente partidárias. Os textos estão todos por aqui no blog. É só buscar e ler. E se o fizerem, perceberão que minha principal preocupação, há algum tempo, vinha sendo exatamente essa polarização burra e partidária, que torna cega e oportunista cada movimentação nesse tabuleiro do jogo político. E que fique claro, cega por parte das militâncias e apaixonados, e oportunista por parte das lideranças de direito ou de ocasião.

Penso, sem qualquer dúvida, que é completamente conveniente, casuísta e manipuladora, a argumentação do governo de que há um movimento golpista por parte da oposição e de determinados setores da sociedade, que tenta lhes arrancar do poder simplesmente porque não aceitam os resultados das urnas em outubro de 2014. Os governistas e suas militâncias tentam banalizar os fatos, fingindo não existirem as estarrecedoras descobertas sobre a corrupção que se instalou estruturadamente nos diversos escalões do poder.

Por outro lado, assistimos à mais tímida e pouco convicta ação de determinados expoentes da oposição, tamanho grau de envolvimento e sujeira em estão igualmente enterrados até o pescoço. Sim, porque está claro para toda a sociedade, que se o atual governo e seus aliados estão comprometidos com esse mar de lama que se agiganta a cada movimento da operação Lava Jato, diversos oposicionistas estão apavorados com o que ainda poderá vir a ser descoberto pelo MPF e os investigadores da PF. Nesse ponto tem toda razão o ex-presidente Lula em sua conversa com a presidente Dilma; temos um congresso "acovardado".

Ora, se estão acovardados diante de uma operação que avança mar de lama adentro, é porque todos têm receio de que poderão ser descobertos a qualquer momento, passando ao discurso cínico e de aparente indignação, condenando o sofá da sala e o infeliz que acendeu a luz do quarto onde, às escuras, cometiam seus crimes com tranquila e bem cômoda impunidade.


Sou totalmente a favor, portanto, do avanço e da continuidade implacável da operação Lava Jato. E embora entenda os limites legais a que se deve subordinar o juiz Sérgio Moro, uma vez que flagrantemente se joga com os parâmetros da lei e os ritos processuais ardilosamente para favorecer criminosos, e considerando ser isso uma inversão de propósito, gostaria de ver o foro privilegiado de todos suspenso, e as investigações mantidas nas mãos de quem já se demonstrou imparcial e ainda alheio ao execrável jogo de conveniências políticas, que contaminou grande parte dos integrantes dos poderes constituídos desse país.

Mas que se perceba com isso outra clara posição minha. Enquanto a presidente Dilma não for envolvida direta ou indiretamente em qualquer dos crimes investigados pela operação Lava Jato em suas mais diversas fases, e por mais legítimo que seja o processo a que responderá pelas chamadas pedaladas fiscais, é preciso que a legitimidade de sua eleição seja respeitada, não se arrancando sua excelência de sua cadeira precipitadamente, antes que o processo corra todo seu rito de legalidade. Digo isso porque, na prática e de forma indevida, a estamos depondo mesmo antes do final do processo, provocando em determinadas situações e circunstâncias, uma incômoda sensação de ilegitimidade, a um processo que poderia ter, em sua vocação de espontaneidade popular, o mais desejável e insofismável direito de se sobrepujar às manobras de quem pretende escapar da justiça.

Por tudo isso, talvez, eu tenha gostado tanto de ver Aécio e a comitiva do PSDB sendo hostilizada pelos manifestantes na capital paulista, no último treze de Março, quando com a cara de pau e o oportunismo que é próprio a essa gente, tentaram se autopromover, participando de uma manifestação onde eles seguramente não nos representavam. Até porque, pelo andar da Lava Jato, em breve voltaremos às ruas para pedir igualmente por investigações desses senhores, e de tantos outros que ainda se encontram em estado de choque, depois que seus nomes e apelidos foram divulgados numa certa lista da Odebrecht.

Assim, o que me dá a total liberdade de assumir uma posição não polarizada por nenhum dos lados, é a firme convicção de que nem um, nem outro, é capaz de me representar politicamente, qualquer que seja abrangência de seus atos, ou a ambiência de suas atuações. Vivemos o mais ultrapassado e inconveniente jeito de fazer política e de governar uma população. Nenhum dos lados é capaz de me fazer tomar partido em seu favor. Eles não têm de mim, como de uma boa parte da população, qualquer apreço ou predileção, e ficar com o lado menos pior, jamais foi uma opção aceitável  para mim. Ou será que invertendo a máxima de minha avó, eu deveria considerar que antes mal acompanhado do que só?


[1]  Juan Luis Segundo foi padre católico jesuíta e teólogo uruguaio, considerado o maior expo-ente da Teologia da Libertação na América Latina. (1925 - 1996); fonte: Wikipédia
[2]  Jung Mo Sung é um teólogo católico e cientista da religião, coreano radicado no Brasil des-de 1966. É professor titular da Universidade Metodista de São Paulo no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. (1957 - ); fonte: Wikipédia

segunda-feira, 21 de março de 2016

Série Grãos de Mostarda; O justo bem comum


"O justo sempre está pensando no que é bom e relevante para todos. Já o ímpio naquilo que lhe satisfaça prioritária e exclusivamente; pouco importa o que será preciso fazer para alcançar. Não há como esperar o que é bom, quando o que se deseja é mal. Porque não nascem figos de limoeiros. O ímpio planejará o mal sempre, mas o justo tem prazer naquilo que produz bem comum."

JLjr.

sexta-feira, 18 de março de 2016

As conveniências que me perdoem, mas legitimidade é fundamental.


Por Jânsen Leiros Jr.


"Estamos diante do mais absurdo e descarado golpe por parte da direita fascista desse país."

"Não podemos ficar de braços cruzados sem fazer nada, enquanto a mídia golpista dá as cartas para fundar uma nova república no Brasil."

"Até quando vamos permitir que meia dúzia de gatos pingados determinem os rumos da política e da economia do Brasil, enquanto que nossa gente sofrida morre de fome, vivendo sem teto e sem condições de uma vida digna. Eles querem voltar a mandar, porque perderam seus privilégios e o pobre passou a ter vez..."

"... a mídia brasileira tenta colocar o PT e a presidenta Dilma Rousseff na crise com o objetivo de desestabilizá-la."

Trechos de discursos favoráveis ao governo, garimpados da internet e da TV


Sempre que leio ou escuto o discurso dos favoráveis ao governo do PT, e dos que saem em acalorada defesa de seus expoentes, sou levado a um reflexão que julgo importante para o processo pessoal de escolha de lado. Se é que devemos necessariamente escolher um dos lados que aí se apresentam, lutando por nossas predileções e apoios.

Digo isso porque, sinceramente, sou tocado pela retórica que nos confronta com a possibilidade de estarmos, a maioria da opinião pública e de alguns meios de comunicação, servindo inocentemente a um processo de vingança da chamada elite brasileira, contra as conquistas dos pobres do Brasil, flagrantemente trazidos a uma condição de vida e de importância social e econômica jamais vistas na história desse país.

É no mínimo provocador, aos que não se deixam facilmente conduzir pelas manobras midiáticas, qualquer que seja o lado pelo qual se deem tais manobras, o apelo a que se avalie cuidadosamente, se toda essa massa de informações não está apenas servindo ao movimento manipulador do senso comum, na criação de um cenário favorável e de um ambiente perfeito para a usurpação de leis e garantias constitucionais, com vistas a um suspeito bem maior de interesse nacional, ferindo princípios que mais tarde poderão ser desrespeitados em relação a qualquer cidadão de bem desse país.

Se ouvirmos tais discursos com isenção, somos obrigados a sinceramente perceber pertinências e lógicas tão óbvias, que nos sentirmos os mais idiotas cidadãos do mundo, por nos deixarmos envolver pelo clamor das ruas, fomentado por uma gente comprometida com interesses supostamente mesquinhos, que buscam apenas retornar aos seus privilégios perdidos quando da ascensão da classe trabalhadora ao poder.  E assim, acabamos por intuir que tais movimentos não passam de mera revolta da burguesia indignada, contra as classes desfavorecidas que nunca tiveram quem as defendesse, mas que agora contam com o PT e em seus aliados; suas últimas linhas de resistência contra a exploração, o descaso e o abandono.

Eu, que não tenho qualquer predileção partidária ou sequer interesses de encarreiramento político, mas totalmente interessado nos rumos políticos e econômicos do Brasil, seguro duas bandeiras distintas, uma em cada mão. Ora sentindo impulsos por levantar uma, ora sentindo o mesmo impulso em favor da outra. E fico assistindo atônito à uma guerra travada por falácias, versões, bravatas e palavras de ordem, que se não conseguem atrair as consciências sinceras de quem tenta se manter equilibrado, partem para um bestial apelo emocional que se polariza entre a indignação e o cinismo, que se alternam de lado a lado, conforme suas conveniências e necessidades de convencimento.

Confesso que tendo sido adolescente e jovem durante a ditadura, tenho natural inclinação pelo discurso da auto declarada esquerda, de que há um golpismo entranhado em todos os factoides criados pela mídia reacionária desse país, pois não só sabemos de seu comprometimento no passado recente do Brasil, como contamos com o depoimento de muitos personagens ainda vivos dessa história. E não só por isso, mas minha geração viveu de perto e de dentro, muitas das manobras e artimanhas arquitetadas para manipulação das massas a favor de um regime totalitário. Vivenciamos as perdas de direitos democráticos, e nem de longe gostaríamos de ver reeditadas as circunstâncias nacionais daquela época.

Acontece que simplesmente o discurso dessa mesma auto declarada esquerda não cola. E não cola não por inconsistência de legalidade, mas por impertinência de moralidade, uma vez que seus expoentes, ora envolvidos em toda essa movimentação nacional a que assistimos, posicionaram-se e comportaram-se com cinismo e desfaçatez, próprios de quem tenta encobrir atos criminosos e fraudulentos, contrariando a máxima de nossos avós, que dizia que quem não deve não teme. Ora, se temem e se fogem, somos inevitavelmente levados à irresistível conclusão de que devem... e muito.

E talvez seja isso que os defensores de primeira hora, e os oportunistas aliados do governo não entendem, ou convenientemente não queiram entender; não adianta culpar o sofá pela traição ocorrida na sala. Pouco adiantará acusar de ilegalidade a atitude de acender a luz, que no final flagrou e proporcionou-nos enxergar os maus feitos realizados por toda essa corja que se apoderou do estado brasileiro, sem nenhum direito de fazê-lo. Manobras políticas para se manterem em uma condição privilegiada que os deixe longe da mira da justiça e das investigações, demonstram inequivocamente que há muito o que esconder ou tudo a disfarçar. E nada melhor do que um discurso raivoso de vítimas de um golpe, e de vingança das elites, para disfarçar ou ofuscar a visão de quem tenta buscar um ponto de vista isento e sinceramente não comprometido.

De modo que a exemplo do que publiquei há poucos dias sobre a fala do senador Delcídio do Amaral, o que acaba por assinar a confissão de culpa dos feitos e das intenções da liderança do PT e de seus aliados, é exatamente a sequência de manobras realizadas para tentar se defender, e que demonstram, insofismavelmente, que a caixa preta que insistem em não abrir tem muita coisa imprópria a revelar.

Além disso, o discurso velho e esgarçado pelo tempo que tenta promover a divisão do país entre eles e nós, é o mesmo expediente utilizado por terroristas que se utilizam de escudos humanos para se protegerem de ataques das forças inimigas. Vale ressaltar que os escudos não só são formados por civis, como também por compatriotas, pessoas que compartilham os mesmos interesses e crenças. Porque no processo de fuga e de manutenção da própria vida, pouco lhes importa que aliados ou mesmo admiradores, acabem pagando com a própria vida, desde que garantam as inestimáveis sobrevidas dos fugitivos.


Portanto, por mais sedutores que nos sejam os discursos pretensamente denunciadores de um golpe dos poderosos contra os coitados e injustiçados defensores dos desfavorecidos, o próprio comportamento dos investigados e acusados, lhe servem de contraditório à presunção de inocência. Nossos avós estavam certos como sempre; quem não deve não teme. E eu completo, não temem nem mesmo uma eventual injustiça. Pois nesse caso haverá sempre quem os defenda com fatos e provas; legitimamente.

terça-feira, 15 de março de 2016

Série Grãos de Mostarda; Promessa é vida


"Muitos correm atrás de promessas para essa vida, enquanto que a promessa que nos deveria interessar é bem outra. Afinal, do que adianta ganhar o mundo, e perder a própria alma? Somos peregrinos. O que pretendemos alcançar não se encontra aqui. Como diria Paulo, se a nossa esperança em Cristo se restringe apenas a esta vida, somos os mais miseráveis de todos os seres humanos"

JLjr.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Série Grãos de Mostarda; Ato e resultado


"Por mais difícil que nos seja acompanhar atitude e consequência, interferir no processo de aprendizado nos causa enorme trabalho e enfado. Permitir as consequências das atitudes alheias é confiar no justo juízo, na oportuna instrução, e no amoroso cuidado de Deus. Isso em relação aos amigos, aos parentes, aos filhos... E até em relação a nós mesmos."

JLjr.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Série Grãos de Mostarda - Atitude generosa



"Muito além de um princípio de reciprocidade, dar é exercício de confiança. Pois não são de nossas garantias que adquirimos sustento da vida, mas do cuidado de Deus. Descansar em Deus não é inércia, nem ato irresponsável de dar de ombros para a vida e suas demandas. Mas é antes uma atitude de plena confiança em seu amor e cuidado. Portanto é generoso e dá com alegria, aquele que confia."

JLjr.

sábado, 5 de março de 2016

Série Grãos de Mostarda - Caminhos e direção


"Todos temos anseios e pretensões na vida. Nada há de errado nisso. Todos sonhamos e almejamos realizar; isso colore nossos dias e nos sugere caminhos. Porém a direção é dada por Deus, cujos propósitos conhecemos em oração, e o percurso corrigido em comunhão."

JLjr.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Debatendo o Mundo Aparente - Parte 1


PEIXE EMBRULHADO EM JORNAL DE HOJE

Por Bruno Torturra

Hoje pela manhã, na quadra da escola vizinha, dirigida por freiras, o hino nacional foi tocado em altos decibéis. Crianças sob a tutoria católica estavam enfileiradas para uma cerimônia patriótica. Só posso supor o que escutaram das freiras sobre o significado da enorme operação policial que levou Lula para um depoimento. Só depois do hino cessar, sob aplausos e urros no bairro, que comecei a ler as manchetes...

Então vamos lá: Nunca cobrei da imprensa imparcialidade. Já disse em rede nacional o que acho disso. O jornalismo não precisa ser imparcial. Só precisa ser honesto.

Por isso lamento demais por todos meus amigos, colegas, pelos bons jornalistas que sobraram nas grandes redações, salas de edição. Mas hoje é um dia deprimente demais para nosso ofício. Hesito muito em dizer isso, mas a falência ética da grande imprensa industrial é bem maior do que a financeira.

Há muitas camadas no episódio de hoje. Há uma procissão de responsáveis por esse desastre cívico, composta por todos os espectros políticos e partidários. Há muita, muita culpa, sem dúvida, do PT. Mas quero comentar apenas um círculo desse inferno de Bosch. Que para mim, jornalista não tanto por profissão quanto por princípio, é o que mais me machuca: a fusão de operações policiais e midiáticas.

Os grandes grupos de comunicação tem suas preferências políticas? Normal. Tem seus aliados, amigos e ideologias? Quem não? Tem suas agendas e suas visões de país? Uai, é por isso que jornais são fundados. Mas quando o jornalismo abandona o posto de cão de guarda para se tornar um pitbull rábico, a consciência pública se torna imprevisível. Ou melhor, imprevisível não. Mas rábica também.

Há muitos anos vivemos a escalada de uma diligente construção de um noticiário político expiatório, movido por ânsias punitivistas, judiciais. Um jornalismo que está mais em busca de um desfecho catártico do que dos fatos, que abandonou a checagem, que dispensou a decantação mínima de rumores , suposições e vazamento em nome manchetes.

Pouco importam as motivações. Eleger o Aécio, o Alckmin, dar o troco no Lula, avançar uma agenda liberal, proteger os amigos, a si mesmo, minar a esquerda ou remover a Dilma... preencha a sua lista. O fato é que apesar de bons repórteres ainda com emprego, o grosso da mídia de massa trocou a função de mediador da consciência pública para se tornar um instigador. E instigado o Brasil está.

Mas o resultado disso, estou convicto, será muito diferente do sonhado e vendido pela mídia que se considera, ainda e sempre, republicana. Porque ao transformar o noticiário político em policial, boa parte da imprensa sedimentou a ideia de que a própria política é uma atividade criminal. Aí está o desastre.

Pois essa noção ouriçou em uma população com uma histórica vocação ao linchamento o sentimento de que só a punição, só a cadeia, só a porrada, só a ordem, só a faxina, só a polícia, só a forra vai salvar esse país de si mesmo.

E meu ponto aqui, de novo, não é defender Lula. Há mais gente do que argumentos para isso. Mas é apontar que se publishers, colunistas, âncoras e cínicos acreditam que o Brasil vai sair melhor desse processo, vão ser tragados, assim como seus aliados, pelo mesmo ralo quando essa força encontrar expressão eleitoral. Pois por mais caquético que nosso ofício esteja, ele é fruto e base do iluminismo. E nada menos conveniente ao ódio organizado do que a livre expressão de ideias, a investigação do poder, ao esclarecimento público.

Hoje o hino está tocando em escolas, bandeiras tremulam em automóveis e em grupos de whatsapp. E editorialistas vão dizer, com razão, que o país está mudando. Os mesmo que, possivelmente, vão tomar um susto quando virem um Trump brasileiro em primeiro nas pesquisas. E, com menos assinantes do que o Revoltados OnLine, vão dar um jeito de colocar a culpa... sei lá... no PT?

Enfim, dizem que jornal de ontem só serve para embrulhar peixe. Mas hoje me lembro do hábito da máfia italiana que, antes de executar um desafeto, mandava um peixe de presente à vítima. Sinto que há um enorme peixe sendo entregue ao país. Mas embrulhado no jornal de hoje.

PS: Viva o Samuel Wainer!

Por Jânsen Leiros Jr.

        Eu até poderia rebater o Bruno (e foi exatamente o que acabei fazendo indiretamente), mas me deu preguiça. Porque essa ideia de entender o que está acontecendo em nosso país como fruto de fomentação midiática, além exaustivamente utilizada por quem tenda se defender ao ser pego naquilo para o que não há defesa, já era uma prática usada antigamente por Odorico Paraguaçu, ao tentar encobrir suas maracutantes e desavergonhantes falcatruas sucupirenses. Já naquela época havia quem desconfiasse, de que tal manobra em nada retratava a realidade. Agora, porém, temos toda certeza.

Quando do início do primeiro mandado de Dilma, que vinha com robusta aprovação nacional, e os louros da novidade de termos uma mulher no posto mais elevado da nação, a mídia cansou de lhe laurear e incentivar, com matérias que chegavam a menosprezar a oposição que, realmente medíocre, tentava jogar areia em um governo que ainda começava. Havia esperança e expectativa de que a bonança seguiria a nos conduzir pela "marolinha" da economia mundial.

Acontece que perdemos a onda da conjuntura econômica mundial, surfada pelo então presidente Lula, sobre cuja espuma elegeu sua sucessora. Diversos equívocos no planejamento e gestão da economia nacional depois, viram-se apertados por inúmeras contingências das quais claramente não sabem como se livrar. Mas isso não foi o pior, ainda que não menos importante.

Flagrados os desmandos, os roubos, e o medonho esquema de corrupção, que tão despudoradamente engendraram aparelhando a máquina pública, é no mínimo risível que esperassem que a mídia ficasse quieta, sem divulgar ou mesmo denunciar, convenientemente, é claro, os fatos que lhe podem render leitores ou acessos em suas páginas digitais. Mais borracheiro não vive de pneu furado? Coveiros não vivem de enterrar mortos. A mídia vive de assuntos midiáticos. Não vejo nada de errado nisso.

Errado seria o borracheiro colocar pregos na estrada para provocar furos que pudesse consertar, tanto quanto criminoso seria o coveiro que matasse para ter corpos a enterrar. Os fatos que têm sido noticiados e cobertos pela mídia, ainda que com visível ênfase nesse ou naquele assunto conforme a ideologia da casa, não está criando furo no pneu nem atirando corpos às covas. Eles estão lá , murchos. Vazios e em decomposição.

Notem, o mote não é da mídia como querem nos fazer crer, e creem os convenientes e casuístas de plantão. Ninguém fabricou as realidades que nos assustam, e nos indignam diariamente. Com maior ou menor ênfase, as notícias são reais e expõem a úlcera moral que se abateu sobre nossas instituições, com vistas a locupletação mesquinha e oportunista de poucos. Ou seriam muitos, se considerarmos o universo dos acusados e já citados apenas nessa operação Lava Jato.

De modo que, se a mídia se exacerba ou não, isso é apenas mais um substrato da deletéria condução de um mundo de conveniências a que estamos sujeitos. Mas o fato sobre o qual se exacerba, não foi em momento algum criada por ela como um conto de fadas. Isso o PT bem gostaria que engolíssemos. Mas não vai colar. Mas não mesmo.

Mas há um detalhe em que concordo com Bruno. Não sairemos melhores ainda de todo esse episódio. E creio que ainda haverá muito o que purgarmos como sociedade. Sim, porque se os poderes constituídos estão como estão, e é de brasileiros que são formados, temos graves e importantes problemas de formação dessa matriz de onde esses poderosos saem. A sociedade brasileira está degradada em seus princípios morais e éticos, além da distorção do que lhe é auto sugerido como filosofia de vida. 

Somos em grande parte, como nação, culpados por tudo isso. Acumulamos pequenas e inocentes concessões morais, atendendo necessidades e conveniências próprias, individuais ou de grupos, promovendo a perda das referências que nos norteavam como povo e nação. E nesse caso, a culpa está longe de passar pelos poderes constituídos. Reclamamos de corrupção, mas damos propina ao guarda que nos pretende multar. Reclamamos da educação, mas tomamos satisfação de professores quando nossos filhos tiram notas baixas, exigindo que eles sejam premiados por esforços que não realizaram. Somos a nação dos "você sabe com quem está falando?". Mas isso será tema pra outro papo...

terça-feira, 1 de março de 2016

Série Grãos de Mostarda - Vida abundante


          "Abundante é aquilo que sobra, e o que vai além da medida do necessário. O que sobeja nos escapa pelas mãos e por entre os dedos.
       Assim, a vida em Cristo não pode ser contida em quatro paredes. Nossas vidas em Cristo precisam transbordar mundo afora."
JLjr.