sexta-feira, 18 de março de 2016

As conveniências que me perdoem, mas legitimidade é fundamental.


Por Jânsen Leiros Jr.


"Estamos diante do mais absurdo e descarado golpe por parte da direita fascista desse país."

"Não podemos ficar de braços cruzados sem fazer nada, enquanto a mídia golpista dá as cartas para fundar uma nova república no Brasil."

"Até quando vamos permitir que meia dúzia de gatos pingados determinem os rumos da política e da economia do Brasil, enquanto que nossa gente sofrida morre de fome, vivendo sem teto e sem condições de uma vida digna. Eles querem voltar a mandar, porque perderam seus privilégios e o pobre passou a ter vez..."

"... a mídia brasileira tenta colocar o PT e a presidenta Dilma Rousseff na crise com o objetivo de desestabilizá-la."

Trechos de discursos favoráveis ao governo, garimpados da internet e da TV


Sempre que leio ou escuto o discurso dos favoráveis ao governo do PT, e dos que saem em acalorada defesa de seus expoentes, sou levado a um reflexão que julgo importante para o processo pessoal de escolha de lado. Se é que devemos necessariamente escolher um dos lados que aí se apresentam, lutando por nossas predileções e apoios.

Digo isso porque, sinceramente, sou tocado pela retórica que nos confronta com a possibilidade de estarmos, a maioria da opinião pública e de alguns meios de comunicação, servindo inocentemente a um processo de vingança da chamada elite brasileira, contra as conquistas dos pobres do Brasil, flagrantemente trazidos a uma condição de vida e de importância social e econômica jamais vistas na história desse país.

É no mínimo provocador, aos que não se deixam facilmente conduzir pelas manobras midiáticas, qualquer que seja o lado pelo qual se deem tais manobras, o apelo a que se avalie cuidadosamente, se toda essa massa de informações não está apenas servindo ao movimento manipulador do senso comum, na criação de um cenário favorável e de um ambiente perfeito para a usurpação de leis e garantias constitucionais, com vistas a um suspeito bem maior de interesse nacional, ferindo princípios que mais tarde poderão ser desrespeitados em relação a qualquer cidadão de bem desse país.

Se ouvirmos tais discursos com isenção, somos obrigados a sinceramente perceber pertinências e lógicas tão óbvias, que nos sentirmos os mais idiotas cidadãos do mundo, por nos deixarmos envolver pelo clamor das ruas, fomentado por uma gente comprometida com interesses supostamente mesquinhos, que buscam apenas retornar aos seus privilégios perdidos quando da ascensão da classe trabalhadora ao poder.  E assim, acabamos por intuir que tais movimentos não passam de mera revolta da burguesia indignada, contra as classes desfavorecidas que nunca tiveram quem as defendesse, mas que agora contam com o PT e em seus aliados; suas últimas linhas de resistência contra a exploração, o descaso e o abandono.

Eu, que não tenho qualquer predileção partidária ou sequer interesses de encarreiramento político, mas totalmente interessado nos rumos políticos e econômicos do Brasil, seguro duas bandeiras distintas, uma em cada mão. Ora sentindo impulsos por levantar uma, ora sentindo o mesmo impulso em favor da outra. E fico assistindo atônito à uma guerra travada por falácias, versões, bravatas e palavras de ordem, que se não conseguem atrair as consciências sinceras de quem tenta se manter equilibrado, partem para um bestial apelo emocional que se polariza entre a indignação e o cinismo, que se alternam de lado a lado, conforme suas conveniências e necessidades de convencimento.

Confesso que tendo sido adolescente e jovem durante a ditadura, tenho natural inclinação pelo discurso da auto declarada esquerda, de que há um golpismo entranhado em todos os factoides criados pela mídia reacionária desse país, pois não só sabemos de seu comprometimento no passado recente do Brasil, como contamos com o depoimento de muitos personagens ainda vivos dessa história. E não só por isso, mas minha geração viveu de perto e de dentro, muitas das manobras e artimanhas arquitetadas para manipulação das massas a favor de um regime totalitário. Vivenciamos as perdas de direitos democráticos, e nem de longe gostaríamos de ver reeditadas as circunstâncias nacionais daquela época.

Acontece que simplesmente o discurso dessa mesma auto declarada esquerda não cola. E não cola não por inconsistência de legalidade, mas por impertinência de moralidade, uma vez que seus expoentes, ora envolvidos em toda essa movimentação nacional a que assistimos, posicionaram-se e comportaram-se com cinismo e desfaçatez, próprios de quem tenta encobrir atos criminosos e fraudulentos, contrariando a máxima de nossos avós, que dizia que quem não deve não teme. Ora, se temem e se fogem, somos inevitavelmente levados à irresistível conclusão de que devem... e muito.

E talvez seja isso que os defensores de primeira hora, e os oportunistas aliados do governo não entendem, ou convenientemente não queiram entender; não adianta culpar o sofá pela traição ocorrida na sala. Pouco adiantará acusar de ilegalidade a atitude de acender a luz, que no final flagrou e proporcionou-nos enxergar os maus feitos realizados por toda essa corja que se apoderou do estado brasileiro, sem nenhum direito de fazê-lo. Manobras políticas para se manterem em uma condição privilegiada que os deixe longe da mira da justiça e das investigações, demonstram inequivocamente que há muito o que esconder ou tudo a disfarçar. E nada melhor do que um discurso raivoso de vítimas de um golpe, e de vingança das elites, para disfarçar ou ofuscar a visão de quem tenta buscar um ponto de vista isento e sinceramente não comprometido.

De modo que a exemplo do que publiquei há poucos dias sobre a fala do senador Delcídio do Amaral, o que acaba por assinar a confissão de culpa dos feitos e das intenções da liderança do PT e de seus aliados, é exatamente a sequência de manobras realizadas para tentar se defender, e que demonstram, insofismavelmente, que a caixa preta que insistem em não abrir tem muita coisa imprópria a revelar.

Além disso, o discurso velho e esgarçado pelo tempo que tenta promover a divisão do país entre eles e nós, é o mesmo expediente utilizado por terroristas que se utilizam de escudos humanos para se protegerem de ataques das forças inimigas. Vale ressaltar que os escudos não só são formados por civis, como também por compatriotas, pessoas que compartilham os mesmos interesses e crenças. Porque no processo de fuga e de manutenção da própria vida, pouco lhes importa que aliados ou mesmo admiradores, acabem pagando com a própria vida, desde que garantam as inestimáveis sobrevidas dos fugitivos.


Portanto, por mais sedutores que nos sejam os discursos pretensamente denunciadores de um golpe dos poderosos contra os coitados e injustiçados defensores dos desfavorecidos, o próprio comportamento dos investigados e acusados, lhe servem de contraditório à presunção de inocência. Nossos avós estavam certos como sempre; quem não deve não teme. E eu completo, não temem nem mesmo uma eventual injustiça. Pois nesse caso haverá sempre quem os defenda com fatos e provas; legitimamente.

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