Por Jânsen Leiros Jr.
"Aprendi com Juan
Luis Segundo[1] que teólogo não tomar posição em situações críticas na
sociedade, para não correr risco de errar, é um erro maior."
"Concordo plenamente",
respondi de pronto ao ler. E não me arrependo do que respondi, embora, confesso,
não refleti nem um segundo sequer antes de escrever e enviar meu comentário. Não
podemos mesmo fugir dessa responsabilidade de firmar posição, temendo que as
incertezas quanto ao rumo dos fatos e das circunstâncias, nos forcem em futuro
próximo ou mesmo em longo prazo, a rever posições e argumentos, defesas ou ataques,
que tenhamos feito no calor do cenário em que estejamos atualmente envolvidos. É
preciso coragem e posicionamento.
Afirmo isso e reafirmo, embora tenha
sido, por alguns, acusado de não ter declarado abertamente a minha posição
relativamente aos acontecimentos que têm causado esse turbilhão no cenário
nacional brasileiro. "Você está em cima do muro", disseram, entendendo
que diante das circunstâncias que estão provocando crescentes e insuportáveis incertezas
na política e na economia, não tenha sido claro quanto ao lado a que me
alinhei. Ora, o meu lado é tão inquestionável, tão óbvio a quem me lê
regularmente... O meu lado é o do fim da corrupção, e o da recuperação econômica
do país o mais rápida e consistentemente possível.
Lamento muito que isso deva frustrar
os mais acirrados militantes e os apaixonados partidários de plantão. Mas não
me verão jamais vestindo camisas de nenhum dos lados, por um motivo muito
simples e firme. Em ambos os lados que por hora se polarizam, não há qualquer
sombra de coerência no espectro mais amplo de suas aspirações. Ou seja, se não
me ouvirão gritar "fora Dilma", tão pouco levantarei a voz para dizer
"não vai ter golpe". E acreditem-me, isso não é ficar indeciso ou em cima do muro. É antes uma posição
muito firme e convicta, de quem não concorda com qualquer atitude alienada, que
fuja da responsabilidade cidadã de participar e contribuir nesse momento tão crítico
do país.
Quem me acompanha por aqui, sabe que desde
antes das eleições de 2014, venho me posicionando com clareza sobre os
movimentos, tanto da situação quanto da oposição, repudiando veementemente todas
as suas falas incoerentes e puramente partidárias. Os textos estão todos por
aqui no blog. É só buscar e ler. E se o fizerem, perceberão que minha principal
preocupação, há algum tempo, vinha sendo exatamente essa polarização burra e
partidária, que torna cega e oportunista cada movimentação nesse tabuleiro do
jogo político. E que fique claro, cega
por parte das militâncias e apaixonados, e oportunista
por parte das lideranças de direito ou de ocasião.
Penso, sem qualquer dúvida, que é
completamente conveniente, casuísta e manipuladora, a argumentação do governo
de que há um movimento golpista por parte da oposição e de determinados setores
da sociedade, que tenta lhes arrancar do poder simplesmente porque não aceitam os resultados das urnas em
outubro de 2014. Os governistas e suas militâncias tentam banalizar os
fatos, fingindo não existirem as estarrecedoras descobertas sobre a corrupção
que se instalou estruturadamente nos diversos escalões do poder.
Por outro lado, assistimos à mais tímida
e pouco convicta ação de determinados expoentes da oposição, tamanho grau de
envolvimento e sujeira em estão igualmente enterrados até o pescoço. Sim,
porque está claro para toda a sociedade, que se o atual governo e seus aliados
estão comprometidos com esse mar de lama que se agiganta a cada movimento da
operação Lava Jato, diversos oposicionistas estão apavorados com o que ainda
poderá vir a ser descoberto pelo MPF e os investigadores da PF. Nesse ponto tem
toda razão o ex-presidente Lula em sua conversa com a presidente Dilma; temos
um congresso "acovardado".
Ora, se estão acovardados diante de uma operação que avança mar de lama adentro, é porque todos têm receio de que poderão ser
descobertos a qualquer momento, passando ao discurso cínico e de aparente
indignação, condenando o sofá da sala
e o infeliz que acendeu a luz do
quarto onde, às escuras, cometiam seus crimes com tranquila e bem cômoda
impunidade.
Sou totalmente a favor, portanto, do
avanço e da continuidade implacável da operação Lava Jato. E embora entenda os
limites legais a que se deve subordinar o juiz Sérgio Moro, uma vez que
flagrantemente se joga com os parâmetros
da lei e os ritos processuais ardilosamente para favorecer criminosos, e
considerando ser isso uma inversão de propósito, gostaria de ver o foro privilegiado de todos suspenso, e
as investigações mantidas nas mãos de quem já se demonstrou imparcial e ainda
alheio ao execrável jogo de conveniências políticas, que contaminou grande
parte dos integrantes dos poderes constituídos desse país.
Mas que se perceba com isso outra
clara posição minha. Enquanto a presidente Dilma não for envolvida direta ou
indiretamente em qualquer dos crimes investigados pela operação Lava Jato em
suas mais diversas fases, e por mais legítimo que seja o processo a que
responderá pelas chamadas pedaladas
fiscais, é preciso que a legitimidade de sua eleição seja respeitada, não
se arrancando sua excelência de sua cadeira precipitadamente, antes que o
processo corra todo seu rito de legalidade. Digo isso porque, na prática e de
forma indevida, a estamos depondo mesmo antes do final do processo, provocando
em determinadas situações e circunstâncias, uma incômoda sensação de
ilegitimidade, a um processo que poderia ter, em sua vocação de espontaneidade
popular, o mais desejável e insofismável direito de se sobrepujar às manobras
de quem pretende escapar da justiça.
Por tudo isso, talvez, eu tenha
gostado tanto de ver Aécio e a comitiva do PSDB sendo hostilizada pelos
manifestantes na capital paulista, no último treze de Março, quando com a cara de pau e o oportunismo que é próprio a essa gente, tentaram se autopromover, participando
de uma manifestação onde eles seguramente não nos representavam. Até porque,
pelo andar da Lava Jato, em breve voltaremos às ruas para pedir igualmente por
investigações desses senhores, e de tantos outros que ainda se encontram em
estado de choque, depois que seus nomes e apelidos foram divulgados numa certa
lista da Odebrecht.
Assim, o que me dá a total liberdade de
assumir uma posição não polarizada por nenhum dos lados, é a firme convicção de
que nem um, nem outro, é capaz de me representar politicamente, qualquer que
seja abrangência de seus atos, ou a ambiência de suas atuações. Vivemos o mais ultrapassado
e inconveniente jeito de fazer política e de governar uma população. Nenhum dos
lados é capaz de me fazer tomar partido em seu favor. Eles não têm de mim, como
de uma boa parte da população, qualquer apreço ou predileção, e ficar com o
lado menos pior, jamais foi uma opção
aceitável para mim. Ou será que invertendo
a máxima de minha avó, eu deveria considerar que antes mal acompanhado do que só?
[1] Juan Luis Segundo foi padre católico jesuíta e
teólogo uruguaio, considerado o maior expo-ente da Teologia da Libertação na
América Latina. (1925 - 1996); fonte: Wikipédia
[2] Jung Mo Sung é um teólogo católico e cientista
da religião, coreano radicado no Brasil des-de 1966. É professor titular da
Universidade Metodista de São Paulo no Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Religião. (1957 - ); fonte: Wikipédia
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