sábado, 26 de março de 2016

Nem esquerda, nem direita. Com toda convicção


Por Jânsen Leiros Jr.


"Aprendi com Juan Luis Segundo[1] que teólogo não tomar posição em situações críticas na sociedade, para não correr risco de errar, é um erro maior."

Jung Mo Sung[2] - em seu twitter


"Concordo plenamente", respondi de pronto ao ler. E não me arrependo do que respondi, embora, confesso, não refleti nem um segundo sequer antes de escrever e enviar meu comentário. Não podemos mesmo fugir dessa responsabilidade de firmar posição, temendo que as incertezas quanto ao rumo dos fatos e das circunstâncias, nos forcem em futuro próximo ou mesmo em longo prazo, a rever posições e argumentos, defesas ou ataques, que tenhamos feito no calor do cenário em que estejamos atualmente envolvidos. É preciso coragem e posicionamento.

Afirmo isso e reafirmo, embora tenha sido, por alguns, acusado de não ter declarado abertamente a minha posição relativamente aos acontecimentos que têm causado esse turbilhão no cenário nacional brasileiro. "Você está em cima do muro", disseram, entendendo que diante das circunstâncias que estão provocando crescentes e insuportáveis incertezas na política e na economia, não tenha sido claro quanto ao lado a que me alinhei. Ora, o meu lado é tão inquestionável, tão óbvio a quem me lê regularmente... O meu lado é o do fim da corrupção, e o da recuperação econômica do país o mais rápida e consistentemente possível.

Lamento muito que isso deva frustrar os mais acirrados militantes e os apaixonados partidários de plantão. Mas não me verão jamais vestindo camisas de nenhum dos lados, por um motivo muito simples e firme. Em ambos os lados que por hora se polarizam, não há qualquer sombra de coerência no espectro mais amplo de suas aspirações. Ou seja, se não me ouvirão gritar "fora Dilma", tão pouco levantarei a voz para dizer "não vai ter golpe". E acreditem-me, isso não é ficar indeciso ou em cima do muro. É antes uma posição muito firme e convicta, de quem não concorda com qualquer atitude alienada, que fuja da responsabilidade cidadã de participar e contribuir nesse momento tão crítico do país.

Quem me acompanha por aqui, sabe que desde antes das eleições de 2014, venho me posicionando com clareza sobre os movimentos, tanto da situação quanto da oposição, repudiando veementemente todas as suas falas incoerentes e puramente partidárias. Os textos estão todos por aqui no blog. É só buscar e ler. E se o fizerem, perceberão que minha principal preocupação, há algum tempo, vinha sendo exatamente essa polarização burra e partidária, que torna cega e oportunista cada movimentação nesse tabuleiro do jogo político. E que fique claro, cega por parte das militâncias e apaixonados, e oportunista por parte das lideranças de direito ou de ocasião.

Penso, sem qualquer dúvida, que é completamente conveniente, casuísta e manipuladora, a argumentação do governo de que há um movimento golpista por parte da oposição e de determinados setores da sociedade, que tenta lhes arrancar do poder simplesmente porque não aceitam os resultados das urnas em outubro de 2014. Os governistas e suas militâncias tentam banalizar os fatos, fingindo não existirem as estarrecedoras descobertas sobre a corrupção que se instalou estruturadamente nos diversos escalões do poder.

Por outro lado, assistimos à mais tímida e pouco convicta ação de determinados expoentes da oposição, tamanho grau de envolvimento e sujeira em estão igualmente enterrados até o pescoço. Sim, porque está claro para toda a sociedade, que se o atual governo e seus aliados estão comprometidos com esse mar de lama que se agiganta a cada movimento da operação Lava Jato, diversos oposicionistas estão apavorados com o que ainda poderá vir a ser descoberto pelo MPF e os investigadores da PF. Nesse ponto tem toda razão o ex-presidente Lula em sua conversa com a presidente Dilma; temos um congresso "acovardado".

Ora, se estão acovardados diante de uma operação que avança mar de lama adentro, é porque todos têm receio de que poderão ser descobertos a qualquer momento, passando ao discurso cínico e de aparente indignação, condenando o sofá da sala e o infeliz que acendeu a luz do quarto onde, às escuras, cometiam seus crimes com tranquila e bem cômoda impunidade.


Sou totalmente a favor, portanto, do avanço e da continuidade implacável da operação Lava Jato. E embora entenda os limites legais a que se deve subordinar o juiz Sérgio Moro, uma vez que flagrantemente se joga com os parâmetros da lei e os ritos processuais ardilosamente para favorecer criminosos, e considerando ser isso uma inversão de propósito, gostaria de ver o foro privilegiado de todos suspenso, e as investigações mantidas nas mãos de quem já se demonstrou imparcial e ainda alheio ao execrável jogo de conveniências políticas, que contaminou grande parte dos integrantes dos poderes constituídos desse país.

Mas que se perceba com isso outra clara posição minha. Enquanto a presidente Dilma não for envolvida direta ou indiretamente em qualquer dos crimes investigados pela operação Lava Jato em suas mais diversas fases, e por mais legítimo que seja o processo a que responderá pelas chamadas pedaladas fiscais, é preciso que a legitimidade de sua eleição seja respeitada, não se arrancando sua excelência de sua cadeira precipitadamente, antes que o processo corra todo seu rito de legalidade. Digo isso porque, na prática e de forma indevida, a estamos depondo mesmo antes do final do processo, provocando em determinadas situações e circunstâncias, uma incômoda sensação de ilegitimidade, a um processo que poderia ter, em sua vocação de espontaneidade popular, o mais desejável e insofismável direito de se sobrepujar às manobras de quem pretende escapar da justiça.

Por tudo isso, talvez, eu tenha gostado tanto de ver Aécio e a comitiva do PSDB sendo hostilizada pelos manifestantes na capital paulista, no último treze de Março, quando com a cara de pau e o oportunismo que é próprio a essa gente, tentaram se autopromover, participando de uma manifestação onde eles seguramente não nos representavam. Até porque, pelo andar da Lava Jato, em breve voltaremos às ruas para pedir igualmente por investigações desses senhores, e de tantos outros que ainda se encontram em estado de choque, depois que seus nomes e apelidos foram divulgados numa certa lista da Odebrecht.

Assim, o que me dá a total liberdade de assumir uma posição não polarizada por nenhum dos lados, é a firme convicção de que nem um, nem outro, é capaz de me representar politicamente, qualquer que seja abrangência de seus atos, ou a ambiência de suas atuações. Vivemos o mais ultrapassado e inconveniente jeito de fazer política e de governar uma população. Nenhum dos lados é capaz de me fazer tomar partido em seu favor. Eles não têm de mim, como de uma boa parte da população, qualquer apreço ou predileção, e ficar com o lado menos pior, jamais foi uma opção aceitável  para mim. Ou será que invertendo a máxima de minha avó, eu deveria considerar que antes mal acompanhado do que só?


[1]  Juan Luis Segundo foi padre católico jesuíta e teólogo uruguaio, considerado o maior expo-ente da Teologia da Libertação na América Latina. (1925 - 1996); fonte: Wikipédia
[2]  Jung Mo Sung é um teólogo católico e cientista da religião, coreano radicado no Brasil des-de 1966. É professor titular da Universidade Metodista de São Paulo no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. (1957 - ); fonte: Wikipédia

Nenhum comentário:

Postar um comentário