Por Jânsen Leiros Jr.
A notícia não é nova, mas o assunto é
atual; o messianismo pretendido a um líder político. A ideia de um “salvador da
pátria” não é nova, e parece ser uma espécie de esperança nacional recorrente,
em particular no Brasil.
Sim, o “messias” da vez tem sido Jair
Bolsonaro, que para intensificar o fato, tem Messias no próprio nome. Mas já
ocuparam esse lugar no imaginário nacional, apenas como exemplos, Getúlio
Vargas em meados do século XX, e mais recentemente na história da república,
Luís Inácio, o Lula.
Essa ideia fixa de que a solução para os
problemas da nação repousa sobre os ombros de um líder, não apenas tende a nos
eximir inconscientemente da responsabilidade individual da qual todos nós
deveríamos nos imbuir, mas também amplia em muitas vezes a pressão sobre o
chefe do executivo, que se vê, na obrigação incondicional de acertar sempre e
de não fraquejar jamais. Isso afeta diretamente sua capacidade de avaliação e
julgamento de fatos e circunstâncias. Na esteira dessa condição, o líder se vê
obrigado a parecer, e logo mais a se pretender, um super-homem; infalível,
inatingível e todo-poderoso.
Na proporção inversa desse popular
“endeusamento” - que me critiquem os puristas, a medida que os apoiadores do líder
demonstram maior e mais incondicional devoção, seus opositores buscam por
qualquer deslize, por mais tolo e inconsequente que seja, para manchar-lhe a
imagem e desconstruir a visão de messianismo aplicado ao adversário político.
Nessa saga pela “kriptonita” política, serve sujar a família, menosprezar a
crença, generalizar comportamento de similares, ou mesmo rotular titulações
acusatórias ou mesmo condenatórias infundadas, desde que ajudem a lotar de
armadilhas o caminho do informalmente proclamado messias.
Não bastasse isso, que já seria mesmo
muito e demais, os apoiadores de tal líder tenderão sim, a considerar que seus
opositores lutam contra o “enviado de Deus”. Logo são hereges, e lutam contra
Deus. Por iniciativa própria ou inconscientemente, são usados pelo “inimigo”,
definindo lados e polarizando um enfrentamento; eles contra nós. O bem e o mal.
Haverá quem diga que é Deus contra satanás.
Quem lê até aqui, pode pensar que
falamos apenas do contexto atual em que o líder é Jair Bolsonaro. Sim, ele é em
grande medida, o indevidamente aclamado messias da vez. Mas basta retrocedermos
alguns anos em nossa história recente, que encontraremos Lula nas mesmas
circunstâncias, sendo elevado à categoria de salvador da pátria. O líder de uma
revolução social. Aquele que colocou “carne na mesa do pobre”, e que fez esse
mesmo pobre “andar de avião”. Tudo construções imaginárias convenientes e
casuístas, que garantiu-lhe o apoio popular incondicional, permitindo que se
abancasse da condição de líder máximo do executivo, para promover poderoso
aparelhamento do Estado, e um dos maiores assaltos aos cofres públicos da
história da humanidade. Será que pretendemos repetir a dose, ou já somos
adultos politicamente para acompanharmos com responsabilidade os passos de
nossas lideranças?
Sim, Sardenberg tinha toda razão de
estar preocupado à época dessa matéria, e de ainda estar, se for o caso, como
nós também estamos, e desde antes das últimas eleições. Jair Messias Bolsonaro
é Messias apenas no nome, e que fique apenas aí. Um ser humano comum e carente
de apoio, até mesmo para corrigir eventuais equívocos, próprios de quem detém
certo poder. Porque apoiadores também podem e devem discordar, sugerir
correções, estarem atentos a desvios, ajudarem numa visão mais ampla. Porque e
principalmente porque querem o bem do país e o sucesso do governo. Também os
opositores podem e devem, e o termo é esse mesmo, “devem”, apontar falhas,
sugerir alternativas, reclamar distorções. Tudo com vistas a um país melhor.
Está mais do que na hora de, em vez de
governos, pensarmos em Estado brasileiro. Que pode alternar de administração,
mas jamais deixar de saber para onde caminha e quais objetivos quer alcançar.
Chega de vivermos de ícones políticos, de salvadores da pátria, de bem feitores
nacionais, de um ideário Sassá Mutema.
Somos uma nação. Constituída de um povo
que precisa amadurecer. Crescer economicamente para tornar-se sustentável, e
capaz de caminhar com ou apesar de seus líderes.
O que precisamos é de uma pátria salva.
Salva da miséria, da mesquinheis, da corrupção, das negociatas, das bravatas
dos manipuladores, dos políticos de carreira, dos usurpadores do poder, dos que
se elegem para servirem aos próprios interesses; a lista tenderia ao infinito.
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