Por Jânsen Leiros Jr.
25 Jesus, porém,
conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino
dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida
contra si mesma não subsistirá.
Mateus 12:-25
Costumo ser avesso a posicionamentos
acalorados e efusivos, pois entendo que na maioria das vezes, quem assim se
coloca, corre o risco de deixar de fora algo que não percebeu sobre o assunto.
E por isso tentarei ser minimamente emocional, ainda que contundente, para que não
ultrapasse o limite do imparcial,
mesmo que de imparcial pouco ou quase nada tenham minhas motivações; milito
flagrantemente em favor do Brasil.
A campanha de segundo turno para eleição
de presidente da república está repetitiva e reveladora. Repetitiva no baixo
nível de ataques de parte a parte, e na incapacidade de se apresentar propostas
exequíveis e projetos de país, que deixem o conforto de seus programas de
governo quase escondidos em sites pouco acessados, e ganhem as ruas e o
interesse da população, demonstrando claramente onde querem chegar, e como e a
que preço. Em vez disso, repetem a velha máxima de dizerem o que o povo gosta
de ouvir, polarizando a campanha e dividindo o eleitorado entre eles e nós. Tudo bem que nessas características ambos os lados tenham suas
proeminências, mas tal perfil de campanha cola igualmente em ambas as
campanhas.
Ora, o que há de novo então? Quase nada,
mas de revelador, muita coisa. E podemos começar pela maneira declarada como a
mídia quase que em sua totalidade, decidiu-se por um dos lados, direcionando
seu jornalismo a apurações viciadas e a noticiários tendenciosos. E mais, à
medida que nos aproximamos do pleito, intensifica-se a farta distribuição de
frases e atos, vistos e ouvidos convenientemente, de modo a influenciar direta
ou indiretamente nos resultados das urnas.
Ora, não há aqui qualquer inocência
quanto a inevitável postura assumida em favor desse ou aquele candidato, que
qualquer meio de comunicação acaba por declarar nas entrelinhas. Mas ser tão
explicitamente contra um dos lados, e praticamente tentar decidir o pleito goela abaixo da população, é
completamente incomum e revelador da imensa preocupação com a eventual vitória
do candidato a quem não escolheram. O extremo empenho em desconstruir a imagem
de um em favor do outro, já passou dos limites aceitáveis da predileção, e
avança pelos descaminhos da tentativa imprópria de induzir e influenciar a
benefício próprio, o livre direito de escolha da população. Inevitavelmente vem
à mente um simples questionamento: o que pretendem ou o que temem?
E se de um lado temos a imprensa
formal trabalhando conforme suas
conveniências, do outro temos uma incômoda e frenética produção de notícias
falsas entupindo as redes socias, causando alarmismo desenfreado, em quem tem
boa fé e entende que uma escolha democrática, passa pela lisura do processo, e
que temem ter esse processo corrompido, a despeito da escolha legítima da
maioria. Fraudes, factoides e ameaças à integridade dos candidatos, entram e
saem de nossos celulares e computadores, numa enxurrada de versões e acusações
mútuas, que revela uma insuportável tentativa de manipular as massas. Seja pela
mídia convencional, seja pelas redes sociais, há um sôfrego movimento que tenta
roubar eleitores no limite de suas escolhas.
Jovem é indiciada por falsa comunicação de crime |
De tudo isso, porém, há algo que me
entristece e preocupa crescentemente. É flagrante o crescimento da intolerância
e do desejo de poder sobre o outro, tanto
na imposição das ideias, quanto da uniformidade de opiniões. É claro que
qualquer um tem o direito de não querer me ouvir, ou mesmo de não querer ler o
que eu escrevo. E é simples exercer esse direito. Basta não me dar ouvidos,
basta não querer nem mesmo ver esse meu texto. Nesse ato há direitos
garantidos; o meu de falar, e o do outro de não me ouvir. O meu de escrever e do
outro de sequer querer ler. Simples assim. Mas o que estamos assistindo de
forma crescente e galopante, e que não deverá recuar nem mesmo com o fim das
eleições, é o impulso incontrolável que se declara vívido em muitos, de querer
me calar a voz, arrancar da mão a caneta, e de obrigar o semelhante a ouvir e a
ler o que o outro pretende.
Urnas fraudadas teriam sido encontradas já com votos computados em favor de um dos candidatos |
Para ficar mais familiar o que digo, nunca antes na história desse país,
democracia foi uma palavra tão abertamente repetida, mas tão pouco efetivamente
defendida. Porque a condição preponderante da democracia é o direito à
expressão, a liberdade de pensar diferente, e a possibilidade de opinar sobre qualquer
coisa. E isso não vem mais acontecendo em nossa sociedade. Se alguém ousar
desses direitos fazer uso, é tolhido, cerceado, alijado, ou ainda sofre
bullying. É quase sempre interpretado à luz de vieses ideológicos viciados, e é
rotulado com palavras que visam agredir, e que trazem em seu conceito, muito
mais do que se pretende dizer. Ou é falta de vocabulário dos agressores, ou
crueldade semântica de verdade. Ou seriam as duas coisas?
De qualquer maneira, e seja por qual
motivo for, estamos experimentando um verdadeiro racha da sociedade brasileira. E esse racha se estende a amizades e
laços familiares, onde integrantes se agridem e se detestam por conta de suas
predileções políticas. Mesmo em comunidades religiosas assistimos o velho e visceral
exercício do desejo de se sobrepujar ao outro, de se impor ideias e modelos
particulares de se ver o mundo. Quais as chances de sairmos melhores de um
momento como esse? Quais as possibilidades de construirmos um país melhor, se a
hipótese de descartarmos pessoas contrárias é admissível, diante do triunfo de
nossas predileções políticas? Todo reino
dividido contra si mesmo ficará deserto.
Até quando nos permitiremos ser o que
querem que sejamos? Até quando iremos credulamente crer no que querem que
creiamos? Até quando beijaremos a mão dos coronéis? Até quando expressaremos a
vontade de terceiros, ou lutaremos por ideais que nos impõem? Que tenhamos
sempre consciência crítica sobre o que nos oferecem de informação, e
fortaleçamos o sentimento de que estamos todos no mesmo time. Somos uma nação,
somos todos brasileiros.
Penso assim também. Não importa quem vai ganhar o pleito, todos nós já perdemos como nação por causa da nossa desunião. Ainda bem que tudo passa. Espero que ao menos nos sirva a lição e nos torne pessoas melhores de alguma forma.
ResponderExcluirExcelente! É isso mesmo. Parabéns.
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