terça-feira, 22 de outubro de 2024

Normalização da corrupção: A ética em perigo!


 Por Jânsen Leiros Jr. 

 "De tanto ver prosperar a desonestidade, o homem honesto desanima; e, de tanto ver triunfar a mentira, chega-se a duvidar da verdade." - Rui Barbosa

 "A desonestidade é um vício que se multiplica e se contagia; e quem não se opuser a ela, se tornará seu cúmplice." - Rui Barbosa na abertura do Senado, em 1930, e é uma reflexão sobre a corrupção e a responsabilidade individual na luta contra a desonestidade.

 "A corrupção não é apenas um crime; é um crime que mata a esperança." - Mario Vargas Llosa; Esta frase discute a corrupção como um problema que afeta a confiança e a esperança nas sociedades.

 "A desonestidade é como uma bola de neve: quanto mais rola, maior se torna." - Henry Ward Beecher; essa citação reflete a ideia de que a desonestidade tende a se espalhar e se intensificar.

 "Um país é respeitado pela honestidade de seus cidadãos." – Confúcio; reflete o valor da honestidade na construção da integridade de uma nação.

 "A verdade pode ser ofuscada, mas não será jamais vencida." - Victor Hugo

 

Vivemos em um tempo onde a ética e a honestidade parecem ser cada vez mais desconsideradas em um mundo dominado por interesses pessoais e pragmatismos egoístas. A corrupção, que um dia foi vista como uma mancha na integridade social, agora é frequentemente tratada como uma norma aceitável, um mal necessário com que todos, de alguma forma, aprendemos a conviver. Essa normalização da desonestidade gera um ciclo vicioso que contamina nossas relações pessoais, comerciais e até institucionais. O que poderia ser um mero deslize moral transforma-se em um comportamento corriqueiro, e, como resultado, a confiança nas relações humanas se esvai.

É urgente, portanto, olharmos para as raízes desse desvio ético e entendermos como, ao longo da história, diversas correntes de pensamento buscaram justificar ou minimizar a importância da moralidade em nossas vidas. Precisamos resgatar a reflexão crítica e a indignação diante da desonestidade, pois a ética não é um mero detalhe, mas o alicerce de uma sociedade justa e íntegra.

Assim, iniciaremos nossa tarefa compondo um retrato dessa realidade, de modo a nos permitir, na sequência, trabalhar com as hipóteses e sugestões de ações dirigidas e necessárias.

A Falta de Ética e Moralidade

A ética parece ter se dissipado, dando lugar a uma cultura de impunidade. Como já dizia o filósofo alemão Immanuel Kant, "A moralidade não é um conceito isolado; é uma estrutura que sustenta a sociedade." Quando comportamentos antiéticos se tornam a norma, a moralidade coletiva se fragiliza. A desvalorização da ética na vida cotidiana é um dos principais combustíveis que alimentam essa engrenagem de fraudes e corrupção. Em uma sociedade onde a ética é relegada a um segundo plano, a confiança entre indivíduos e instituições é erodida, e os laços sociais se tornam frágeis.

É fundamental compreender que a ética não é apenas um conjunto de regras a ser seguido; ela é um reflexo da cultura de um povo. Quando a ética é negligenciada, cria-se um espaço onde a mentira e a manipulação se tornam estratégias aceitáveis para alcançar objetivos pessoais. Essa distorção de valores gera um ciclo vicioso, onde a cada dia mais indivíduos se sentem justificados a agir de forma antiética, perpetuando comportamentos que, a longo prazo, corroem a própria essência da sociedade.

A crise ética que vivemos se reflete não apenas nas ações individuais, mas também nas estruturas institucionais. A falta de transparência e responsabilidade em órgãos públicos e empresas cria um ambiente propício para a corrupção. Como disse o filósofo Michel Foucault, "O poder não é uma coisa, mas uma relação." Essa relação se torna distorcida quando a ética é deixada de lado, permitindo que interesses pessoais prevaleçam sobre o bem comum.

Insegurança Jurídica

A insegurança jurídica é um fator crucial nesse cenário, contribuindo para a perpetuação de comportamentos corruptos. O sociólogo Zygmunt Bauman fala sobre a "liquidez" das instituições modernas, que tornam as regras e leis instáveis e muitas vezes ineficazes. A fragilidade das instituições jurídicas faz com que muitos brasileiros sintam que a justiça não é acessível ou igualitária. Quando as pessoas percebem que a justiça não é cega, mas sim um reflexo da desigualdade social e econômica, a tendência é que busquem soluções próprias, ainda que ilegais.

Além disso, a lentidão dos processos judiciais e a morosidade das investigações alimentam um clima de impunidade. Quando as consequências de ações ilegais demoram a se materializar, o comportamento corrupto é reforçado. A sensação de que "nada vai acontecer" pode ser uma motivação poderosa para quem considera cruzar a linha. É nesse contexto que se torna necessário discutir a importância de uma reforma que não apenas agilize os processos, mas também fortaleça a confiança na justiça.

Essa insegurança também é alimentada por um sistema que parece proteger mais os poderosos do que os cidadãos comuns. A percepção de que grandes figuras conseguem escapar das punições alimenta a frustração e o cinismo. Como advertiu o filósofo Hannah Arendt, “a banalidade do mal” pode se manifestar quando as injustiças se tornam comuns e as pessoas aceitam a corrupção como parte da vida cotidiana.

Desigualdade Social

A desigualdade social que permeia a sociedade brasileira é outro fator que impulsiona a corrupção. O filósofo e economista Karl Marx enfatizava que "a luta de classes é a força motriz da história." Quando a disparidade econômica é tão gritante, alguns indivíduos veem no crime uma maneira de alcançar o que lhes parece justo, ou até mesmo uma forma de sobrevivência. Essa luta pela sobrevivência se transforma em um ciclo de ações que corroem os princípios éticos, levando à normalização do crime como uma resposta a condições opressivas.

Essa desigualdade não se manifesta apenas em termos de renda, mas também em acesso a oportunidades e serviços básicos. A falta de educação, saúde e emprego dignos gera um ambiente onde a corrupção pode ser vista como uma opção viável para muitos. O sociólogo Pierre Bourdieu destacou a importância do "capital simbólico", referindo-se à maneira como a posição social de um indivíduo pode influenciar suas oportunidades e a percepção de seu valor na sociedade. Quando o acesso a esse capital é restrito, a tentação de buscar alternativas ilegais para ascender na hierarquia social aumenta.

Além disso, o desespero econômico pode levar à conformidade com comportamentos corruptos, onde a sobrevivência diária se sobrepõe a considerações éticas. A percepção de que a corrupção é uma "opção válida" para escapar da pobreza cria um ciclo perigoso, perpetuando a ideia de que a ética é um luxo que poucos podem se dar ao direito.

Tecnologia e Vulnerabilidades

Com o advento da tecnologia, novos tipos de fraudes emergem, aproveitando a falta de educação digital da população. Como observa a filósofa Byung-Chul Han, "A sociedade do desempenho não tolera fraquezas." A pressão para se destacar, combinada com a facilidade de acesso à informação, cria um terreno fértil para a desonestidade. Essa nova realidade digital traz desafios e vulnerabilidades que são frequentemente explorados por golpistas, levando a um aumento dos casos de fraudes online.

A tecnologia, enquanto ferramenta poderosa, pode ser uma faca de dois gumes. A interconexão e a facilidade de comunicação propiciam a disseminação de informações, mas também criam um ambiente propício para a desinformação e os golpes. Isso se torna ainda mais problemático em um país como o Brasil, onde a educação digital é muitas vezes precária. A falta de conhecimento sobre segurança online torna a população vulnerável e suscetível a fraudes.

Além disso, a rápida evolução tecnológica pode criar um hiato entre aqueles que se adaptam a essas mudanças e aqueles que ficam para trás. Esse abismo digital pode exacerbar a desigualdade social e econômica, fazendo com que os menos favorecidos sejam ainda mais explorados. Como disse o filósofo Marshall McLuhan, "O meio é a mensagem." A maneira como utilizamos a tecnologia molda nosso comportamento, e quando essa tecnologia é mal utilizada, as consequências podem ser devastadoras.

Cultura do Jeitinho

A famosa "cultura do jeitinho brasileiro" também é uma questão central nesse debate. O sociólogo Roberto DaMatta nos lembra que "o jeitinho é um modo de vida, uma forma de contornar regras." Quando a criatividade para driblar as normas se transforma em um valor, a ética se dissolve, e o comportamento corrupto se torna não apenas aceitável, mas até admirado. Essa mentalidade alimenta a ideia de que encontrar brechas na lei é uma habilidade, não uma transgressão.

Essa cultura do jeitinho é um reflexo de uma sociedade que, por vezes, se sente impotente diante de instituições que parecem distantes e ineficazes. A capacidade de contornar regras, de "dar um jeito", pode ser vista como uma forma de resistência em um sistema que não oferece soluções adequadas. No entanto, essa mesma resistência pode criar um ciclo vicioso onde a corrupção se torna uma prática comum e esperada, desvalorizando a ética e a responsabilidade social.

Além disso, o jeitinho brasileiro não é apenas uma questão de comportamento individual, mas também um reflexo de um sistema que muitas vezes falha em proporcionar alternativas éticas viáveis. Quando as regras são percebidas como injustas ou desatualizadas, a tentação de burlar essas regras se torna uma escolha “racional” para muitos. Essa complexidade torna a cultura do jeitinho um fenômeno profundamente enraizado e difícil de erradicar, exigindo um esforço conjunto para reverter essa lógica.

Influência de Líderes

A liderança, tanto política quanto empresarial, tem um papel crucial na formação de valores sociais. O filósofo Hannah Arendt alertava para o "banal do mal", onde a normalização de comportamentos antiéticos por líderes pode influenciar a sociedade como um todo. Se aqueles que ocupam posições de destaque não pautam suas ações pela integridade, como esperar que as massas ajam de forma diferente? Essa desconexão entre líderes e a população gera uma desilusão que contribui para a falta de confiança nas instituições.

Quando líderes se envolvem em práticas corruptas ou falham em prestar contas de suas ações, isso gera um efeito cascata. A percepção de que a corrupção é uma prática comum entre os poderosos faz com que a população se sinta desencorajada a agir de maneira ética. A filósofa Judith Butler nos lembra que a "ação ética" é uma responsabilidade compartilhada, e quando líderes falham nesse aspecto, todos são afetados.

A influência de líderes éticos é, portanto, essencial para a construção de uma cultura de integridade. Eles devem não apenas se comportar de maneira ética, mas também criar um ambiente onde a ética é valorizada e recompensada. A responsabilidade não recai apenas sobre os indivíduos, mas sobre aqueles que lideram e moldam as normas sociais.

Falta de Educação e Conscientização

Por fim, a falta de educação e conscientização sobre direitos e deveres cívicos é um grande obstáculo à construção de uma sociedade mais ética. Platão já afirmava que "a educação é a melhor provisão para a velhice." Investir na formação ética desde a infância é essencial para reverter esse cenário, pois sem uma base sólida de ética e moral, mudanças significativas se tornam difíceis. Uma população educada e consciente é menos propensa a aceitar comportamentos corruptos e mais inclinada a exigir responsabilidade.

A educação deve ir além do conhecimento acadêmico; ela deve incluir a formação moral e cívica, preparando os cidadãos para compreenderem suas responsabilidades em uma democracia. Isso significa ensinar não apenas sobre direitos, mas também sobre deveres e a importância de uma sociedade ética. A filósofa Martha Nussbaum defende a "educação para a cidadania", onde a formação de valores éticos é fundamental para o desenvolvimento de cidadãos críticos e responsáveis.

Além disso, a conscientização sobre os impactos da corrupção e dos comportamentos antiéticos deve ser uma prioridade. Campanhas educativas que abordem as consequências da corrupção e promovam a transparência podem ajudar a moldar uma nova geração de cidadãos mais comprometidos com a ética e a justiça social. Essa transformação não ocorrerá da noite para o dia, mas um compromisso contínuo com a educação ética pode ser o primeiro passo para um futuro mais íntegro.

Conclusão

                O que estamos vivendo hoje é mais do que uma crise passageira; trata-se de um profundo colapso moral que afeta todas as esferas da nossa sociedade. A corrupção e o desvio de conduta não são apenas consequências isoladas, mas sintomas de um sistema em ruínas. É imperativo que promovamos uma verdadeira revolução cultural, onde a ética e a integridade não sejam exceções, mas fundamentos inegociáveis. Precisamos fortalecer urgentemente nossas instituições e garantir que as leis sejam aplicadas de maneira implacável e justa, para todos. Apenas assim poderemos restaurar a confiança perdida e, mais do que isso, reacender o valor da ética em nosso cotidiano. Este é um chamado à ação coletiva, à reconstrução do tecido moral de nossa nação. O futuro depende da nossa capacidade de enfrentar esse desafio com coragem e determinação.

sábado, 28 de setembro de 2024

Fim das eleições. De volta ao presente possível e real

Por Jânsen Leiros Jr.

 "A democracia é o processo que garante que não sejamos governados melhor do que merecemos." - Bertrand Russell

Com ironia, Russell sugere que o estado do governo reflete a qualidade de participação e engajamento do povo, e, implicitamente, a apatia ou indiferença dos eleitores pode resultar em líderes que não os inspiram.

"Uma pessoa não pode, sem degradar-se, consentir em ser governada por um poder que considera ilegítimo." - Simone Weil

Weil destaca a questão da legitimidade, sugerindo que, quando os eleitores veem o processo eleitoral ou os candidatos como ilegítimos, eles acabam desiludidos e apáticos em relação à política.

"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam." - José Ortega y Gasset

Ortega y Gasset sugere que a apatia tem consequências graves, pois ela permite que indivíduos menos capacitados ou pouco inspiradores ocupem cargos de poder.

"A apatia dos cidadãos em uma democracia é uma porta aberta para a tirania." - Alexis de Tocqueville

Tocqueville alerta para os perigos da apatia generalizada, que pode minar os alicerces da democracia e facilitar a ascensão de regimes autoritários.

"A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada." - John Stuart Mill

Mill destaca a passividade e a inércia como condições que permitem a degradação moral e política de uma sociedade, apontando indiretamente para a apatia dos eleitores como um fator que perpetua maus líderes.

"A política é um jogo cujo resultado depende daqueles que não jogam." - Pierre Bourdieu

Bourdieu critica o desinteresse dos cidadãos pela política, sugerindo que essa indiferença acaba determinando os resultados eleitorais, favorecendo os políticos que têm controle sobre os que participam.

Estamos chegando ao fim de mais um período eleitoral. Talvez em algumas capitais ainda haja um segundo turno, mas em grande parte do Brasil, a "festa" das campanhas logo chegará ao fim. Para muitos, especialmente aqueles que encontram uma fonte temporária de renda nesse período, como publicitários, coordenadores de campanha, cabos eleitorais e pequenos empresários, o fim das eleições significa o retorno à realidade, o fim do "bônus" sazonal, da renda extra que as campanhas oferecem.

Para nós, "pobres mortais" — aqueles que estão do lado de cá das telinhas, sejam da TV ou do celular, que assistimos a esse espetáculo de promessas e devaneios — o fim desse circo eleitoral é quase um alívio. Afinal, quem aguenta mais jingles repetitivos, frases feitas e slogans vazios? São semanas em que nossa rotina é interrompida por discursos que, na maioria das vezes, não falam nada com nada, ou sequer nos conectam com algo relevante ou mesmo aproveitável.

O jogo político sempre nos empurra para uma falsa dicotomia. De um lado, os que dizem que tudo vai bem, que o progresso está em marcha, e que só falta um "pouquinho mais" para atingirmos a condição perfeita de funcionamento de toda a estrutura pública. Do outro lado, estão os que pintam o cenário como se estivéssemos à beira do apocalipse, afundados em um abismo cujo escape depende deles — e só por eles. E a nós, no meio dessa guerra de narrativas, resta o cansaço e uma certa frustração, como se fôssemos obrigados a escolher entre o ruim e o menos pior. Nesse cenário, a apatia se instala. Talvez os números de abstenções, votos nulos e votos em branco nas últimas cinco eleições municipais traduzam essa realidade. 

Fonte: TSE; produção gráfica Data Link Web/Ipeges

O que me incomoda — e acredito que incomoda muitos de vocês igualmente — é que as campanhas políticas são, em sua maioria, movimentos meramente oportunistas. Muitos candidatos enxergam a política como uma máquina para se locupletar, buscando acessar a estrutura pública para atender seus próprios interesses, ou ainda interesses de grupos organizados em diversos setores da sociedade. A retórica bem pensada é apenas uma fachada atraente. É claro que não devemos ser injustos: existem aqueles que realmente querem algo melhor para suas cidades e que têm compromisso genuíno com suas comunidades. Eu mesmo conheço alguns. Mas, convenhamos, são poucos. Muito menos do que deveria. Identificá-los não é tarefa fácil.

Nosso papel, enquanto eleitores, por mais cansados e desiludidos que estejamos, é o de saber separar o joio do trigo. Em meio a esse mar de candidatos, precisamos ser cirúrgicos. Identificar aqueles que realmente se preocupam com o bem-estar coletivo, com o futuro das nossas cidades e, entre eles, escolher quem mais se aproxima dos nossos valores e da nossa visão de mundo.

A grande lição, olhando para as frases que abrem este texto, é que o voto não é, e nem pode ser, apenas uma obrigação civil. É, antes, uma enorme e necessária responsabilidade. Não se trata de acertar na escolha do candidato perfeito — porque ele, provavelmente, nem existe — mas de exercer esse direito com consciência, com a motivação certa, pensando no que realmente importa para a nossa cidade, para a nossa família, para o nosso cotidiano. Entendendo que a pretensa isenção, nesse processo, não existe. Quer queiramos, quer não, até mesmo nosso eventual não envolvimento interfere no resultado das urnas, e, consequentemente, na realidade do lugar em que vivemos.

                Que, ao depositarmos nosso voto na urna, possamos fazê-lo com a plena certeza de que estamos cumprindo nosso dever cívico da maneira mais honesta possível, e com um olhar atento para o futuro de todos nós... de todos!

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

O que vemos e não vemos na guerra Israel x Hamas - um pano de fundo

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Citações de Líderes de Países Inimigos de Israel

"Israel deve ser varrido do mapa."

Mahmoud Ahmadinejad – Ex-presidente do Irã, pertencente ao governo teocrático iraniano (Discurso em conferência em 2005).

 "Se os judeus se reunirem em Israel, será mais fácil matá-los de uma vez só."

Hassan Nasrallah – Líder do Hezbollah (grupo extremista – em entrevista em 2002).

 "A luta será continuada até que toda a Palestina seja libertada e Israel seja eliminado."

Yasser Arafat – Líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) - Discurso de 1974.

"O regime sionista é um tumor cancerígeno que deve ser removido."

Ali Khamenei – Líder Supremo do Irã - Discurso em 2018.

"O estado de Israel é ilegítimo e deve ser combatido até ser destruído."

Ismail Haniyeh – Líder do Hamas (grupo extremista – em entrevista de 2006).

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Citações de Líderes de Países Inimigos de Israel na ONU

Recep Tayyip Erdoğan – Presidente da Turquia:

"Israel é um estado terrorista que está cometendo um genocídio contra os palestinos." (Discurso na ONU em 2014).

Mahmoud Abbas – Presidente da Autoridade Palestina:

"Israel está realizando uma limpeza étnica contra os palestinos e criando um regime de apartheid." (Discurso na ONU em 2011).

Mohammad Javad Zarif – Ex-ministro das Relações Exteriores do Irã:

"O comportamento de Israel contra os palestinos é uma vergonha moral para o mundo." (Discurso na ONU em 2019).

 

Citações de Líderes israelenses

Meir Kahane – Fundador do partido Kach (banido por extremismo):

"Os árabes são um câncer no corpo de nossa nação e devem ser removidos." (Discurso em 1980).

Rabbi Ovadia Yosef – Líder espiritual do partido Shas (2010):

"Os árabes são cobras. Deus deveria castigá-los com pragas." (Sermão de 2010).

Ayelet Shaked – Ministra da Justiça de Israel (2014):

"O povo palestino é o inimigo, e seu sangue deve estar nas mãos de Israel." (Postagem no Facebook em 2014).

Yitzhak Shamir – Ex-Primeiro-ministro de Israel (1988):

"Os árabes devem ser espancados e forçados a rastejar." (Declaração a jornalistas em 1988).

Ariel Sharon – Ex-Primeiro-ministro de Israel (2001):

"Todo mundo tem que mexer com os palestinos, eles são terroristas natos." (Entrevista em 2001).

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Citações de Líderes israelenses na ONU

Benjamin Netanyahu – Primeiro-ministro de Israel (2016):

"O Conselho de Direitos Humanos da ONU tem sido uma farsa, atacando Israel repetidamente enquanto ignora os verdadeiros culpados das atrocidades no mundo árabe." (Discurso na ONU, 2016).

Abba Eban – Ex-Ministro das Relações Exteriores de Israel (1973):

"Os palestinos nunca perdem uma oportunidade de perder uma oportunidade." (Discurso na ONU, 1973).

O conflito entre Israel e Palestina, com sua escalada recente e o envolvimento contínuo do grupo Hamas, é apenas mais um capítulo em uma história que atravessa séculos. Para compreendê-lo plenamente, é necessário mergulhar nas profundezas de uma disputa territorial, religiosa e política que remonta a tempos antigos, mas que, ao longo do século XX, ganhou contornos ainda mais violentos e complexos. Com raízes na antiga Palestina e no renascimento do nacionalismo judaico no final do século XIX, a fundação do Estado de Israel em 1948 foi um marco importante, mas também o início de uma série de confrontos com os árabes da região, especialmente os palestinos, que até hoje lutam por um Estado próprio.

A rivalidade histórica entre israelenses e palestinos pode ser traçada até os primeiros movimentos sionistas no final do século XIX, quando judeus, principalmente da Europa, começaram a imigrar para a Palestina, então parte do Império Otomano. A perseguição na Europa, sobretudo o Holocausto, intensificou essa migração. Após a Segunda Guerra Mundial, o Plano de Partilha das Nações Unidas de 1947 propôs a criação de dois estados: um para os judeus e outro para os árabes. No entanto, os países árabes rejeitaram essa solução, e o conflito armado irrompeu. A guerra de 1948 culminou na criação de Israel, mas também no deslocamento de centenas de milhares de palestinos, que viria a se tornar um dos principais focos da discórdia no Oriente Médio.

Desde então, a história tem sido marcada por uma sequência de guerras, acordos fracassados e ataques terroristas. Um dos fatores centrais para a perpetuação deste conflito é a presença de grupos como o Hamas, que surgiu nos anos 1980 como uma facção islâmica resistente à presença israelense. O Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007, adota uma postura abertamente hostil a Israel, com atentados suicidas e ataques com foguetes contra civis israelenses, ações estas que acabam justificando uma série de retaliações militares de grande escala por parte de Israel. Como argumentam analistas, as ações de Israel, frequentemente violentas e letais, são em grande parte uma resposta à contínua ameaça representada por esses ataques.

Apesar disso, o ciclo de violência entre os dois lados parece inquebrável. De um lado, os israelenses justificam suas ofensivas militares como uma defesa contra ameaças terroristas, como os milhares de foguetes disparados pelo Hamas, muitos deles em áreas residenciais. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou recentemente que "Israel tem o direito e o dever de se defender contra uma organização terrorista que busca sua destruição." Netanyahu, ao longo de sua carreira política, sempre defendeu medidas de segurança rigorosas como resposta às ameaças palestinas.

Por outro lado, os palestinos, tanto na Cisjordânia quanto em Gaza, vivem sob uma ocupação militar israelense, com restrições severas de movimento, uma economia fragilizada, e, em muitos casos, sem acesso adequado a serviços essenciais. Para muitos palestinos, a resistência, seja ela militar ou política, é vista como uma luta por liberdade e dignidade. O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em diversos discursos, mantém a retórica de que "a resistência armada é o único caminho para libertar a Palestina". Essa visão, no entanto, reforça a violência cíclica, onde cada ação de um lado provoca uma reação ainda mais intensa do outro.

A comunidade internacional, historicamente dividida, também tem um papel ambíguo nesse conflito. Apoiadores de Israel, como os Estados Unidos, frequentemente ressaltam o direito à autodefesa do Estado israelense, fornecendo apoio militar e diplomático. O presidente Joe Biden, por exemplo, afirmou em 2021 que "nenhum país pode tolerar ataques indiscriminados contra seus cidadãos" ao defender o apoio americano a Israel em meio a ataques do Hamas. Ao mesmo tempo, críticos internacionais, especialmente em organismos como as Nações Unidas, denunciam a ocupação israelense e o bloqueio de Gaza como causas fundamentais do conflito, clamando por um retorno às negociações de paz e por uma solução de dois estados.

O conceito de legitimidade moral também permeia esse conflito. Até onde vai o direito de Israel de se defender sem violar os direitos humanos dos palestinos? Quando uma resposta a um ataque se transforma em retaliação desproporcional? O número de civis mortos, especialmente entre os palestinos, é um dado que não pode ser ignorado. Organizações de direitos humanos como a Anistia Internacional frequentemente acusam Israel de uso excessivo da força, apontando que a maioria das vítimas em Gaza são civis, incluindo mulheres e crianças. Essas mortes alimentam um ciclo de ódio que parece não ter fim.

O que agrava essa questão é o fato de que, no discurso popular, a voz da paz é constantemente abafada pelas explosões e retaliações. Em ambos os lados, existem aqueles que defendem o diálogo, a coexistência e uma solução pacífica, mas essas vozes são frequentemente ignoradas em meio ao barulho das armas. A ex-política israelense Tzipi Livni, uma defensora da solução de dois estados, já declarou que "a paz é a única verdadeira segurança que Israel pode ter", mas essa visão parece estar cada vez mais distante, à medida que extremistas de ambos os lados ganham força.

No entanto, será que um caminho para a paz é possível? O futuro do Oriente Médio, e talvez do mundo, depende de uma resposta a essa questão. O que está em jogo não é apenas a sobrevivência de Israel ou o reconhecimento de um Estado palestino, mas também a estabilidade regional e global. Com o envolvimento de potências internacionais e a ascensão de grupos extremistas em todo o mundo, o conflito israelense-palestino torna-se um microcosmo de questões globais maiores: como equilibrar segurança com justiça, como reconciliar diferenças culturais e religiosas, e como alcançar a paz em meio a séculos de desconfiança e ódio.

Enquanto assistimos a mais um episódio deste conflito interminável, somos obrigados a refletir: haverá um ponto de ruptura? O ódio acumulado pode ser superado? E, em última análise, a paz que tantos clamam, mas que poucos parecem buscar ativamente, é realmente possível no Oriente Médio e no mundo como o conhecemos?


domingo, 22 de setembro de 2024

Quando a retórica é tão ou mais cruel que a realidade

Por Jânsen Leiros Jr.

“Há de fato um aumento preocupante nas mortes de crianças indígenas entre 2022 e 2023. De acordo com o relatório "Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil", elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), as mortes de crianças indígenas de 0 a 4 anos aumentaram 24,55% nesse período. Em 2022, foram registradas 835 mortes, enquanto em 2023 o número subiu para 1.040. O Amazonas lidera os estados com o maior número de casos, seguido por Roraima e Mato Grosso. Esses dados foram obtidos através do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (Siasi)” – matéria do Link Our View 

 

"A mentira política não consiste em dizer o que não é verdade, mas em apresentar como verdadeira uma promessa que não tem intenção de cumprir." – Hannah Arendt (1906-1975)

"O homem superior age antes de falar, e depois fala de acordo com suas ações." – George Orwell

"O objetivo do poder é o poder. E as mentiras são usadas como ferramentas para mantê-lo." – Confúcio

É revoltante e doloroso observar que, mesmo com a troca de governo e a criação do tão alardeado Ministério dos Povos Originários, a realidade vivida pelas crianças indígenas no Brasil continua trágica e inaceitável. Entre 2022 e 2023, houve um aumento expressivo na mortalidade infantil entre crianças indígenas de 0 a 4 anos, totalizando 1.040 óbitos em 2023. Esse número reflete não apenas o abandono, mas também o descaso flagrante com essas populações vulneráveis. São mortes que poderiam ser evitadas com medidas básicas de saúde, como acesso a medicamentos, saneamento adequado e alimentação, especialmente considerando que muitas dessas mortes foram causadas por desnutrição e a falta de remédios simples.

O descompasso entre o discurso oficial do governo e a realidade no terreno é gritante. No plano retórico, houve a criação de um ministério, chefiado por uma mulher indígena, algo que parecia, à primeira vista, um avanço concreto na representação e no cuidado dos povos originários. No entanto, a gestão e a prática mostram que pouco foi feito para mudar a dura realidade de quem vive nas comunidades indígenas. Como pode um governo que se comprometeu a proteger esses povos permitir que crianças morram por falta de assistência médica básica?

O discurso de proteção dos povos indígenas é vazio enquanto vidas são perdidas em números tão alarmantes, especialmente quando se sabe que essas mortes são evitáveis. A promessa de apoio e proteção virou uma verdadeira farsa. Não basta criar ministérios ou cargos de destaque se as políticas não chegam às aldeias, se o apoio efetivo não alcança as crianças que morrem por doenças curáveis ou evitáveis.

Os Yanomami, em particular, enfrentam uma crise humanitária devastadora, que se agrava pela presença de garimpeiros ilegais em suas terras, contribuindo para o aumento da mortalidade infantil. A falta de controle sobre essas invasões é uma evidência gritante de que o Estado falhou na proteção das comunidades, permitindo que seus territórios fossem saqueados, seus recursos roubados, e suas crianças morressem pela omissão de políticas públicas.

É inadmissível que, em pleno século XXI, um país com tantos recursos como o Brasil continue negligenciando os povos indígenas, que há séculos são sistematicamente marginalizados e abandonados. As mortes de 1.040 crianças indígenas em 2023, e as mais de 3.500 nos últimos cinco anos, são um verdadeiro escândalo humanitário. O governo federal precisa ser veementemente cobrado a atuar com urgência para reverter esse cenário de genocídio silencioso.

Este é um apelo por ação imediata! A criação de um ministério e a promessa de atenção especial aos povos originários não podem continuar sendo apenas um gesto simbólico e vazio. É preciso transformar o discurso em realidade, com uma presença constante e eficaz do Estado nas aldeias, garantindo assistência médica, segurança alimentar e condições dignas de vida para as crianças e suas famílias.

O Estado brasileiro deve ser responsabilizado por essa tragédia e, acima de tudo, precisa agir rapidamente para estancar o sofrimento de tantas comunidades que, mesmo após séculos de exploração e desrespeito, ainda lutam desesperadamente pela sobrevivência de suas crianças.


Cadeiras voam! Tanto quanto nossos sonhos de um país melhor

Por Jânsen Leiros Jr.

"Uma pessoa pode acreditar de forma apaixonada que está certa, mas quando essa crença se torna intolerante à divergência, ela se transforma em tirania disfarçada de virtude." – John Stuart Mill

"Onde há boa ordem, há boa política, pois os governantes buscam o bem comum, não a destruição de seus adversários." – Nicolau Maquiavel

"A política, de fato, é a arte de garantir o bem comum, e não o confronto estéril entre facções que buscam apenas o poder pelo poder." – Aristóteles

"A inabilidade para discutir de maneira racional substitui o verdadeiro debate por brigas e provocações, e nenhuma sociedade pode florescer onde esse é o padrão." – Bertrand Russell

"Quando os políticos deixam de agir pelo bem da sociedade e se dedicam apenas a atacar seus rivais, a república se enfraquece, pois é da justiça, não da violência, que ela se sustenta." – Montesquieu

"A essência da política é a liberdade; onde o discurso se transforma em violência, a política perde seu valor e a sociedade se distancia da verdadeira democracia." – Hannah Arendt

Nota sobre os autores acima[1] 

              A realidade das campanhas eleitorais no Brasil é desoladora. Em vez de promoverem debates profundos que esclareçam o eleitor e apresentem visões de mundo e soluções concretas, o que vemos é um verdadeiro circo de provocações e baixarias. Acusações, mentiras e calúnias se tornaram armas para inflamar "torcidas organizadas", e isso expõe nossa fragilidade democrática. Décadas de suposta democracia não foram suficientes para evitar que nossas disputas políticas permanecessem infantis e vazias.

Considerando as frases acima e o ambiente vivido por seus diferentes autores, há que se concluir que a rivalidade política já promoveu, ao longo da história, circunstâncias, no mínimo, desconfortáveis. Mas o recente episódio envolvendo Datena e Pablo Marçal em debate promovido pela TV Cultura escancara o nível raso das discussões políticas no país. A violência, seja verbal ou física, transforma o debate eleitoral em um confronto estéril, onde o objetivo de construir um país melhor é completamente obliterado. Práticas como essas, longe de beneficiar a nação, apenas alimentam uma polarização perigosa, convertendo os eleitores em meros espectadores de um jogo sujo, sem qualquer entendimento real do que está em jogo.

A democracia se fragiliza quando estratégias de desqualificação e agressão substituem a apresentação de propostas sérias e viáveis. Isso reflete uma política pobre, que, incapaz de se livrar de expedientes rasteiros, prefere explorar o emocional, a raiva e a confusão. Como consequência, o eleitorado brasileiro é conduzido por uma onda de irracionalidade que perpetua o ciclo de promessas vazias e embates superficiais.

Se o Brasil deseja crescer como nação, é urgente romper com essa cultura política decadente, que apenas empobrece nossa democracia. Não podemos mais tolerar campanhas eleitorais que se assemelhem a arenas de gladiadores, enquanto questões fundamentais como saúde, educação, segurança e desenvolvimento econômico são deixadas de lado. O Brasil não precisa de candidatos que saibam brigar, mas de líderes que saibam governar com integridade, visão e compromisso real com o futuro.

                É insuportável ver a política nacional reduzida a um espetáculo grotesco, onde o bem-estar do país é deixado de lado. Até quando aceitaremos que a verdadeira democracia seja pisoteada por personagens que preferem a luta suja em vez da luta por soluções? Precisamos romper com essa engrenagem que empobrece o país e transforma eleitores em massa de manobra de um jogo sem propósito. O despertar é urgente, e ele exige uma mudança de mentalidade, não apenas de candidatos. Se continuarmos a aplaudir esse show de horrores, que futuro estaremos construindo?


[1] John Stuart Mill: Filósofo britânico do século XIX, defensor do utilitarismo e dos direitos individuais, especialmente da liberdade de expressão.

 

Nicolau Maquiavel: Pensador renascentista italiano, autor de O Príncipe, conhecido por suas teorias políticas pragmáticas sobre poder e governança.

 

Aristóteles: Filósofo grego clássico, discípulo de Platão, cujas ideias sobre ética e política influenciaram profundamente o pensamento ocidental.

 

Bertrand Russell: Filósofo e matemático britânico do século XX, famoso por seu trabalho em lógica, filosofia da linguagem e ativismo pela paz.

 

Montesquieu: Filósofo e jurista francês do Iluminismo, conhecido por sua teoria da separação dos poderes no governo.

 

Hannah Arendt: Filósofa política alemã do século XX, destacada por suas análises sobre o totalitarismo, a natureza do poder e a liberdade.