Por Jânsen Leiros Jr.
"A democracia é o processo que garante que não sejamos governados melhor do que merecemos." - Bertrand Russell
Com ironia, Russell sugere que o
estado do governo reflete a qualidade de participação e engajamento do povo, e,
implicitamente, a apatia ou indiferença dos eleitores pode resultar em líderes
que não os inspiram.
"Uma
pessoa não pode, sem degradar-se, consentir em ser governada por um poder que
considera ilegítimo." - Simone Weil
Weil destaca a questão da
legitimidade, sugerindo que, quando os eleitores veem o processo eleitoral ou
os candidatos como ilegítimos, eles acabam desiludidos e apáticos em relação à
política.
"O maior
castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados
pelos que se interessam." - José Ortega y Gasset
Ortega y Gasset sugere que a
apatia tem consequências graves, pois ela permite que indivíduos menos
capacitados ou pouco inspiradores ocupem cargos de poder.
"A apatia
dos cidadãos em uma democracia é uma porta aberta para a tirania." - Alexis de Tocqueville
Tocqueville alerta para os perigos
da apatia generalizada, que pode minar os alicerces da democracia e facilitar a
ascensão de regimes autoritários.
"A única
coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada."
- John
Stuart Mill
Mill destaca a passividade e a
inércia como condições que permitem a degradação moral e política de uma
sociedade, apontando indiretamente para a apatia dos eleitores como um fator
que perpetua maus líderes.
"A
política é um jogo cujo resultado depende daqueles que não jogam." - Pierre Bourdieu
Bourdieu critica o desinteresse dos cidadãos pela política, sugerindo que essa indiferença acaba determinando os resultados eleitorais, favorecendo os políticos que têm controle sobre os que participam.
Estamos
chegando ao fim de mais um período eleitoral. Talvez em algumas capitais ainda
haja um segundo turno, mas em grande parte do Brasil, a "festa" das
campanhas logo chegará ao fim. Para muitos, especialmente aqueles que encontram
uma fonte temporária de renda nesse período, como publicitários, coordenadores
de campanha, cabos eleitorais e pequenos empresários, o fim das eleições
significa o retorno à realidade, o fim do "bônus" sazonal, da renda
extra que as campanhas oferecem.
Para
nós, "pobres mortais" — aqueles que estão do lado de cá das telinhas,
sejam da TV ou do celular, que assistimos a esse espetáculo de promessas e
devaneios — o fim desse circo eleitoral é quase um alívio. Afinal, quem aguenta
mais jingles repetitivos, frases feitas e slogans vazios? São semanas em que
nossa rotina é interrompida por discursos que, na maioria das vezes, não falam
nada com nada, ou sequer nos conectam com algo relevante ou mesmo aproveitável.
O jogo político sempre nos empurra para uma falsa dicotomia. De um lado, os que dizem que tudo vai bem, que o progresso está em marcha, e que só falta um "pouquinho mais" para atingirmos a condição perfeita de funcionamento de toda a estrutura pública. Do outro lado, estão os que pintam o cenário como se estivéssemos à beira do apocalipse, afundados em um abismo cujo escape depende deles — e só por eles. E a nós, no meio dessa guerra de narrativas, resta o cansaço e uma certa frustração, como se fôssemos obrigados a escolher entre o ruim e o menos pior. Nesse cenário, a apatia se instala. Talvez os números de abstenções, votos nulos e votos em branco nas últimas cinco eleições municipais traduzam essa realidade.
Fonte: TSE; produção gráfica Data Link Web/Ipeges |
O
que me incomoda — e acredito que incomoda muitos de vocês igualmente — é que as
campanhas políticas são, em sua maioria, movimentos meramente oportunistas.
Muitos candidatos enxergam a política como uma máquina para se locupletar,
buscando acessar a estrutura pública para atender seus próprios interesses, ou
ainda interesses de grupos organizados em diversos setores da sociedade. A
retórica bem pensada é apenas uma fachada atraente. É claro que não devemos ser
injustos: existem aqueles que realmente querem algo melhor para suas cidades e
que têm compromisso genuíno com suas comunidades. Eu mesmo conheço alguns. Mas,
convenhamos, são poucos. Muito menos do que deveria. Identificá-los não é
tarefa fácil.
Nosso
papel, enquanto eleitores, por mais cansados e desiludidos que estejamos, é o
de saber separar o joio do trigo. Em meio a esse mar de candidatos, precisamos
ser cirúrgicos. Identificar aqueles que realmente se preocupam com o bem-estar
coletivo, com o futuro das nossas cidades e, entre eles, escolher quem mais se
aproxima dos nossos valores e da nossa visão de mundo.
A
grande lição, olhando para as frases que abrem este texto, é que o voto não é,
e nem pode ser, apenas uma obrigação civil. É, antes, uma enorme e necessária
responsabilidade. Não se trata de acertar na escolha do candidato perfeito —
porque ele, provavelmente, nem existe — mas de exercer esse direito com
consciência, com a motivação certa, pensando no que realmente importa para a
nossa cidade, para a nossa família, para o nosso cotidiano. Entendendo que a
pretensa isenção, nesse processo, não existe. Quer queiramos, quer não, até
mesmo nosso eventual não envolvimento interfere no resultado das urnas, e,
consequentemente, na realidade do lugar em que vivemos.
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