sábado, 28 de setembro de 2024

Fim das eleições. De volta ao presente possível e real

Por Jânsen Leiros Jr.

 "A democracia é o processo que garante que não sejamos governados melhor do que merecemos." - Bertrand Russell

Com ironia, Russell sugere que o estado do governo reflete a qualidade de participação e engajamento do povo, e, implicitamente, a apatia ou indiferença dos eleitores pode resultar em líderes que não os inspiram.

"Uma pessoa não pode, sem degradar-se, consentir em ser governada por um poder que considera ilegítimo." - Simone Weil

Weil destaca a questão da legitimidade, sugerindo que, quando os eleitores veem o processo eleitoral ou os candidatos como ilegítimos, eles acabam desiludidos e apáticos em relação à política.

"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam." - José Ortega y Gasset

Ortega y Gasset sugere que a apatia tem consequências graves, pois ela permite que indivíduos menos capacitados ou pouco inspiradores ocupem cargos de poder.

"A apatia dos cidadãos em uma democracia é uma porta aberta para a tirania." - Alexis de Tocqueville

Tocqueville alerta para os perigos da apatia generalizada, que pode minar os alicerces da democracia e facilitar a ascensão de regimes autoritários.

"A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada." - John Stuart Mill

Mill destaca a passividade e a inércia como condições que permitem a degradação moral e política de uma sociedade, apontando indiretamente para a apatia dos eleitores como um fator que perpetua maus líderes.

"A política é um jogo cujo resultado depende daqueles que não jogam." - Pierre Bourdieu

Bourdieu critica o desinteresse dos cidadãos pela política, sugerindo que essa indiferença acaba determinando os resultados eleitorais, favorecendo os políticos que têm controle sobre os que participam.

Estamos chegando ao fim de mais um período eleitoral. Talvez em algumas capitais ainda haja um segundo turno, mas em grande parte do Brasil, a "festa" das campanhas logo chegará ao fim. Para muitos, especialmente aqueles que encontram uma fonte temporária de renda nesse período, como publicitários, coordenadores de campanha, cabos eleitorais e pequenos empresários, o fim das eleições significa o retorno à realidade, o fim do "bônus" sazonal, da renda extra que as campanhas oferecem.

Para nós, "pobres mortais" — aqueles que estão do lado de cá das telinhas, sejam da TV ou do celular, que assistimos a esse espetáculo de promessas e devaneios — o fim desse circo eleitoral é quase um alívio. Afinal, quem aguenta mais jingles repetitivos, frases feitas e slogans vazios? São semanas em que nossa rotina é interrompida por discursos que, na maioria das vezes, não falam nada com nada, ou sequer nos conectam com algo relevante ou mesmo aproveitável.

O jogo político sempre nos empurra para uma falsa dicotomia. De um lado, os que dizem que tudo vai bem, que o progresso está em marcha, e que só falta um "pouquinho mais" para atingirmos a condição perfeita de funcionamento de toda a estrutura pública. Do outro lado, estão os que pintam o cenário como se estivéssemos à beira do apocalipse, afundados em um abismo cujo escape depende deles — e só por eles. E a nós, no meio dessa guerra de narrativas, resta o cansaço e uma certa frustração, como se fôssemos obrigados a escolher entre o ruim e o menos pior. Nesse cenário, a apatia se instala. Talvez os números de abstenções, votos nulos e votos em branco nas últimas cinco eleições municipais traduzam essa realidade. 

Fonte: TSE; produção gráfica Data Link Web/Ipeges

O que me incomoda — e acredito que incomoda muitos de vocês igualmente — é que as campanhas políticas são, em sua maioria, movimentos meramente oportunistas. Muitos candidatos enxergam a política como uma máquina para se locupletar, buscando acessar a estrutura pública para atender seus próprios interesses, ou ainda interesses de grupos organizados em diversos setores da sociedade. A retórica bem pensada é apenas uma fachada atraente. É claro que não devemos ser injustos: existem aqueles que realmente querem algo melhor para suas cidades e que têm compromisso genuíno com suas comunidades. Eu mesmo conheço alguns. Mas, convenhamos, são poucos. Muito menos do que deveria. Identificá-los não é tarefa fácil.

Nosso papel, enquanto eleitores, por mais cansados e desiludidos que estejamos, é o de saber separar o joio do trigo. Em meio a esse mar de candidatos, precisamos ser cirúrgicos. Identificar aqueles que realmente se preocupam com o bem-estar coletivo, com o futuro das nossas cidades e, entre eles, escolher quem mais se aproxima dos nossos valores e da nossa visão de mundo.

A grande lição, olhando para as frases que abrem este texto, é que o voto não é, e nem pode ser, apenas uma obrigação civil. É, antes, uma enorme e necessária responsabilidade. Não se trata de acertar na escolha do candidato perfeito — porque ele, provavelmente, nem existe — mas de exercer esse direito com consciência, com a motivação certa, pensando no que realmente importa para a nossa cidade, para a nossa família, para o nosso cotidiano. Entendendo que a pretensa isenção, nesse processo, não existe. Quer queiramos, quer não, até mesmo nosso eventual não envolvimento interfere no resultado das urnas, e, consequentemente, na realidade do lugar em que vivemos.

                Que, ao depositarmos nosso voto na urna, possamos fazê-lo com a plena certeza de que estamos cumprindo nosso dever cívico da maneira mais honesta possível, e com um olhar atento para o futuro de todos nós... de todos!

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