Por
Jânsen Leiros Jr.
Em tempos de polarização acirrada
e quase insana, é um risco imenso tentar caminhar por uma terceira via. O
compromisso com aquilo em que se acredita, contudo, exige coragem para tanto.
Não posso me furtar a isso.
Não há dúvida de que certos
movimentos do atual governo são bastante fora de um prumo minimamente coerente,
para não descer fundo em qualquer juízo de valor. Além disso, não há como negar
que existem circunstâncias obscuras em todos os envolvimentos revelados,
relativamente a Queiroz e seu comprometedor networking; para também não
falarmos sobre qualquer suposição ainda não comprovada ou investigações não
concluídas.
Soma-se a isso as contumazes
falas impulsivas e inadequadas de nosso presidente em circunstâncias
impróprias, que geram desconfortos e grande mal-estar com boa parte da
sociedade e opinião pública.
Ninguém, portanto, pode fechar os
olhos para tais fatos e acontecimentos, que veem fragilizando a posição do
atual governo, dentro e fora do país.
Por outro lado, porém, é muito
importante lembrarmos que, se em grande parte Bolsonaro foi eleito por cidadãos
que pensam igualmente a ele ou se aproximam da maioria de suas ideias, outro
grande contingente de eleitores de sua chapa, votou impulsionado pelo enfado e indignação com a
montanha de corrupção que grassa o país sabidamente há anos, muito antes dos
anos de governo do PT.
Sim, o PT, pasmem, não deu o
pontapé inicial na direção da corrupção. Também não foi nem de perto o maior
operador dela. Mas sem sombra de dúvidas foi no período de seu governo, que o
mecanismo de corrupção mais se alastrou e se aprofundou, uma vez que os dutos
de sangria de dinheiro público, tornaram-se operacionais em níveis jamais
vistos, espraiando-se pelos mais diversos seguimentos, instâncias e escalões do
poder público. Não sem larga e decisiva participação de partidos da base
aliada, e de empresas privadas de diversas categorias e porte. A corrupção no
Brasil é maior e mais que o PT. E mais endêmica que qualquer vírus.
Logo, pensar na polarização como
modelo de debate, e nas redes sociais como lugar de embate é, no mínimo,
desprezar circunstâncias e motivações que se impuseram no tempo e nas urnas em
2018, e que vão muito além de nossos impulsos apologéticos, ou gritos de guerra
de torcida organizada.
Temos hoje uma guerra política
travada à semelhança de uma batalha campal, onde mortos e feridos tombam de
lado a lado, sem nem mesmo entenderem, na maioria das vezes, o por que de
tantos chutes, caneladas e pontapés. Se muito, consideram-se apenas uniformes e
bandeiras; ideias e ideais seguem desconhecidos, ou apenas repetidos à
semelhança dos papagaios. Vamos descansar os bichinhos nomeados à exaustão...
A verdade é que o primeiro
princípio democrático, já que defender a democracia está tão na moda, é o livre
e inquestionável direito de escolha do candidato, respeito ao voto alheio, e a
submissão à decisão da maioria. E a maioria, gostemos, ou não, escolheu à época
Bolsonaro. Coisa que não foi aceita desde o resultado do pleito de 2018, nem
pelos que foram vencidos nas urnas, nem pelos que se entenderam prejudicados em
suas pretensões escusas e pouco republicanas.
Ora, era para estarmos, como
“gatos escaldados”, com “as barbas de molho”. Do mesmo jeito que forçaram
entendimento para chegarem a motivos legais que pudessem sustentar o
impeachment de Dilma Rousseff (sempre fui contra sua saída pelas mesmas razões
democráticas aludidas acima), agora fazem com Bolsonaro, perseguindo-se o mesmo
desfecho. Não cabe aqui qualquer discussão sobre motivações e circunstâncias.
Mas podemos fazer perguntas mais intrigantes. A quem ela atrapalhava? A quem
ele atrapalha?
Para toda grita exacerbada há um
motivo camuflado. A quem interessa a manutenção do “status quo” do
aparelhamento do Estado, da sangria de dinheiro público, e dos privilégios
àqueles que deveriam servir à nação, em vez de se servirem dela? A sanha pelo
dinheiro maldito é tão grande e sôfrega, que mal a União dotou Estados e
Municípios de verbas emergenciais, e logo fraudaram os gastos com instalações,
equipamentos e recursos, que se destinavam a salvar vidas nesta pandemia.
Quanta gente sofreu ou mesmo morreu na esteira de mais essa corrupção? Há
alguma ideologia em tais atos, ou apenas ganância visceral e desejo de avançar
sobre o erário?
De modo que precisamos entender.
Nossa luta política não é contra bandeiras. Sequer é contra ideias. Mas contra
interesses e conveniências que, acreditem, pouco ou quase nada se importam com
ideias, filosofias, princípios ou ideais. Ou alguém tem dúvida de que, caso
Bolsonaro governasse calado, tivesse sangue de barata para negociar o
fatiamento do Estado, e fosse liberal com as verbas públicas, ele estaria sendo
elogiado, ou minimamente mantido pelo casuísmo dos poderosos da nação?
E enquanto nós brigamos nos
porões dessa embarcação, cuidando que defendemos alguma coisa, nos ocupamos e
nos distraímos com traquitanas lúdicas, enquanto as lideranças de sempre
maquinam os próximos passos na direção de seus favorecimentos, em detrimento de
nossa dignidade social e subsistência nacional.
Direita e esquerda, pró e contra
Bolsonaro pertencem ao jogo democrático. E as duas posições podem e devem
coexistir e se respeitarem mutuamente, como elegantemente vejo amigos próximos
fazerem. Mas não podemos esquecer de que tudo pelo que lutamos e cremos, falo
politicamente, é apenas sombra de uma verdade inalcançável. E o que nos deixam
ver ou revelam através de portas entreabertas, é sempre e meramente com
suspeitas intenções.
No mais, sigamos em paz com
todos. Sem messianismos, malhação de Judas ou fogueiras inquisitórias. Porque a
vida é vapor de fumaça, e nossa pátria não é aqui. Nosso Rei habita em nós;
nosso general, Cristo.