segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Mas poderia ser diferente?


Por Jânsen Leiros Jr.

Que o assunto esfriou na mídia todos percebemos. O que nem todos perceberam, contudo, é que o tema segue na pauta do ministro Sérgio Moro, que segue defendendo a aplicação da prisão após condenação em segunda instância. E por quê? Seria apenas uma posição política e oportunista, tendo como alvo eventuais inimigos políticos?

É preciso lembrar, antes de mais nada, que a posição de Sérgio Moro já era favorável a esse entendimento, muito antes dele ser convidado a assumir a pasta da Justiça e Segurança Pública. Aliás essa também era o entendimento do próprio STF, até que nova decisão inverteu a regra do jogo, na segunda metade de 2019, promovendo a libertação de condenados em segunda instância. O novo entendimento permitiu a libertação do ex-presidente Lula e de José Dirceu, entre outros.

A insistência de Moro não se deve, senão, a importância crucial dessa possibilidade no combate ao crime organizado, sobretudo aos engenhosos crimes de colarinho branco, uma vez que são normalmente protagonizados por aqueles que, mantidos em liberdade, seguem protelando o andamento de seus processos, trabalhando claramente para se beneficiarem da prescrição do crime. Sem contar que, com o tempo e o esfriamento do assunto na mídia, a indignação popular arrefece e o assunto cai no esquecimento, tornando mais fácil o abrandamento da aplicação da justiça; um fenômeno bem brasileiro, diga-se de passagem.

Ora, alguém poderia argumentar: que mal há nisso? Ou ainda: por que essa sanha em encarcerar criminoso? Na verdade, nada contra o criminoso em si, mas tudo contra o crime e a favor da justiça. Não é muito difícil entender que, a cada impunidade passada na cara da sociedade, a sensação de que o crime compensa aumenta, e consolidamos o ambiente de barbárie ética promovido pela injustiça.

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