terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Tudo pode ser tudo quando se quer que seja


 Por Jânsen Leiros Jr.

Existem algumas máximas eternizadas no processo de construção de uma narrativa, que se utilizam de um fato concreto, mas interpretando-o conforme a conveniência ou necessidade da narrativa a se construir. Nesse processo, a realidade apresentada atenderá sempre ao interesse de quem engendra tal narrativa, criando sua verdade particular e por necessidade de convencimento, incontestável.

Essas artimanhas claramente se demonstram eficazes, quando o público alvo dessas falácias, atualmente chamadas de Fake News, não se aprofunda nos fatos em si, e nem atenta para os interesses escondidos por trás de cada oportuna distorção, quase sempre eivada de uma máscara de pretensa legitimidade; atualmente muito se tem utilizado da indignação.

Há em nosso país, um exército de ingênuos pré-ofendidos, à espera de um motivo que lhes legitime o efeito latente. “Me dê motivo...”, cantava Tim Maia. E isso fica muito para lá de evidente nos dois casos cujas reportagens seguem abaixo.

No primeiro, a menção de um fato ganha o rótulo de “ataque”. O depoente presta depoimento e faz alusão a uma circunstância... “ataque”. Mas chamar de claque os brasileiros que ficam na frente do Palácio da Alvorada esperando para falar com o presidente, pode; não é ataque. Eles chamam de livre exercício do jornalismo investigativo. Está mais para o sórdido ofício do jornalismo especulativo e oportunista.

- Ah, mas o presidente Bolsonaro tem pavio curto e fala demais! É verdade que ele não é de medir muito as palavras e que distribui “caneladas”, e que suas declarações são provocativas. Mas isso jamais foi surpresa para quem quer que seja. Ou será que alguém pode se dizer decepcionado com seu estilo e personalidade?

Mas e o caso do juiz Marcelo Bretas, que sabidamente evangélico compareceu em sua folga, a um evento gospel? Querer colar em sua presença no evento, um rótulo de interesse político com contundente influência do processo eleitoral de 2020, é considerar a população inteira incapaz de perceber o que é espontâneo ou oportunismo. Pretender impedir o livre trânsito e a presença do cidadão Marcelo Bretas num evento evangélico, um velado “ataque” ao seu livre direito a culto e exercício de fé?

Mas no final de tudo, nada do que foi escrito até aqui faz qualquer diferença para quem quer que seja. Porque a experiência nos tem demonstrado que a maioria esmagadora de pessoas acredita naquilo que bem entende e convém. Os contras creem na ofensa. Os favoráveis acreditam piamente na inocência. Ninguém mudou ou mudará de opinião a partir desse texto. Porque no fundo, até mesmo ele, o texto, parte de uma crença pré-existente de presumida articulação e de uma simpatia aos envolvidos. Caso não fosse, talvez estivesse engrossando o coro dos ofendidos.

A boa notícia é que o tempo e a verdade que ele revela julgará a todos, arrancando a máscara quer dos ingênuos ofendidos, ou dos inocentes ofensores.

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