Por Jânsen Leiros Jr.
Zygmunt Bauman – “Na modernidade líquida, a cultura perde sua função crítica e
educativa, tornando-se um instrumento de distração e entretenimento.”
📌 (Relacionada à superficialidade promovida pela cultura do
efêmero e do entretenimento vazio.)
Hannah Arendt – “O maior mal do mundo é o mal cometido por ninguém, ou seja,
por seres humanos que se recusam a pensar, a julgar e a se posicionar.”
📌 (Relacionada à passividade intelectual e à aceitação da
mediocridade como norma.)
Umberto Eco – “As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis que antes
falavam apenas no bar, sem prejudicar a coletividade. Agora eles têm o mesmo
direito de fala que um Prêmio Nobel.”
📌 (Relacionada à ascensão da opinião rasa e do emburrecimento
coletivo via digital.)
José Ortega y Gasset – “O homem-massa não deseja a excelência, mas sim a igualdade
na mediocridade.”
📌 (Relacionada ao nivelamento por baixo e à aversão ao esforço
e à profundidade.)
Theodore Dalrymple – “Quando a cultura e a educação falham, a barbárie não tarda a
se instalar.”
📌 (Relacionada ao empobrecimento
intelectual e às consequências de uma sociedade que rejeita a reflexão
profunda.)
A Superficialidade Triunfante: O Paradoxo da Era da Informação
Vivemos em uma era paradoxal. Nunca tivemos tanto acesso à informação,
e, ao mesmo tempo, jamais fomos tão reféns da superficialidade. A era digital,
com suas redes sociais e consumo instantâneo, nos lançou em um cenário onde o
que é raso se sobrepõe ao que é profundo, e o que é efêmero se impõe ao que é
duradouro. A excelência cede espaço ao mediano, e a busca pelo aprimoramento dá
lugar ao comodismo da aceitação fácil. Essa inversão de valores configura o que
podemos chamar de ditadura da mediocridade[1]: um
regime simbólico que nivela por baixo, desvaloriza o conhecimento aprofundado e
relega ao esquecimento aqueles que ousam buscar a excelência.
Neste cenário, a diligência, o esmero e a reflexão são vistos como
dispensáveis ou até indesejáveis, enquanto a opinião rasa, o entretenimento
fugaz e as soluções imediatistas ganham cada vez mais força. Mas quais são as
causas desse fenômeno? Como ele se manifesta em diferentes esferas da
sociedade? Que consequências trazem para o crescimento e a sustentabilidade de
uma nação. E, mais importante! É possível resistir à mediocrização e reverter
esse quadro?
Os Alicerces da Mediocridade: Como a Superficialidade se Impõe
A mediocridade não se instala por acaso; ela encontra solo fértil em uma
sociedade que valoriza o caminho mais fácil e o reconhecimento rápido. A
cultura da instantaneidade, amplificada pelas redes sociais e pelos meios
digitais, promove uma busca incessante por curtidas, engajamento e
visibilidade, muitas vezes à custa da verdade, da profundidade e do mérito
real. O esforço prolongado e a dedicação meticulosa são preteridos por
resultados superficiais e de curto prazo.
Essa ditadura se impõe em várias frentes. Na educação, por exemplo, a
obtenção de diplomas tornou-se um fim em si mesma, e não um meio para o
verdadeiro aprendizado. O pensamento crítico é muitas vezes substituído por
respostas decoradas e análises simplistas. No ambiente de trabalho, a produtividade
mensurável e imediata se sobrepõe à criatividade e ao planejamento estratégico,
enquanto na política, discursos populistas e soluções fáceis suplantam debates
sérios e políticas sustentáveis.
A cultura também é vítima dessa mediocridade. O valor do conhecimento,
da arte e da reflexão filosófica é frequentemente minimizado em favor do
entretenimento descartável. O pensamento profundo dá lugar ao meme, e a
literatura densa cede espaço para conteúdos vazios que prometem grandes
respostas com o mínimo de esforço intelectual. Essa simplificação do complexo
desestimula o questionamento e favorece a manipulação por parte daqueles que
lucram com a alienação coletiva.
As consequências desse processo são devastadoras. A médio e a longo
prazos, sociedades que se acomodam à mediocridade perdem sua capacidade de
inovação e progresso. Quando a excelência deixa de ser incentivada, o
pensamento crítico se atrofia, o debate público se empobrece e as soluções para
desafios complexos se tornam cada vez mais frágeis e ineficazes.
Resistência e Superação: O Caminho para a Excelência
Diante desse panorama, a resistência à ditadura da mediocridade
exige um esforço coletivo e contínuo. Não se trata apenas de apontar falhas e
lamentar a superficialidade predominante, mas de criar alternativas concretas
que resgatem o valor da excelência, do esforço e do pensamento aprofundado. A
educação precisa voltar a estimular a curiosidade e o questionamento. A cultura
deve ser incentivada a desafiar, provocar e transformar. O trabalho deve ser
visto não apenas como um meio de produção, mas como um espaço de inovação e
crescimento.
Esta reflexão é apenas o início de uma série que buscará aprofundar os
aspectos dessa realidade e explorar possíveis caminhos para revertermos essa
tendência. A mediocridade não é um destino inevitável, mas sim uma ameaça que
exige enfrentamento. A escolha entre nos conformarmos ou resistirmos cabe a
nós. A pergunta que fica é: qual será o nosso papel nesta batalha?
Aprofundaremos um pouco mais o debate.
[1]
Nota do autor: A expressão "ditadura da mediocridade" já foi
utilizada em diferentes contextos para descrever fenômenos sociais e culturais
que promovem a superficialidade em detrimento da excelência. Um exemplo notável
desse conceito pode ser encontrado no artigo de Plínio Corrêa de Oliveira,
publicado na Folha de S. Paulo em 20 de junho de 1981, intitulado
"Medíocres, mediocratas etc.", onde o autor discute como indivíduos
medíocres podem impor uma "ditadura da mediocridade" sobre aqueles
com horizontes mais amplos, especialmente quando monopolizam os meios de
comunicação social. Também, o cardeal Gerhard Müller utilizou a mesma expressão
ao criticar o Caminho Sinodal Alemão, apontando a ameaça à unidade da Igreja
quando novas doutrinas ou estruturas são introduzidas sem um consenso
universal. No entanto, neste texto, utilizo o termo com um enfoque particular,
analisando como a cultura da instantaneidade e do descartável compromete o
pensamento crítico, a criatividade e o progresso. Minha intenção é aprofundar
essa reflexão e propor caminhos para a resistência e superação desse cenário,
buscando, assim, preservar o espaço para a excelência e o aprofundamento
genuíno em diversos campos.
Excelente reflexao. Muitíssimo necessária. Que seja profícua.
ResponderExcluirFernando, querido. Obrigado pelo incentivo. Pode acompanhar que já já nos aprofundaremos...
ExcluirTexto coeso, conciso e verdadeiro! Parabéns ao autor!!!
ResponderExcluirObrigado, Sônia. Uma alegria receber sua crítica e incentivo
ExcluirFenômeno muito parecido com algumas opiniões de pseudoconhecedores sobre a língua portuguesa.
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