quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Déficit das Estatais - Gestão ou Estratégia?

Por Jânsen Leiros Jr.

        Nos últimos anos, o desempenho financeiro das empresas estatais federais tem sido um termômetro importante para avaliar a condução da política econômica e a solidez da administração pública. Os números são claros: em 2022, essas empresas registraram um lucro recorde de R$ 209,7 bilhões até o terceiro trimestre; já em 2024, dados preliminares indicam um déficit de R$ 6,7 bilhões, o primeiro prejuízo desde 2015. O que explica essa virada tão brusca? E, mais importante, o que isso significa para a economia brasileira?


Uma trajetória de altos e baixos

Entre 2018 e 2021, o lucro das estatais seguiu uma curva ascendente, com exceção de 2020, quando os efeitos da pandemia de COVID-19 impactaram negativamente os resultados. A recuperação veio forte em 2021, impulsionada pelo aumento no preço das commodities e pelo reaquecimento da economia global. No entanto, a partir de 2023, a trajetória começou a mudar.

A Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES, que historicamente foram os principais responsáveis pelos lucros das estatais, tiveram seus modelos de gestão ajustados. Em especial, a mudança na política de preços da Petrobras e as novas diretrizes para os bancos públicos impactaram diretamente seus resultados.

O déficit de 2024: crise ou escolha?

A queda nos lucros pode ser atribuída a uma série de fatores, mas dois se destacam: a gestão interna das empresas e o papel do governo federal no direcionamento de seus recursos.

  1. Mudança de estratégia e gestão
    • A revisão das políticas de preços e atuação das estatais, especialmente no setor energético e financeiro, pode ter reduzido a rentabilidade das empresas.
    • A priorização de políticas sociais e subsídios sobre o lucro pode ter comprometido a eficiência operacional.
  2. Aumento dos repasses ao governo
    • Em 2024, as estatais transferiram R$ 72 bilhões ao governo federal em forma de dividendos, um aumento de 46% em relação a 2023.
    • Com um déficit fiscal expressivo, o governo pode estar utilizando os lucros das estatais para cobrir gastos públicos, em detrimento dos investimentos e da sustentabilidade financeira dessas empresas.
  3. Investimentos elevados[1]
    • Houve um aumento de 44,1% nos investimentos das estatais em 2024, totalizando R$ 96,18 bilhões.
    • Embora o investimento seja positivo para o crescimento de longo prazo, ele pode ter pressionado o caixa das empresas no curto prazo, contribuindo para o déficit registrado.

Reflexos no mercado e para os investidores

As ações de empresas como Petrobras e Banco do Brasil são altamente sensíveis às decisões governamentais. Quando o mercado percebe um risco maior de ingerência política e instabilidade na gestão, o reflexo imediato é uma queda na confiança dos investidores, com consequente desvalorização dos papéis. No longo prazo, isso pode afetar a capacidade de captação de recursos e, eventualmente, os preços dos serviços prestados à população.

O que esperar?

Seja por mudanças estratégicas, pela necessidade de cobrir gastos do governo ou pela priorização de investimentos em detrimento do lucro imediato, o resultado de 2024 exige explicações mais claras do poder público. Afinal, a estabilidade das estatais é um pilar fundamental para a economia do país. Transparência, previsibilidade e uma gestão técnica são elementos essenciais para reverter essa tendência e garantir que essas empresas continuem a cumprir seu papel sem comprometer sua sustentabilidade financeira.


[1] Em 2024, as empresas estatais federais aumentaram seus investimentos em 44,1% em relação a 2023, totalizando R$ 96,18 bilhões. Esse crescimento foi liderado pelo grupo Petrobras, que destinou R$ 85,5 bilhões a projetos estratégicos, o dobro do valor investido em 2022.

Detalhamento dos Investimentos:

·         Petrobras: A maior parte dos investimentos da Petrobras foi direcionada para a área de Exploração e Produção (E&P), com foco no desenvolvimento de novos campos de petróleo e gás, especialmente no pré-sal. Além disso, a empresa destinou entre 6% e 15% do CAPEX total para projetos de baixo carbono, alinhando-se às práticas de governança e sustentabilidade financeira de longo prazo.

·         Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal: Embora os valores exatos não tenham sido detalhados nas fontes disponíveis, esses bancos públicos provavelmente direcionaram seus investimentos para a expansão de serviços digitais, melhoria da infraestrutura tecnológica e ampliação da oferta de crédito para setores estratégicos da economia.

·         ENBPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional): Os investimentos da ENBPar foram voltados para a manutenção e expansão da infraestrutura de energia nuclear e projetos binacionais, garantindo a segurança energética e o desenvolvimento sustentável.

Para uma compreensão mais detalhada sobre a natureza específica desses investimentos e assegurar que os recursos foram aplicados de maneira estratégica e transparente, recomenda-se a consulta aos relatórios anuais e demonstrativos financeiros de cada empresa. Esses documentos estão disponíveis nos sites oficiais das respectivas estatais e no portal do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.

 

 

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